11 Novembro 2020
"A hostilidade em relação à ciência em geral, e à ciência ambiental em particular, coloca em evidência a necessidade de formar cidadãs e cidadãos conscientes das suas responsabilidades individuais e coletivas. Esse desafio somente pode ser encarado com o devido rigor através de pesquisa científica interdisciplinar e de ponta", escrevem André R.S. Garraffoni, Martin Pareja, David M. Lapola e Lúcia da Costa Ferreira, em artigo publicado por Unicamp, 04-11-2020.
André R.S. Garraffoni é professor de Zoologia de Invertebrados no Departamento de Biologia Animal da UNICAMP. Formado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente é coordenador do PPG-Ecologia. CV Lattes e ORCID.
Martin Pareja é professor de Ecologia Animal no Departamento de Biologia Animal da UNICAMP. É formado em ecologia e com Mestrado em Entomologia Aplicada, ambos pela pelo Imperial College de Londres. Possui doutorado pela University of Reading. Foi coordenador do PPG-Ecologia entre 2016-2020. CV Lattes
David M. Lapola é pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (CEPAGRI) da UNICAMP. Formado em ecologia pela UNESP, com mestrado em meteorologia pelo INPE e doutorado em modelagem do sistema terrestre pelo Instituto Max Planck/Univ. Kassel, Alemanha. Atual coordenador do PPG-Ambiente & Sociedade da UNICAMP, autor do 6o relatório do IPCC e membro do Science Panel for the Amazon. CV e ORCID.
Lúcia da Costa Ferreira é pesquisadora Sênior da UNICAMP. É professora dos Programas de Pós Graduação em Ambiente e Sociedade, Ciências Sociais e Sociologia. Tem experiência em pesquisar e orientar nos temas: conflitos sociais, conservação da biodiversidade, mudanças climáticas, riscos e desastres, especialmente na Amazônia e Mata Atlântica. Coordenadora da “Rede Ibero-americana de Pesquisa em Meio Ambiente e Sociedade: Dimensões humanas do clima e mudanças ambientais em áreas protegidas e vulneráveis”, desde 2011. Foi coordenadora do projeto temático Population growth, vulnerability and adaptation: ecological and social dimensions of climate change on the coast of São Paulo. Atualmente coordena no Brasil o projeto financiado pela FAPESP Sustainability Transformations in Artisanal and Small-scale Gold Mining: A Multi-Actor and Trans-Regional Perspective. Co-Applicant of Consortium Belmont Forum/NORFACE Transformations to Sustainability T2S -ASGM. Foi coordenadora do Doutorado em Ambiente e Sociedade. Atualmente é Professora Visitante da Universidade de Los Lagos, Osorno, Chile.
A humanidade vive um momento crítico: Os próximos 10 anos serão decisivos para evitar que o planeta se aqueça além do “ponto de não retorno”. Grande parte da humanidade ainda vive na pobreza e a perda dramática da biodiversidade, a contaminação das águas, do ar e das terras agricultáveis põem em xeque a capacidade da natureza de continuar fornecendo materiais e serviços dos quais a humanidade depende. A Covid-19 fez um milhão de vítimas no mundo em poucos meses, e seu surgimento está diretamente relacionado à relação deturpada que temos com a natureza. É difícil pensar em um assunto que seja de maior urgência existencial para a humanidade do que a emergência ambiental.
Por outro lado, a hostilidade em relação à ciência em geral, e à ciência ambiental em particular, coloca em evidência a necessidade de formar cidadãs e cidadãos conscientes das suas responsabilidades individuais e coletivas. Esse desafio somente pode ser encarado com o devido rigor através de pesquisa científica interdisciplinar e de ponta.
A Unicamp tem uma longa história de contribuição com a ciência ambiental. Dois cursos que são emblemáticos pela sua história e envolvimento com projetos e iniciativas cruciais em ecologia e ambiente no Brasil são os Programas de Pós-Graduação (PPGs) em Ecologia do Instituto de Biologia (IB) e Ambiente & Sociedade (A&S) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), co-sediado no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam).
O PPG-Ecologia, fundado em 1976, foi pioneiro entre os cursos de Pós-Graduação em Ecologia no Brasil e ocupou uma posição de destaque no desenvolvimento e consolidação da ciência ecológica no país. Entre a sua criação até o final dos anos 1990, o Brasil tinha um déficit de quadros especializados em ecologia em todos os níveis do sistema educativo. O PPG-Ecologia foi fundamental na formação de profissionais que fundaram novos centros que ampliaram a pesquisa e o ensino de ecologia.
Entre 1990 e 2015, o curso investiu na pesquisa de excelência e na inserção internacional. Com isso, foi o primeiro curso do país da área de Biodiversidade a atingir o conceito 7 da Capes, e vários egressos de doutorado foram premiados no Prêmio CAPES de tese. A fase atual, que se inicia em 2015, se insere em um contexto no qual o Brasil tem um corpo acadêmico em ecologia bem consolidado, que faz pesquisa e forma estudantes de excelência em universidades em todo o país. No entanto, o cenário político em relação ao meio ambiente mudou significativamente, e se tornou necessário fazer frente a um novo contexto nacional e global.
O Doutorado em Ambiente e Sociedade da Unicamp teve o início de suas atividades em 2005, a partir do debate entre docentes do PPG- Ecologia e do PPG em Ciências Sociais. Essa integração foi possível graças à criação de espaços de pesquisa interdisciplinar depois da consolidação do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), criado na primeira metade dos anos de 1990.
O PPG-A&S foca nas transformações sociais rumo à sustentabilidade no uso de recursos naturais em paralelo à equidade social. Dentro desse objetivo, se desenvolvem pesquisas que analisam criticamente as políticas públicas nacionais e internacionais em conservação e subsidiam o planejamento e a governança de áreas protegidas e do patrimônio histórico-ambiental. Já outras tentam entender os impactos de mudanças climáticas e como tornar a produção agrícola e mineração mais responsáveis. O programa consegue assim primar pela excelência científica, mas também manter uma relação profícua com a análise e implementação de políticas públicas e com a capacidade de auto organização dos atores sociais. Isso fez com que em 2015 o PPG fosse alçado à categoria de Programa de Excelência da Capes, com conceito 6.
Ambos PPGs estiveram na vanguarda da criação de importantes programas científicos como o Biota/Fapesp e como protagonistas de iniciativas nacionais e internacionais como a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Vários dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (os chamados ODS) lançados em 2015 têm relação íntima com meio ambiente. A adequabilidade e implementação desses ODS devem dominar a agenda de desenvolvimento dos países nos próximos 10 anos. O Brasil, antes cedo do que tarde, se alinhará a este modus operandi político-econômico mais racional com as gerações futuras. Para isso será necessário que continuemos formando pessoas altamente qualificadas para atuar nas ciências ambientais.
Os dois programas estão, de forma sinérgica, incorporando novas abordagens, novas atitudes, e atualizações e aperfeiçoamentos necessários para encarar esse desafio urgente. Ao integrar novas perspectivas (interface natureza-ser humano, a atuação em políticas públicas e comunicação científica) com a pesquisa de excelência conseguida no passado, a Unicamp pretende continuar protagonista na ciência ambiental no Brasil.
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Formação profissional para atuar em ciência, tecnologia e manejo ambiental no Antropoceno - a contribuição da Unicamp - Instituto Humanitas Unisinos - IHU