25 Fevereiro 2021
Durante quase um quarto de século, o jesuíta Hans Langendörfer foi secretário da Conferência Episcopal Alemã. Antes dele, também, somente os homens consagrados ocupavam o cargo. Agora, Beate Gilles, atual diretora do Departamento de Infância, Juventude e Família da Diocese de Limburg, é a primeira mulher a assumir o cargo. Em sua primeira coletiva de imprensa, centrou-se no futuro da Igreja na Alemanha e no Caminho Sinodal.
O portal Katholisch.de falou com ela sobre este tema, e também sobre como ela, como mulher, quer tratar os anseios de outras mulheres por reformas na Igreja.
A entrevista é de Björn Odendahl e Ludwig Ring-Eife, publicada por Katholisch.de e Religión Digital, 24-02-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Senhora Gilles, em primeiro lugar, felicidades pela sua eleição como secretária-geral da Conferência Episcopal Alemã. O seu antecessor, o padre Hans Langendörfer, já lhe parabenizou?
Muito obrigada. Sim, ele já o fez. Escreveu-me uma carta, porém ainda não pude a ler com detalhes. Ademais, recebi inúmeras mensagens e felicitações pelo celular.
O bispo Georg Bätzing, quando foi eleito presidente no ano passado, disse que qualquer um gostaria de fugir dessa tarefa. Sentes o mesmo?
Quando chegou a petição, também foi meu primeiro reflexo. Pensei em muitas coisas a dizer contra. Tinha menos a ver com o trabalho em si que com a situação geral da Igreja. Porém, então, dei-me conta de que agora também estou em uma posição na qual estou por e para a Igreja. Ademais, não somente é um momento crítico para a Igreja, mas também um momento emocionante, no qual muitas coisas já começaram a se mexer. Assim eu disse: não vou fugir, porém, quero participar.
O que quer fazer exatamente em seu novo posto?
No futuro, inclusive mais que em meu cargo anterior em Limburg, tratar-se-á dos grandes temas que preocupem a Igreja em seu conjunto. Em primeiro lugar, está a dimensão social, isso é, a pergunta: quando é importante que a Igreja Católica levante a voz? A segunda dimensão refere-se às questões centrais da Igreja. E uma terceira dimensão, para mim, é o trabalho da Associação de Dioceses Alemãs (VDD). Onde podemos criar sinergias entre as dioceses? Onde temos que poupar dinheiro? E que projetos interdiocesanos queremos priorizar?
No futuro terás um papel no Caminho Sinodal. Como vê o processo?
Segui intensamente o Caminho Sinodal quanto ao conteúdo, porém agora tenho que me familiarizar primeiro com as estruturas. Minha primeira impressão é que uma preparação muito cuidadosa das situações de debate é especialmente importante. Por exemplo, parece-me que alguns sinodais tinham menos medo de apresentar sua posição na reunião virtual. Também registrei que nos fóruns sinodais as pessoas já estão em diferentes etapas e que os temas também são discutidos com maior intensidade.
Na Diocese de Limburg também trabalhastes em projetos dedicados à atenção pastoral dos casais nas chamadas situações irregulares, por exemplo, os homossexuais. O que queres abordar neste âmbito?
No Caminho Sinodal as perguntas já estão sobre a mesa. Em Limburg tratamos do tema sob o lema “Pedir a benção”. Está claro que a resposta à questão da benção não pode ser simplesmente “sim” ou “não”, mas sim que a situação é mais diferenciada. Optamos em que todos deem sua opinião desde suas respectivas profissões, por certo, antes do início do Caminho Sinodal. Deste modo, criamos um emocionante testemunho eclesiástico contemporâneo, porque se nota que esta retroalimentação resultou muito mais contida que depois da primeira assembleia sinodal. Assim que se quebrou o tabu de falar disso.
Outro tema do Caminho Sinodal é o da participação das mulheres na Igreja. Antes do começo da Assembleia voltaram a ocorrer protestos e reivindicações das associações oficiais de mulheres, e também do movimento Maria 2.0. Você se aproxima desses grupos, estando no cargo mais alto que uma mulher pode atualmente desempenhar na Igreja na Alemanha?
Claro, dirijo-me às associações oficiais, como KFD ou KDFB, onde já conheço vários responsáveis. Porém, também estou me aproximando do “Maria 2.0”. Porque não creio que seja útil na Igreja que se definam posições “de fora” ou “de dentro”. Maria 2.0 também está formado por mulheres que participam em nossas paróquias e que são um coração de nossa Igreja. Se observar o “Ataque das Teses” deste final de semana, também vale a pena colocar um olhar mais matizado. Há questões nas quais já é possível uma boa colaboração, porém também há pontos que devemos dizer: “Ainda não chegamos a lugar nenhum”. Entretanto, isso não significa que não devamos discutir estas demandas.
Agora, como única mulher, tens que coordenar e moderar a interação de 68 homens ordenados, os bispos. Como queres fazer?
Se eu olhar para o Secretariado da Conferência Episcopal, mas também para os ordenados individualmente, então a relação já é diferente. Existe uma boa mistura de homens e mulheres, consagrados e não consagrados. Portanto, não é uma situação completamente nova para os bispos. Além disso, não sou um membro votante nas assembleias, então a pergunta “Como vota a única mulher que está lá?” não surge. Ainda assim, é um forte sinal colocar uma mulher nessa posição de liderança agora.
Algumas tensões foram notadas recentemente entre os bispos. Como você quer enfrentar isso?
Acho importante não falar apenas com os bispos sobre as proverbiais “batatas quentes”, que acabamos de discutir no Caminho Sinodal. Então, provavelmente surgirá uma imagem mais diferenciada. Apenas nossas discussões sobre meios financeiros e a questão de como queremos avançar juntos no futuro nos unirão. Mas primeiro temos que nos conhecer melhor. Porque experiências comuns são necessárias.
A senhora conhece muito bem o bispo Georg Bätzing, de Limburg. O que estás fazendo, de forma prática, para conhecer melhor seus irmãos no cargo?
Certamente, procurarei o diálogo com cada um dos bispos. Mas também pedirei aos bispos que me deem alguns contatos adicionais em sua diocese. É verdade que tenho alguns contatos do meu emprego anterior. Mas gostaria de conhecer muito melhor cada uma das dioceses.
Finalmente, uma pergunta pessoal. Antes havia homens consagrados em sua posição, agora uma mulher não consagrada: você tem medo de estar sob observação especial e pressão para realizar?
A situação não é totalmente nova para mim desde minha estada em Limburg. No entanto, não diz respeito apenas a mim, mas a muitas mulheres em posições de liderança, seja dentro ou fora da Igreja. Comigo, como mulher, mudará definitivamente a posição de secretária geral, por exemplo, no que se refere ao papel que posso assumir na vida espiritual da casa; aqui temos que encontrar novos caminhos. Mas foi uma decisão consciente abrir o escritório. Portanto, posso ter certeza de que aqueles que me escolheram agora querem assim também, e posso ter certeza de uma boa cooperação.
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“Quebrou-se o tabu para falar da bênção a casais homossexuais”, afirma nova secretária geral da Conferência Episcopal Alemã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU