17 Julho 2021
Para dar lugar a um “jardim bíblico”, 100 casas do bairro de Silwan, em Jerusalém Oriental, estão ameaçadas de demolição, depois que forças israelenses invadiram a área no dia 29 de junho. Famílias estão frente a uma situação de deslocamento forçado. Autoridades israelenses já aprovavam 13 ordens de demolição de casas no distrito de al-Bustan.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Grupos de direitos humanos, informou o portal Memo, denunciaram a campanha de limpeza étnica e colonização de Israel contra os nativos e residentes palestinos de Jerusalém Oriental. O Programa Ecumênico de Acompanhamento na Palestina e em Israel (Peapi) do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) está dando apoio virtual, através da Iniciativa Jerusalém Oriental, às famílias do bairro de Silwan.
A coordenadora residente das Nações Unidas para o Território Ocupado da Palestina, Lynne Elizabeth Hastings, visitou a comunidade Humsa – Al Baquai’a, onde casas e pertences das famílias que lá moravam foram demolidas ou confiscadas pelas autoridades israelenses. “Tendas, alimentos, tanques de água e forragem para animais foram todos confiscados, apesar dos repetidos apelos da comunidade internacional para que essas ações parem e se respeite o direito internacional”, declarou Hastings para o portal Memo.
O diretor da Comissão das Igrejas para Assuntos Internacionais (CIAI) do Conselho Mundial de Igrejas, Peter Prove, revelou que Israel expropriou 35% da Jerusalém Oriental para assentamentos. Já os 330 mil palestinos que vivem na região sofrem com a falta de infraestrutura e de moradias em decorrência das restrições das políticas do governo israelense para a área. Apenas 13% de Jerusalém Oriental conta com um plano de ordenação, um requisito que autoriza palestinos a erigirem moradias. O detalhe é que a área está quase que completamente ocupada.
Prove denunciou a natureza discriminatória de leis israelenses. Após a anexação de Jerusalém Oriental por parte de Israel, em 1967, foi promulgada lei que dá direito aos judeus reclamarem a recuperação de suas propriedades ocupadas por famílias palestinas na região. Mas os palestinos não podem requerer o mesmo quanto às propriedades que perderam quando foram forçados a abandonar a parte ocidental da cidade.
“Lamentavelmente, as associações de colonos estão utilizando essas leis discriminatórias com o claro propósito de expulsar os palestinos e substitui-los por colonos”, afirmou Prove em entrevista para o serviço de imprensa do CMI.
É preciso conhecer a história, reforçou Prove. As famílias que agora podem ser expulsas já perderam seus lares pelo menos em uma outra ocasião. Muitas pessoas foram forçadas a mudar durante a guerra árabe-israelense de 1948. “O governo do então estabelecido Estado de Israel deu a famílias judias que haviam fugido de Sheij Yarrah propriedades alternativas – que antes pertenciam a palestinos.
Jordânia e as Nações Unidas assumiram a responsabilidade de realocar os palestinos deslocados. Vinte e oito famílias de refugiados palestinos foram reassentados em 1956 em Sheij Yarrah, na Jerusalém Oriental. E agora essas famílias e seus descendentes enfrentam de novo o deslocamento forçado. Enquanto as leis israelenses habilitam os judeus a reivindicarem a posse dessas moradias, apesar de não terem qualquer vínculo histórico com tal área, impedem que palestinos apresentem qualquer demanda similar para recuperar suas antigas propriedades em Israel”, denunciou Prove.
O Peapi vem acompanhando as comunidades de Jerusalém Oriental há mais de uma década. No momento, em função da pandemia, esse apoio só é possível virtualmente. Mas durante muitos anos, o Peapi esteve presente em Sheij Yarrah e outras comunidade, “reunindo-se com as famílias ameaçadas de despejo e deslocamento forçado”, acompanhando suas reivindicações, seus protestos pacíficos e prestando-lhes apoio jurídico.
Indagado o que é possível fazer nessa situação, Prove pediu às pessoas que se dirigem a Deus em prece para que orem por essas famílias. Também indicou a importância de conhecer as circunstâncias históricas, compreender quão injusta é essa situação, e denunciar as leis discriminatórias que o Estado de Israel aplica a palestinos de Jerusalém Oriental.
Prove convida igrejas e pessoas de boa vontade a se unirem ao Peapi com o propósito de encaminhar pedido ao governo de Israel para que pare de imediato com os despejos em Sheij Yarrah e outras comunidades de Jerusalém Oriental, apontando para o pleno respeito das obrigações de Israel em relação ao direito internacional, quando destrói propriedades e provoca o deslocamento forçado, discrimina por motivos de nacionalidade, raça ou etnia, e muda leis e costumes no território ocupado.
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Famílias palestinas de Jerusalém Oriental perdem casas e estão sob a ameaça de deslocamento forçado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU