28 Novembro 2020
O pontífice fez citações sobre o movimento pela ordenação de mulheres em novo livro do seu biógrafo Austen Ivereigh, intitulado “Vamos sonhar juntos: o caminho para um futuro melhor”, que será lançado em 1º de dezembro.
A reportagem é de Mada Jurado, publicada por Novena News, 25-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
No livro, o Papa se defende contra as acusações de que ele não havia feito o suficiente para avançar com a liderança das mulheres na Igreja.
Ele argumenta que tentou “criar espaços onde mulheres pudessem liderar, mas de formas que elas aceitassem moldar a cultura, assegurar que teriam valor, respeito e reconhecimento”.
O Papa cita como evidência para essa reivindicação que ele nomeou muitas mulheres ao alto escalão do Vaticano, “então elas podem influenciar o Vaticano enquanto preservam sua independência”.
Mas essas nomeações de mulheres para cargos no Vaticano, não obstante, ainda deixam muitas mulheres descontentes pelo fato de o pontífice não ter avançado com a ordenação de mulheres, além de uma tímida abertura para estudar a possibilidade de restauração do diaconato feminino.
Em “Vamos Sonhar Juntos”, porém, Francisco rejeita a percepção de que para ser um líder na Igreja é preciso ser ordenado e acusa os movimentos pela ordenação de mulheres e de justiça de gênero de “semearem divisão”.
“Mudar a cultura institucional é um processo orgânico que pede por integração, sem clericalização, que é o ponto de vista dessas mulheres”, argumenta o Papa sobre a igualdade de gênero.
“Talvez porque o clericalismo, o qual é uma corrupção do sacerdócio, muitas pessoas creem erroneamente que a liderança na Igreja é exclusivamente masculina”, lamentou o Papa, antes de acrescentar: “mas se você vai para uma diocese no mundo, você vê mulheres trabalhando em departamentos, escolas, hospitais e muitas outras organizações e programas: em algumas áreas, você encontrará muito mais mulheres que homens liderando”.
As observações de Francisco nesse sentido levam-no a concluir que “dizer que as mulheres não são verdadeiras lideranças porque elas não são padres é clericalista e desrespeitoso”.
Os comentários do Papa ligando o movimento de ordenação de mulheres ao clericalismo e o desrespeito levantou a ira de mulheres e homens da Conferência pela Ordenação de Mulheres (WOC, pelas siglas em inglês), que se descrevem como “voz feminista intransigente pela ordenação de mulheres e equidade de gênero na Igreja Católica desde 1975”.
Na declaração de 24 de novembro, a WOC disse rejeitar a “caracterização” do movimento feita pelo Papa e também que “trabalham por uma renovação do sacerdócio, livre do clericalismo e da discriminação de gênero”.
“Mulheres são o coração da Igreja, mesmo assim qualquer mulher, desde a trabalhadora da paróquia à conselheira do Vaticano, está sujeita à autoridade de um homem ordenado”, condenaram as militantes do movimento.
A WOC continua:
“A exclusão de mulheres dos ministérios ordenados não apenas atingir suas capacidades para tomar decisões como líderes, mas reforças a discriminação cultural e social e perpetua estruturas que subordinam mulheres e podem levar à violência de gênero”.
“Até que a hierarquia comece a acusar qualquer homem que busca ser ordenado de clericalista, nós pedimos ao pontífice que pare de projetar os problemas e corrupção da hierarquia masculina para as mulheres que pertencem e servem à Igreja”.
“Nós pedimos ao papa Francisco para ouvir as mulheres que buscam reconhecimento e igualdade em seus ministérios e um lugar igual nas mesas de governo da Igreja”.
A WOC encerra a resposta ao papa Francisco com um convite para o pontífice participar com elas do final de semana de celebrações pelos 45 anos de testemunhos dos “abundantes dons daquelas que trabalham pela ordenação justa”.
Se ele participar do aniversário da WOC, o Papa “encontrará mulheres que não estão buscando ser ‘clericalistas’, mas parceiras no trabalho para renovar e fortalecer uma Igreja fraturada”, afirma o grupo pelo direito das mulheres.
Em outra parte de Vamos Sonhar Juntos, o Papa afirma que nomeou várias mulheres para cargos de liderança não ordenada no Vaticano porque as mulheres são “muito melhores administradoras do que os homens” e porque as mulheres “entendem melhor os processos, como levar os projetos adiante”.
Francisco acrescenta que ainda quando estava Argentina aprendeu que “o conselho das mulheres nos conselhos pastorais e administrativos era mais valioso do que o de muitos homens”.
Os dons femininos para a administração, continua o pontífice, foram amplamente exibidos durante a crise do coronavírus, no sentido de que “países com mulheres como presidentes ou primeiros-ministros” – como Nova Zelândia, Alemanha, Islândia, Taiwan, e Finlândia – “no geral reagiram melhor e mais rapidamente do que os outros, tomando decisões com rapidez e comunicando-as com empatia”.
Também em termos de recuperação social e econômica da pandemia, o Papa diz que “a perspectiva que as mulheres trazem é a que o mundo precisa neste momento”, especialmente sobre o campo florescente da economia feminista.
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Mulheres católicas ironizam o Papa por ele ter chamado suas lutas por ordenação de “clericalista” e “desrespeitosa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU