30 Novembro 2020
“Os jovens sabem iniciar processos e não ocupar espaços, como recomenda o papa. Nada melhor do que confiar um processo aos jovens.” Luigino Bruni, professor de Economia Política e História do Pensamento Econômico na Universidade Lumsa e professor de Economia Política do Instituto Universitário Sophia, além de diretor científico do evento, faz uma avaliação de “A Economia de Francisco”, o evento internacional online que encerrou no dia 12 de novembro com uma videomensagem do Santo Padre.
“Está iniciando um processo que certamente seguirá em frente, mas não criando grandes estruturas”, explica ele sobre as iniciativas futuras: “Generatividade é deixar os filhos irem, não pretender controlá-los. E deixá-los desencadear. Em um ano, nos reencontraremos em Assis, quando o lobo, ou o vírus, for domesticado”.
A entrevista é de M. Michela Nicolais, publicada por Servizio Informazione Religiosa (SIR), 25-11-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como foi “A Economia de Francisco” e o que o distinguiu de outros eventos eclesiais?
Foi além de todas as nossas previsões. Nestes dois anos, desde que iniciamos o processo, vimos o que aconteceu após o adiamento de março por causa da pandemia: toda uma realidade foi posta em movimento nas 12 aldeias temáticas, que acolheram dezenas e dezenas de atividades. Mas, nos últimos dias, nos admiramos com a quantidade e a qualidade dos jovens e com a intensidade do seu envolvimento. Movimentar tantos jovens assim de todas as partes do mundo para um evento online não é nada simples, dada a quantidade de solicitações diferentes que vêm do meio digital: ver a adesão, o envolvimento, o engajamento tão forte de jovens economistas, estudiosos, empreendedores nos deixou sem fôlego. Foi um evento generativo, sem donos nem pertencimentos: os jovens são como as trutas, sentem imediatamente se há água limpa. O fato de o papa e São Francisco serem os fiadores da iniciativa fez com que os jovens percebessem a autenticidade e a universalidade dessa “convocação”. Só a gratuidade pode pôr um processo desse tipo em movimento.
É um resultado ainda mais notável se levarmos em consideração o contexto da pandemia em que infelizmente estamos imersos.
Lançamo-nos em algo maior do que nós mesmos: para citar uma frase do Pe. Benzi, “primeiro as coisas belas são feitas e depois pensadas”. Nunca na história da Igreja houve um movimento de jovens economistas tão global e capaz de ir além dos pertencimentos individuais. A Igreja nunca teve uma relação muito serena com a economia, como demonstram também os acontecimentos dos últimos dias. Reconciliar a Igreja com o dinheiro não é fácil, mas não há um momento melhor do que este para tentar tal façanha. Em todo esse clima de negatividade, de morte, de medo, vivemos três dias de luz e de esperança loucas, sem ingenuidade e sem triunfalismos. Se há um sinal claro que vem da pandemia é que a economia deve ser repensada, porque a vulnerabilidade do momento atual está agravando as desigualdades: os ricos se tornam cada vez mais ricos graças aos seus ganhos especulativos, e os pobres, cada vez mais pobres. Do mundo pós-Covid, deverá nascer uma economia mais solidária e inclusiva.
Pela primeira vez na história da Igreja, milhares de jovens economistas, empreendedores e agentes de mudança “com menos de 35 anos” tomaram a palavra. O que mais lhe impressionou ao ouvi-los?
Acima de tudo, a qualidade, também científica, dos investigadores e dos empreendedores: foram apresentados centenas de projetos, um sinal de que os jovens não são apenas sonhadores utópicos, como deveriam ser na idade deles, mas também muito concretos. Basta pensar no seu apelo final em 12 pontos [disponível em italiano aqui], no qual pediram, entre outras coisas, a introdução de comitês de ética nas empresas, a abolição dos paraísos fiscais, a revisão da governança e da gestão das empresas.
Os jovens são sonhadores de olhos abertos, com a sua nota típica que é a positividade: eles são a saúde do mundo, não a doença.
Eles tendem a ver o trabalho deles, fazer negócios, como algo bonito, porque é a vida deles. Não é verdade que eles não querem adultos ao lado deles: eles os querem, se não quiserem ser patrões ou prepotentes. Foi bom ver jovens e prêmios Nobel dialogando de igual para igual: os jovens têm respeito pelos melhores e mais famosos economistas e têm respeito pelas competências, porque sabem que são o fruto bom de uma vida madura ou idosa.
Mudar o paradigma econômico também requer ações políticas precisas, além da transformação dos estilos de vida. Quantas possibilidades concretas os jovens de hoje têm para serem realmente protagonistas ativos nos lugares onde as decisões são tomadas?
O discurso político mais importante da última década foi o discurso de Greta Thunberg na ONU em outubro. Já estamos em uma nova fase política, em que os jovens são os protagonistas das questões ambientais. Foram necessários dois eventos para nos fazer parar: os jovens, que nos fizeram passar vergonha do modo como lhes entregamos o nosso planeta, e o vírus, com a sua carga de morte. Os jovens já têm uma força política, principalmente graças ao seu domínio da web, com a sua grande capacidade de influenciar os comportamentos. A política não pode deixar de ouvir as propostas dos jovens, porque as suas soluções estão mais próximas da vida das pessoas. Mesmo que os políticos não fizessem nada, há uma força intrínseca da história: o vento sopra forte nessa direção. Quem se levanta contra ele acaba se colocando fora da história.
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Repensar a economia, um desafio aos jovens. Entrevista com Luigino Bruni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU