O cinema de Ingmar Bergman em perspectiva

Foto: Reprodução

Mais Lidos

  • Niceia 1.700 anos: um desafio. Artigo de Eduardo Hoornaert

    LER MAIS
  • A rocha que sangra: Francisco, a recusa à OTAN e a geopolítica da fragilidade (2013–2025). Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • Congresso arma pior retrocesso ambiental da história logo após COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

28 Agosto 2021

 

Dono de uma das filmografias mais invejadas por seus pares e reverenciadas pelos amantes de cinema, o sueco Ingmar Bergman não foi um cineasta convencional. Dotado de um olhar capaz de capturar e mostrar a alma humana, lançou obras, nos seus mais de 60 anos de carreira, que são debatidas e discutidas até hoje não só pelo seu primor cinematográfico, mas pelos questionamentos existenciais presentes em cada filme do diretor.

A reportagem é de André Cardoso, estagiário e aluno do curso de Jornalismo da Unisinos.

Debatidos durante o Filmes em Perspectiva, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira e o Canal Paz e Bem, Morangos Silvestres (1957) e Gritos e Sussurros (1972) são dois exemplos dessa união entre primor e existencialismo. O primeiro conta a história de um professor de medicina que revisita vários momentos marcantes de seu passado durante uma viagem de carro até sua antiga universidade, onde ele irá receber uma honraria. Já o segundo mostra a relação entre três irmãs e a empregada da família enquanto uma das irmãs está doente.

Livestream realizada pelo canal no Youtube do Instituto Humanitas Unisinos - IHU sobre o filme Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman (1972) disponível clicando aqui.

Livestream realizada pelo canal no Youtube do Instituto Humanitas Unisinos - IHU sobre o filme Morangos silvestres, de Ingmar Bergman (1957) disponível clicando aqui

Há algo em comum entre as duas obras - e as demais lançadas por Bergman - e ela é a dúvida existencial. “O ser humano retratado na filmografia de Bergman é aquele esmagado pela dúvida a respeito do sentido da existência. Tal dúvida, como vimos sustentando, relaciona-se primordialmente ao silêncio de Deus”, afirma a mestranda em Ciências da Religião pela PUC-SP, Andreia Vasconcellos, em entrevista concedida à Revista IHU On-Line N° 412, intitulada Cinema e transcendência. Um debate.

Andreia continua ao afirmar que a ideia do silêncio de Deus é algo essencial para compreender melhor a obra e os pensamentos de Bergman. “Configura-se como a centralidade da crise que arremessa o ser humano em um abismo moral que já não possui fundação alguma. Deus como uma instância inquestionável e inabalável foi profundamente tensionado na obra de Bergman. Com isso não queremos dizer que não haja personagens que acreditam em Deus.”

"Afirmamos que a fé em Deus já não reza de maneira orgânica, isto é, sem suscitar profunda angústia e dúvida naqueles que continuam a acreditar na divindade”, continua a mestranda. Nesse sentido, é possível situar Bergman na mesma tradição de “Nietzsche e Dostoiévski, para quem a morte ou a inexistência da divindade arremessa o ser humano em um turbilhão de relativismo moral em meio ao qual tudo o que é sólido desmancha-se no ar.”

Em seu filme de 1957, O Sétimo Selo, essa tensão entre Bergman e Deus é mais evidente, à medida que o filme “nos apresenta uma genealogia da crise da fé, isto é, o filme em questão procura recuperar o momento histórico a partir do qual Deus já não podia despontar como um sistema inquestionável que continha as respostas para todas e cada uma de nossas dúvidas”, afirma Andreia.

Trecho do filme O Sétimo Selo pode ser assistido aqui.

Mas não só de momentos de angústia, de dúvida existencial e de sofrimento é feita a carreira de Bergman. “A grande sabedoria do Bergman é colocar instantes de felicidade em meio à tanta dor. Essa área de escape frente ao brutal da vida, ao brutal da morte, do relógio que não passa”, afirma o professor e teólogo Faustino Teixeira no debate sobre o filme Gritos e Sussurros, promovido no projeto Filmes em Perspectiva. Para Faustino, esse momento, no filme de 1972, é justamente o filme, onde as irmãs estão passeando em um ambiente aberto. 

Trecho do filme Gritos e Sussurros pode ser assistido aqui.

O projeto Filmes em Perspectiva, além de ter discutido as obras de Bergman, promove o debate de questões contemporâneas a partir de um olhar voltado para a arte e a mística. A cada encontro, um filme diferente, de um autor consagrado da sétima arte, é escolhido para incitar a discussão. Ao total, já ocorreram 11 encontros e todos estão disponíveis no canal no Youtube do Instituto Humanitas Unisinos (acesse aqui). O próximo, marcado para o dia 6 de outubro, discutirá o último filme do diretor italiano Sérgio Leone, Era uma Vez na América. Mais informações sobre o evento podem ser conferidas aqui.

 

Leia mais