07 Janeiro 2021
O risco do monarco-anarquismo
Pois é. Cai no índex de intelectuais comunistas do Rodrigo Constantino. É um ridículo divertido, ser acusado de monarquista pela extrema-esquerda e de comunista pela extrema-direita. Como conciliar? Talvez eu seja um "monarco-comunista", que aspira à ditadura do proletariado sob a liderança do camarada dom Bertrand de Orleans e Bragança...
Queda brutal na cobertura vacinal no Brasil em 2020
Em 2015 a vacinação contra Poliomielite atingiu 98,29%
Em 2020, atingiu 72,6%
Em 2015 a vacinação contra Sarampo, Caxumba e Rubéola foi de 96,07%
Em 2020 atingiu 72,6%
Em 2018 a vacinação contra a Tuberculose atingiu 99%
Em 2020 atingiu 69%
Isso é resultado direto do descaso governamental, da falta de políticas sanitárias adequadas e da enxurrada de notícias falsas denegrindo as vacinas postadas pelos adoradores do genocida
fonte: Jornal da Cultura
O modelo de governo dos Bolsonaro
O laboratório político do deputado Bolsonaro foram os programas policiais da década de 1990. Principalmente o do Luiz Carlos Alborghetti, caótico, vulgar e irresponsável, e que chegou a deputado estadual na época com sua fórmula fascistizante. Daí vem a concepção de governo de Bolsonaro, entendido, não como enfrentamento de problemas, mas como mero entretenimento reacionário para a sua base. Entretenimento este baseado essencialmente na exploração debochada da violência e do ressentimento.
Vale lembrar que o repórter de rua de Alborghetti era um desconhecido e bonachão rapaz chamado Carlos Massa, conhecido já na época como Ratinho. Quem é paranaense se lembra. A turma era o xodó das tias aposentadas!
O que está acontecendo agora nos EUA é das aquelas coisas que, cinco anos atrás, teria parecido um filme mequetrefe de Hollywood feito sobre Honduras.
O fanático da extrema-direita teocrata que é vice-presidente do país, Mike Pence, está calmamente presidindo a sessão conjunta do Congresso que certifica, pro forma, a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais. Mitch McConnell, líder de extrema-direita dos Republicanos e um dos piores seres humanos do planeta desde que o homo sapiens começou a zanzar pelas planícies da Etiópia, está calmamente sendo a voz da razão e confirmando que se trata apenas de certificar os resultados de uma eleição que já aconteceu.
Mas, do lado de fora, o Presidente que perdeu, Donald Trump, está liderando, em plena pandemia, uma insurreição-golpe de Estado, ou pelo menos uma pantomima de insurreição-golpe de Estado, com alguns milhares de malucos que gritam que votos que ninguém viu e ninguém sabe onde estão foram roubados. O objeto da insurreição é o próprio aparato estatal que o Presidente dirige, as instituições pelas quais ele é responsável--o Executivo, com sua polícia, para começo de conversa.
É como se você pedisse a Hollywood: imagine aí a república das bananas mais estereotipada que você conseguir. Pelo amor de deus, não me perguntem o que vai acontecer.
ATUALIZAÇÃO: Sessão do Congresso interrompida, congressistas literalmente forçados a se esconder, os conspiracionistas pró-Trump invadiram a área do prédio do Capitol, e o prefeito decretou toque de recolher a partir das 18h de lá (20h de Brasília), enquanto a polícia do Congresso pede reforços.
O 11 de setembro da democracia americana
Os EUA oferecem ao mundo, ao vivo e em cores, o espetáculo de uma tentativa de golpe de Estado parlamentar, patrocinado por políticos supostamente conservadores, que tentam fraudar a eleição alegando que ela foi... fraudada! Tentar destruir a Constituição a pretexto de salvá-la é um dos truques mais velhos e vergonhosos da história da democracia moderna.
A alegação de fraude eleitoral na eleição americana segue a lógica populista: se o líder encarna a vontade do povo contra o sistema, ele só pode perder a eleição se ela for fraudada pelo sistema. É essa lorota que Trump está vendendo para assegurar impunidade por seus crimes e manter o controle do Partido Republicano. Dizer que as instituições estão funcionando nada diz sobre o seu estado de saúde. Só informa que elas ainda não morreram.
Hoje é o 11 de Setembro da democracia americana.
E o divórcio entre capitalismo e democracia se acelera de forma espetacular! Certamente, os tristes acontecimentos do Norte servirão de inspiração para extremistas em outros lugares...
Um tiro pela culatra?
Depois dos acontecimentos de hoje, há uma chance de que o sistema político americano deixe de lado a leniência e passe a reprimir o fascismo trumpista. Isso nos interessa porque o destino que couber a Trump afetará o modo por que a política brasileira encara o bolsonarismo.
A estratégia de Trump depois da derrota, ao inventar a lorota da fraude, foi a de radicalizar a intransigência para deixar a base mobilizada e demonstrar força para que o partido republicano continue debaixo de sua influência, a fim de voltar nas próximas eleições. Mas o tiro pode sair pela culatra depois dos acontecimentos de hoje, porque Trump se revelou uma ameaça para o sistema político como um todo, e acabou por fortalecer a ala republicana contrária à sua ditadura partidária.
A retomada das sessões do Congresso nas próximas horas servirá de termômetro para aferir os impactos dos acontecimentos de hoje. Continuarão os republicanos trumpistas tentando obstruir o reconhecimento de Biden? Caso negativo, poderá estar a caminho uma reação mais firme. Se essa reação se efetivar, com a responsabilização de Trump, ficará claro o quão longe ele foi e quanto foi imprudente em seus cálculos. E a estratégia de sobrevivência político-partidária na oposição, controlando o Partido Republicano, irá por água abaixo.
O bolsonarismo é uma subsidiária do trumpismo e seus carinhosos acenos de solidariedade a Trump nos últimos dias foram sinais emitidos de que se trata de uma aliança duradoura - a "Aliança para o Regresso", envolvendo transferência de tecnologia de destruição democrática. Caso o sistema político americano acabe com a leniência e dê um basta a Trump, punindo-o, esse fato certamente abalará o movimento neofascista internacional, animando também o sistema político brasileiro a reagir contra a barbárie bolsinarista.
A ver.
They had shirts made ahead
Mandaram fazer camisas antes do tempo
A foto diz tudo. Fascistas
O gado americano é mais pop: já vem com chifres.
Os jornalistas que se dizem chocados com a boçalidade e a truculência da turba que hoje invadiu o Capitólio em Washington são os mesmos que passaram pano para o patriotismo pateta em 2015, quando o que lhes interessava era derrubar um governo que exercia legitimamente o seu mandato.
Quem tem um pouco de memória não consegue assistir o noticiário brasileiro sem sentir nojo.
Vacina, já!
Palavra de ordem. Peçam nas suas redes.
Alguém sabe que animais são esses? São os mesmo que pediram paz, amor e prosperidade para o ano novo, sem respeitar o distanciamento na praia de Balneário Camboriú.
Por que vale a pena empregar o conceito de "populismo" para designar a direita radical contemporânea
Populismo é seguramente uma palavra borracha, tão desordenado é o seu emprego. Um termo paradoxal também, pois ele tem na maioria das vezes uma conotação pejorativa e negativa, quando ele deriva do que funda positivamente a vida democrática. É ainda uma palavra tela, pois ela opõe uma etiqueta única sobre todo um conjunto de mutações políticas contemporâneas cuja capacidade de identificar a complexidade e os desenvolvimentos profundos é uma necessidade. É pertinente, por exemplo, usar uma mesma expressão para qualificar a Venezuela de Chávez, a Hungria de Orbán e as Filipinas de Duterte, sem mesmo evocar a figura de um Trump? Colocar num mesmo saco os espanhóis de Podemos e a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon com os seguidores de Marine Le Pen, Matteo Salvini ou Nigel Farage faz sentido? Compreender é distinguir e, portanto, resistir aos amalgamas simplificadores. É uma noção duvidosa, enfim, na medida em que ela serve apenas para estigmatizar adversários ou legitimar sob um novo vocábulo a velha pretensão à superioridade dos poderosos e dos instruídos sobre as classes populares julgadas sempre inclinadas a se transformar numa plebe governada por funestas paixões. Não é possível tratar a questão do populismo sem manter em mente essa constatação, pois ela constitui uma forma de aviso, como também um convite a fazer prova de lucidez política e de rigor intelectual para abordar o tema.
Essa necessária atenção às armadilhas que subjazem esse termo de “populismo” não deve, contudo, levar a renunciar ao seu uso. Por duas razões. Em primeiro lugar, porque ele se revelou de fato incontornável em sua própria confusão. Se ele permaneceu em todas as bocas e sob todas as penas, apesar de todas as reservas que mencionamos, é também porque ele respondeu, de maneira ao mesmo tempo vaga e premente, à necessidade sentida de utilizar uma nova linguagem para qualificar uma dimensão inédita do ciclo político que se abriu na virada do século XXI; e que ele não teve até o presente nenhum competidor nessa função. Ciclo político que alguns caracterizam por uma expectativa social premente de revitalização do projeto democrático, reencontrando a via de uma soberania mais ativa do povo, enquanto outros o viam inversamente como portador de presságios anunciadores de uma desestabilização ameaçadora desse mesmo projeto. Mas o fato decisivo é, em segundo lugar, que esse termo acabou por ser reivindicado com orgulho pelos responsáveis políticos que queriam condenardefinitivamente aqueles que o utilizavam de maneira denunciadora. A lista é longa das personalidades de direita e de extrema direita que pretenderam assim derrubar o estigma dizendo em primeiro lugar que a palavra “não lhes fazia medo”, em seguida reivindicando-a progressivamente. A evolução foi paralela à esquerda, como testemunhou de maneira exemplar um Jean-Luc Mélenchon. “Eu não tenho absolutamente vontade de me defender da acusação de populismo”, ele dirá desde 2010. "É o nojo das elites. Fora todos eles! Populista, eu? Eu assumo”. O fato de um certo número de intelectuais ter se tornado advogados de um “populismo de esquerda” também contou muito para dar uma consistência desejável a esse termo e banaliza-lo como qualificativo político. As tomadas de posição e os escritos de Wendy Brown, Nancy Fraser, Ernesto Laclau e Chantal Mouffe pesaram consideravelmente nessa direção, convidando a conservar o termo e a validar a pertinência do seu uso.
(Pierre Rosanvallon, O século do populismo. Tradução de Diogo Cunha)
O populista contemporâneo é o parasita da democracia enferma
1. Por populismo se designa uma política voltada para "o povo", entendido como algo homogêneo e bom, liderada por um chefe, contra um "establishment " identificado com uma minoria pequena e má. Na modalidade moderada, ele não confronta a democracia, desejando antes a sua ampliação. Na modalidade radical, o populismo confunde "elite" com "sociedade civil" e "esquerdismo". Acredita que as regras da democracia são feitas para perpetuar o domínio desse "establishment", e vende a tese de que é preciso destruir o Estado de direito para que "o povo" vença. É essa lógica que explica o desprezo de Trump e de Bolsonaro pelas regras constitucionais e o esforço que fazem por subvertê-las de forma aberta, fraudando a eleição, questionando praxes sedimentadas, ou encapotada, promovendo golpes brancos, por meio de molecagens hermenêuticas.
2. O populismo não assume para administrar, mas para explorar conflitos velhos e inventar novos. Tenta sedimentar a ideia de que a vontade do povo, representada pelo líder, está sempre sendo confrontada pelo "establishment", identificado com seus opositores, e que o líder a defende. Ações ordinárias ou divergências naturais em um ambiente democrático são transformados em ameaças à soberania ou liberdade do povo, para que o líder tenha todos os dias a chance de defendê-lo. Ele cria os múltiplos inimigos do povo para se apresentar como seu defensor permanente. Então, o líder populista defende o povo contra a ameaça da fraude eleitoral, representada pela urna eletrônica. Defende a liberdade do povo de não se vacinar, de não ser multado, de viver na superstição, de se aglomerar na pandemia, de andar armado.
3. Governar significa buscar soluções para os problemas presentes na sociedade. O populista radical não governa, porque vive de explorar o mal-estar gerado por aqueles problemas, criando conflitos para jogar uma parte do país contra a outra. O único verdadeiro interesse do populista é satisfazer seus institutos doentios, aproveitando a confusão que solapar o Estado de direito e aparelhá-lo, a fim de obter vantagens pessoais e garantir impunidade para os seus crimes e para todos os que os praticarem em seu benefício. Em síntese, o populista não é um médico que chega para curar a doença de que a democracia padece. Ele é parasita intestinal, que se aproveita da doença para explora-la, e busca consolidar-se multiplicando diariamente o mal-estar coletivo.
4. A democracia não resolve seus males pelo populismo. Precisa de um médico capaz de ministrar-lhe o purgante de que precisa para despachar o parasita de volta ao esgoto. Mas, para isso, a sociedade precisa QUERER se curar, manifestando essa vontade por um esforço de ação coletiva. Essa expressão de vontade se materializa inicialmente em um arco de alianças defensivo da democracia, capaz de controlar a doença e neutralizar a ação deletéria do parasita. O segundo passo será escolher um médico capaz de ministrar-lhe o purgante. Uma coisa de cada vez...
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