16 Abril 2021
Dietas saudáveis e sustentáveis podem reduzir as mortes prematuras em 20% e as emissões de gases de efeito estufa em 30%. “Florestas destruídas e pecuária intensiva: não estamos criminalizando um único alimento, mas todo o sistema”.
A reportagem é de Daniela Fassini, publicada por Avvenire, 15-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Todos os dias, por três vezes, com a escolha dos alimentos que colocamos na mesa, podemos salvar o planeta e a nossa saúde. Porque o bem-estar do mundo e de nós mesmos também depende muito do que escolhemos comer, desde o café da manhã, ao almoço, ao jantar (mesmo que até um terço das calorias que ingerimos sejam provenientes de lanches fora das refeições). Dietas mais saudáveis e sustentáveis podem reduzir as mortes prematuras em pelo menos 20% e as emissões de gases de efeito estufa ligadas aos alimentos em pelo menos 30%, melhorando nossa longevidade, bem-estar e saúde do clima. A Fundação Barilla, poucos dias antes do Dia Mundial da Terra comemorado em 22 de abril, apresenta uma dupla pirâmide da saúde e do clima, fundada em bases científicas, capaz de propor uma nova visão da alimentação que respeita a tradição cultural e gastronômica em todo o mundo. Esta Dupla Pirâmide divide os alimentos da nossa tradição gastronômica de acordo com o seu impacto na saúde (olhando o efeito nas doenças cardiovasculares) e no clima (em termos de CO2 emitido para produzir aquele determinado alimento). Trata-se de diferentes modelos que, para cada classe de alimentos, indicam os alimentos mais adequados para cada cultura gastronômica para sete grandes áreas do planeta (Ásia meridional, Ásia oriental, África, Mediterrâneo, Países Nórdicos e Canadá, América Latina e Estados Unidos). As escolhas alimentares saudáveis mais a proteção da biodiversidade e dos recursos hídricos, a redução da pobreza, bem como os benefícios econômicos: estima-se que se os consumos de alimentos permanecerem inalterados, em 2030 eles nos custarão mais de 1.300 bilhões de dólares por ano em mortalidade e doenças não transmissíveis e mais de US $ 1,7 trilhão pelos efeitos das mudanças climáticas.
A dupla pirâmide da saúde e do clima mostra como os alimentos que promovem a nossa saúde - como frutas, verduras e grãos inteiros, nozes e legumes - geralmente são também aqueles de baixo impacto ambiental, que poluem menos. E se a variedade continua sendo um dos princípios básicos da nutrição adequada, uma das principais novidades desse modelo é a distinção entre os diferentes grupos de alimentos com base nas proteínas animais. Alimentos vegetais devem ser preferidos tanto para a saúde quanto para o meio ambiente, com leguminosas como fontes de proteína; e quem não quer abrir mão de nada poderá sempre escolher entre peixes, ovos, aves e laticínios em vez de carnes vermelhas e embutidos cujo consumo deve ser limitado. “A alimentação passa a ser um importante instrumento no combate às doenças crônicas não transmissíveis - explica Gabriele Riccardi, Professor de Endocrinologia e Doenças do Metabolismo, Universidade de Nápoles Federico II - todo ano no mundo ocorrem 41 milhões de mortes por doenças não transmissíveis, das quais as doenças cardiovasculares estão em primeiro lugar, representando um terço de todas as mortes inclusive em idades relativamente jovens. Uma dieta correta é capaz de reduzir essa mortalidade em 50%”. Para otimizar o impacto da dieta nos eventos cardiovasculares, “o consumo de frutas e verduras deveria ocorrer duas vezes ao dia”.
E se considerarmos que 73% da terra emersa é usada pelo homem para alimentar 9 bilhões de pessoas no mundo, é fácil entender como “a comida está no centro”. “O homem destrói florestas e recorre à pecuária intensiva - acrescenta Riccardo Valentini, professor da Universidade degli Studi da Tuscia -. As carnes vermelhas, por exemplo, têm um impacto nas mudanças climáticas de 20 a 30 vezes mais do que um prato vegetal. A questão não é criminalizar um único alimento, mas sim todo o sistema”.
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O alimento do bem (para o planeta) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU