21 Outubro 2020
Na febril vigília das eleições presidenciais de 03 de novembro dos Estados Unidos, a pergunta é quanto a pertença religiosa incidirá no voto.
Quem responde à questão é o Pew Research Center sobre religião e vida pública, em uma grande pesquisa publicada em 17 de outubro, porém que vai muito além do voto, porque demarca todo o cenário religioso estadunidense.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Settimo Cielo, 19-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Com dois resultados importantes e concatenados. Por um lado, uma diminuição relativa dos cristãos e, por outro lado, o forte aumento dos “nenhuma opção”, isto é, dos que se declaram ateus, agnósticos ou, em todo caso, privados de qualquer pertença religiosa.
A pesquisa confirma a situação que ainda no final do século XX distinguia os Estados Unidos das outras nações ocidentais, desertificadas pela secularização: a permanência de um vibrante “mercado” religioso cristão.
Hoje esta excepcionalidade da sociedade estadunidense se desvaneceu amplamente.
Nos últimos doze anos, nos Estados Unidos, os cristãos diminuíram de 75 para 65% da população adulta, com os católicos caindo de 24 para 20%, em números absolutos mais 30 milhões.
A queda do número de cristãos e o aumento dos “nenhuma opção” são relevantes entre os graduados, os residentes do nordeste, os eleitores do Partido Democrata e, sobretudo, os “millennials”, isto é, os nascidos entre 1981 e 1996 que hoje têm entre 25 e 40 anos. Entre os “millennials”, agora, os cristãos e os “nenhuma opção” equiparam-se numericamente e se neutralizam, tanto uns como os outros com 40% do total.
Também diminuiu o comparecimento à igreja. Há dez anos os estadunidenses que iam à igreja ao menos uma vez por mês eram 54% da população, e os que iam poucas vezes ao ano ou nunca eram 45%, hoje as proporções se inverteram completamente: os primeiros são 45% e os segundos 54%. Os que nunca põem os pés em uma igreja são 27%, mais que um quarto dos estadunidenses.
A prática religiosa é um pouco mais acentuada entre os negros, entre eles os que vão à igreja ao menos uma vez por mês seguem sendo a maioria, ainda que menos que no passado. Porém, entre os hispânicos, os números dos que vão e dos que não vão se equiparam, enquanto agora predominam os brancos não hispânicos que nunca vão à igreja.
Sempre entre os hispânicos, os católicos, que há dez anos eram uma maioria, hoje caíram para 47%. Com os “nenhuma opção” também há um presente crescimento, que chegou a 27%.
Tanto os católicos quanto os protestantes diminuíram mais precisamente nas áreas nas quais estiveram historicamente mais presentes, com curvas de 9% para os católicos e de 11% para os protestantes no sul.
Porém, entre os protestantes, ainda que diminuídos em sua totalidade, os que se declaram “evangélicos” ou “os born again” (“nascidos de novo”), hoje cresceram, passando de 56 para 58% em dez anos.
Então, até que ponto essas atitudes religiosas se entrecruzam com as decisões eleitorais?
O declínio dos cristãos e o crescimento dos “nenhuma opção” são muito mais pronunciados entre os democratas do que entre os republicanos.
Entre os democratas, os cristãos caíram de 72 para 55% em dez anos e os “nenhuma opção” aumentaram de 20 para 34%.
Entre os republicanos, no entanto, os cristãos ainda são 79% e “nenhuma opção” apenas 16%, ambos pouco mudados em relação às percentagens de dez anos atrás.
A frequência à igreja também diferencia as duas partes. Entre os democratas, aqueles que nunca ou quase nunca vão à igreja estão agora nitidamente em maioria, 61%, enquanto entre os republicanos a maioria, 54%, continua a ir à igreja pelo menos uma vez por mês.
Entre os republicanos, as diferenças na filiação religiosa e na prática entre brancos, negros e hispânicos são mínimas.
Entre os democratas, no entanto, o afastamento da religião é especialmente pronunciado entre os brancos. Entre estes, os que se dizem cristãos agora são uma minoria, 47%, e aqueles que nunca vão à igreja são 70%.
Em outra pesquisa publicada em março passado, o Pew Research Center descobriu que a maioria dos cidadãos americanos afirma que a influência do cristianismo na sociedade estadunidense está diminuindo.
Mas isso não muda o fato de que metade da população deseja que a Bíblia mantenha sua influência sobre as leis.
Um vínculo forte entre religião e política caracteriza, sobretudo, a população branca de fé protestante “evangélica”.
Os estadunidenses estão em desacordo sobre qual é exatamente a religião de Donald Trump. Mas dois em cada três brancos “evangélicos” o veem como “religioso”, “honesto”, “inteligente” e quatro em cada cinco afirmam que ele “luta por aquilo em que acredito”.
Pode se supor que é precisamente entre os brancos evangélicos que Trump poderá ter muitos dos seus votos.
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Nos Estados Unidos diminui o número de cristãos e aumenta os que não professam uma religião. Porém, Trump tem seus seguidores fiéis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU