31 Março 2021
“Há um axioma populista que pode ser anunciado do seguinte modo: seja qual for a captura do Neoliberalismo sobre as massas, cedo ou tarde, de um momento para o outro, o Povo sempre volta”, escreve Jorge Alemán, psicanalista e escritor, em artigo publicado por Página/12, 27-03-2021. A tradução é do Cepat.
A palavra Populismo tem sido mal interpretada e alterada em seu sentido por toda a direita midiática neoliberal. Tem sido o termo maldito tanto das elites oligárquicas, como até mesmo de alguns setores denominados progressistas. É bastante curioso observar que não é apenas a direita que se ocupa, uma vez ou outra, em degradar o termo. Também intelectuais mundialmente reconhecidos por sua radicalidade política. Teóricas feministas apontadas por sua acuidade na leitura do contemporâneo olham para ele com suspeita.
Existe um acordo tácito entre setores discordantes ou heterogêneos para impedir, menosprezar e desintegrar a hipótese populista. Um dos aspectos que mais contribuiu para este ponto foi, em minha avaliação, admitir que havia um populismo de direita e outro de esquerda. Essa tentativa de ampliação do conceito colaborou para sua difusão confusa e para organizar seu caráter amorfo e massivo.
Não obstante, a hipótese populista, e digo hipótese para manter o termo em um debate aberto, encarnava uma exigência teórica de primeira ordem que agora sintetizo em suas premissas gerais.
Apresento estas premissas através de suas questões constitutivas:
1) Como um projeto transformador pode ser sustentável, quando os setores populares nem sempre defendem necessariamente seus “interesses objetivos”? Atualmente, é a contingência e não a necessidade que determina a construção do político.
2) De que forma uma vontade coletiva, heterogênea, composta por diferentes segmentos subalternos: trabalhadores, feministas, excluídos, conseguem se articular em um sujeito histórico que não apague as diferenças, a partir de onde surge, mas que, por sua vez, reúna os setores explorados e oprimidos [?].
3) Como se radicaliza um projeto democrático, quando o capitalismo neoliberal não somente se apropriou da realidade, como também apresenta dispositivos ideológicos que capturam a subjetividade, ao ponto de ir contra seus próprios interesses vitais [?].
A hipótese populista não só não se opõe à tradição republicana, como também deseja a sua reinvenção. O que emerge destas questões é que a hipóteses populista é a atualização, no século XXI, dos problemas teórico-políticos antecipados pelos movimentos nacionais e populares históricos, em chave pós-marxista e pós-fundacional. Este último se deve ao fato de que a hipótese populista não dispõe de fundamentos constituídos a priori.
A hipótese populista se constrói e se desconstrói no acionar de sua práxis e é elaborada na trama histórica em que se desenvolve. Se foi odiada ou desprezada, não é porque seja um erro teórico ou político, mas por uma vocação emancipadora, onde o surgimento do Povo histórico sempre vem antes dos intelectuais. Com efeito, há um axioma populista que pode ser anunciado do seguinte modo: seja qual for a captura do Neoliberalismo sobre as massas, cedo ou tarde, de um momento para o outro, o Povo sempre volta.
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Populismo revisitado. Artigo de Jorge Alemán - Instituto Humanitas Unisinos - IHU