Guatemala. Companhia de Jesus se manifesta diante da delicada situação nacional

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04 Agosto 2021

 

A Companhia de Jesus na Guatemala, pertencente à Província Centro-Americana, pronunciou-se “diante da preocupante situação nacional que vem ocorrendo nos últimos meses”.

A carta é publicada por Jesuítas da América Latina, 30-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Eis a carta.

 

Companhia de Jesus na Guatemala
Província Centro-Americana da Companhia de Jesus.

Viver com dignidade não deve ser uma utopia, nem um privilégio.

 

As diferentes obras e redes apostólicas da Companhia de Jesus na Guatemala, reunidas em Assembleia Nacional para celebrar a festa de seu patrono, Santo Inácio de Loyola, queremos nos pronunciar diante da preocupante situação nacional que vem ocorrendo nos últimos meses.

Percebemos com preocupação a deterioração da vida da maioria das e dos guatemaltecos, que se produz não apenas pela crise da pandemia, mas por uma crise estrutural que estamos sofrendo há muito tempo e que se agudizou nestes últimos anos.

Uma das preferências apostólicas universais da Companhia de Jesus é caminhar juntos aos empobrecidos, os descartados, os vulneráveis em sua dignidade em uma missão de reconciliação e justiça. Preocupa-nos a deterioração e desinteresse das autoridades do governo e alguns setores privilegiados do país, pelo combate à corrupção e à impunidade. Os acontecimentos recentes assim o evidenciam.

A destituição repentina do advogado Juan Francisco Sandoval, que se desempenhou com exemplar valentia, ética e profissionalismo como titular da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI) do Ministério Público (MP), é a última manifestação da cooptação do Sistema de Justiça em nosso país.

Queremos manifestar nossa solidariedade com o procurador, pois seu exílio forçado nos recorda da bem-aventurança dos “perseguidos por causa da justiça”.

Diversos especialistas em direito manifestaram sua desaprovação do modo em que se procedeu e se manifestou a possível ilegalidade. A Conferência Episcopal da Guatemala (CEG) também manifestou sua preocupação por este fato que significa um retrocesso na busca da verdade e da transparência, e abre o caminho para a corrupção e as alianças criminosas.

Consideramos que a Procuradora-Geral e Chefe do Ministério Público tenha tomado uma decisão arbitrária que favorece os interesses dos grupos de poder que corromperam e cooptaram todas as instituições do Estado e principalmente o setor de justiça.

O descontentamento popular cresce dia a dia frente a um governo indolente às necessidades dos empobrecidos, assim como a uma ineficiente gestão da pandemia que já cobrou a morte de mais de 10 mil pessoas, enquanto um escuro contrato de vacinas envolve altos funcionários públicos, incluindo o próprio Presidente da República.

Toda reivindicação de justiça e demanda de melhoras no sistema judicial, o organismo legislativo e o próprio organismo executivo desqualificado e criminalizado pelas autoridades e seus netcenters.

Reavivou-se um discurso de ódio e confronto, cuja única intenção é dividir e confundir a população, tal como se sucedeu durante o governo anterior. Assim, não se constrói um país que pretende unidade, ainda que em comunicados e conferências de imprensa se chame a esta unidade.

Crentes em uma missão de justiça e reconciliação, convidamos a todos os setores do país a dialogar e se unir em uma causa comum: a construção de um país sem corrupção, em que reinem a verdade e a justiça. Somente desde aí é possível a reconciliação de uma Guatemala que leva duzentos anos querendo ser livre e soberana.

Movidos pelo Evangelho e coerentes com nossa missão apostólica, fazemos um chamado a toda a sociedade para manifestar sua inconformidade de forma pacífica, para que o governo e os setores dos poderes restabeleçam o destino do país em função das necessidades da maioria da população. Não vamos pelo bom caminho e cada vez mais nos distanciamos do bem comum.

Viver com dignidade na Guatemala não deve ser uma utopia, nem privilégio. É o direito de todos e todas. Deve se encerrar o enfraquecimento da luta contra a corrupção e a impunidade, que enviou ao exílio profissionais valentes e probos. Devemos nos unir e construir sem descanso um Estado de Direito que possibilite um país justo, equitativo e seguro no qual caibamos todos.

Conselho Nacional Apostólico
Guatemala da Assunção, 30 de julho de 2021

 

Mapa da Guatemala (Foto: Google Maps | Reprodução)

 

Mapa da América Central (Foto: Google Maps | Reprodução)

 

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