20 Abril 2021
O que é imediatamente compreendido pela leitura dos textos da coletiva de imprensa e pelo programa é uma evidente vontade de fundar as raízes teológicas do "sacerdócio" (mas por que ainda usar este substantivo pré-conciliar?) e, portanto, a diferença entre o sacerdócio universal do batizado e aquele ministerial. Essas raízes são afirmadas, mas não demonstradas. Parece que se sustentam apenas em um princípio de autoridade. Dois pontos são afirmados para apoiar esta teologia, a sinodalidade e uma eclesiologia trinitária. Não se entende o "uso" da sinodalidade.
O comentário é publicado por Noi Siamo Chiesa, 19-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segunda-feira 12, no Vaticano teve uma coletiva de imprensa para apresentar as intenções e o programa de um mais que ambicioso Simposium a realizar-se de 17 a 19 de fevereiro de 2022 sobre "Por uma teologia fundamental do sacerdócio". É desde sempre um argumento de primeira grandeza porque na vida da Igreja é muito importante a centralidade do papel do padre, mas também porque a realidade de hoje, eclesial, social e cultural, já nos obrigou a pensar sobre o que antes era dado como certo (celibato, autoridade do padre, sua distinção/separação dos fiéis batizados e assim por diante). Foi o movimento que se inspira no Concílio que colocou os problemas e os discutiu, a ponto de fazer hipóteses que podem questionar a própria maneira como se evangeliza. E a questão do celibato é apenas um dos problemas.
O que é imediatamente compreendido pela leitura dos textos da coletiva de imprensa e pelo programa é uma evidente vontade de fundar as raízes teológicas do "sacerdócio" (mas por que ainda usar este substantivo pré-conciliar?) e, portanto, a diferença entre o sacerdócio universal do batizado e aquele ministerial. Essas raízes são afirmadas, mas não demonstradas. Parece que se sustentam apenas em um princípio de autoridade. Dois pontos são afirmados para apoiar esta teologia, a sinodalidade e uma eclesiologia trinitária. Não se entende o "uso" da sinodalidade.
Os recentes sínodos (sobre a família, sobre os jovens, sobre a Amazônia), no máximo, falaram do "sacerdócio" fora da indagação teológica e dentro de uma perspectiva totalmente pastoral. O Simposium se apresenta como uma grande conferência sem uma presença séria e programada de baixo das opiniões da base católica que possa relembrar de alguma forma o conceito de sinodalidade. Totalmente incompreensível é também a referência à "dinâmica trinitária" (continuamente referida) como elemento caracterizador da figura do sacerdote. Talvez se queira, de forma desajeitada, encontrar elementos para “sacralizá-la” com o resultado evidentemente desejado, de “imobilizá-lo” ao que ela foi após o Concílio de Trento? Talvez se pense em poder ativar desse modo (que nos parece simplório) um “movimento vocacional” do qual se fala na apresentação do Simposium?
Como se pode argumentar que “o ministério dos padres é essencialmente místico, isto é, está inscrito no Mistério”? Que o celibato é um sinal profético porque são necessários profetas e não funcionários? Haveria apenas funcionários no universo cristão externo à Igreja Católica? Os textos também têm palavras menos exigentes, menciona-se o clericalismo de que fala o Papa Francisco, mas a substância é aquela que, de resto, é bem indicada pelo título do encontro. O padre sem comunidade de fiéis?
Dito isto, o que nos deixa assombrados e confirma o ânimo dos promotores é a total ausência em todo o projeto de uma reflexão sobre o Povo de Deus, sobre o “rebanho” (Francisco). O padre serve para celebrar a Eucaristia e para confessar. O resto não existe. É uma concepção espiritualista que implica uma espécie de rejeição da materialidade da vida. É como se o padre vivesse fora da história, da vivência, sobretudo de si mesmo e também dos fiéis que vivem a fé, com dificuldade ou com alegria, dos homens em busca e dos ditos “distantes”. São muitas as situações que tantas pessoas presentes na Igreja tentam apresentar. Não só às relativas ao celibato, aos abusos sexuais ("o combate aos abusos só pode ser feito com clareza teológica", o que significa?) e aos viri probati mas também a muitas outras.
Por exemplo, aquelas relativas à diminuição do número de padres e ao seu envelhecimento, à sua formação, ao seu hábito de gerir tudo no funcionamento da Igreja com excesso de autoridade, à sua solidão, à própria gestão dos bens da Igreja, até aos aspectos positivos por sua participação na vida do próximo nos momentos difíceis e naqueles serenos e em praticar assim a caridade. E depois fica a questão central que parece pouco interessar ao Simposium, aquela de reduzir a distância dos chamados "leigos", de considerar as "leigas" como os "leigos" organizando de tal forma um salto de qualidade na Igreja em relação às diferenças de gênero que ainda existem na sociedade, de considerar a função do padre apenas em referência à comunidade cristã na qual está inserido e da qual é o animador. É a comunidade que dá ao ministério sua razão de ser. Uma iniciativa muito ambiciosa e de via única. O significado desta iniciativa, que será realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, pode ser facilmente entendido observando quem a promove e qual é o seu programa.
Foi criado um "Centre de récherche et d'antropologie des vocations", promotores a "Revue thomiste", a revista "Communio", o Instituto Tomista da faculdade teológica do Angelicum e a UCAO (bispos da África Ocidental). Eles fazem parte de uma mesma orientação teológica e tiveram o aval e a participação em primeira pessoa como palestrantes no Simposium de oito prefeitos de Congregações da Cúria (além de Parolin), de um bispo, de onze padres todos professores em faculdades de teologia de seis países diferentes (não há teólogos sul-americanos, africanos ou asiáticos) e de cinco mulheres, entre as quais duas irmãs. Não existem leigos do sexo masculino. É como se dissessem: “Ninguém se meta, para falar do padre fazemos tudo sozinhos!”. No estado atual do programa não estão previstos espaços para o debate.
A participação é livre, as inscrições já estão abertas. São esperadas delegações nacionais e diocesanas de todos os continentes (disponível aqui). O Simposium, portanto, se apresenta como uma grande ação de lobby na Igreja, endossada por grande parte da estrutura do Vaticano. Quem acompanha os assuntos da Igreja não pode deixar de pensar que se queira unificar de forma evidente e até clamorosa as várias vertentes daqueles que desconfiam ou são até mesmo hostis à conduta do Papa Francisco, convencidas de que este seja o momento certo para fazê-lo.
No pano de fundo está o profundo contraste com as orientações que estão surgindo no Synodaler Weg da Igreja alemã e a possibilidade de se preparar para organizar uma linha clerical do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade de outubro de 2022. Claro que há questões que não podem ser evitadas: o caráter e o poder deste Simposium são compartilhados, pelo menos em parte, pelo Papa Francisco? Se fosse esse o caso, não poderíamos deixar de associá-lo às nossas críticas. Ou o Papa é mero espectador?
Neste caso, devemos constatar a fragilidade de Francisco em relação à Cúria que parece mais evidente do que antes nos últimos tempos. Pensamos/esperamos que esta tentativa de querer voltar a antes do Concílio, sem abrir os olhos diante dos verdadeiros problemas da proclamação da mensagem do Evangelho hoje possa acabar em nada, porque as forças vitais da caridade e da fé estão presentes na Itália e espalhadas por todo o grande universo católico e cristão, nas periferias e em todos os lugares. O Espírito sempre circula e age, mesmo que tenhamos dificuldade em percebê-lo.
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Um padre externo à comunidade cristã e à história de hoje. Isso propõe um grande Simposium promovido por Cardeais do Vaticano para fevereiro de 2022 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU