13 Junho 2020
A pandemia de coronavírus (COVID-19), anunciada em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ficará marcada por consequências ainda difíceis de mensurar. Inclusive para a saúde dos oceanos. O cenário é de incertezas e o afastamento social recomendado pelas autoridades sanitárias tem se transformado em um período de reflexão e mudança de hábito para a população.
A reportagem é de Camilla Valadares e Alethea Muniz, publicada por EcoDebate, 12-06-2020.
Um dos principais problemas que já existia mesmo antes desta crise mundial, mas que pode ser agravado, diz respeito à poluição marinha, especialmente pelo descarte inadequado do lixo. “A partir do momento em que descartamos os resíduos, eles iniciam um percurso de destino incerto”, afirma a engenheira Sílvia Astolpho, mestre em saúde pública e especialista em gestão ambiental.
Esse percurso pode ser feito inclusive por resíduos descartados em cidades bem distantes do mar. “Plásticos não coletados e tratados de forma inadequada são carregados pelas águas das chuvas e pela ação do vento aos canais de drenagem de uma bacia, que capta essas águas conduzindo-as ao mar”, exemplifica Sílvia.
As consequências são inúmeras tanto nos aspectos sanitários quanto ambientais de uma maneira geral. Os impactos desses resíduos na contaminação e redução de recursos naturais causam prejuízos imensuráveis. “Se a própria atividade humana estiver restringindo a capacidade de renovação desses recursos, o que suportará nossa existência?”, questiona a pesquisadora.
O aumento de resíduos plásticos no mar, de todos os tipos e tamanhos, por exemplo, prejudica diretamente as espécies. Elas interagem com o plástico basicamente de duas formas: a ingestão dos resíduos e o “emaranhamento”. A ingestão de plástico, ou microplástico, já é observada em todos os níveis da cadeia alimentar, desde o zooplâncton até animais maiores, inclusive os peixes que consumimos.
O impacto ambiental do descarte inadequado de plástico afeta ainda o contexto atual que vivemos: o novo coronavírus – causador da COVID-19 -permanece vivo por até três dias no plástico, conforme informa Sílvia Astolpho. Impedir que esse material se torne um vetor de contaminação é fundamental para combater a pandemia. E essa interrupção, defende Sílvia Astolpho, deve ser sustentável do ponto de vista ambiental. “A interrupção de um ciclo desencadeia novas medidas de controle que repercutirão por outros ciclos em propagação”.
A poluição marinha por plásticos continua, mesmo com a pandemia de coronavírus, porque o uso de descartáveis aumentou. Dentre os hábitos que mudaram com a pandemia, está o aumento nos pedidos de deliveries – e com isso, mais circulação de embalagens de isopor, por exemplo, que é um material sem circularidade e sem mercado de reciclagem.
Portanto, o plástico segue sendo um problema, e as empresas continuam sem oferecer embalagens alternativas, ou com materiais alternativos aos consumidores.
Os mesmos cuidados podem ser tomados no ambiente doméstico. “Lidar com a realidade trazida pelo vírus significa regrar-se diante da adoção de um ‘protocolo domiciliar’ de higiene, atuando na prevenção do contágio, que poderá valer tanto para o COVID-19 quanto para tantas outras infecções”, afirma Sílvia Astolpho.
A pesquisadora alerta que as condutas adotadas dentro de casa também devem praticar a sustentabilidade ambiental, sob a pena de repassar condições adversas a outras cadeias e onerar o meio ambiente, restringindo seus serviços. “O ato de ficar em casa, em isolamento social, tem permitido reorientar e reafirmar hábitos de asseio e higiene, regular ou desregular a alimentação, dentre tantas outras coisas, permitindo uma análise bastante crítica de nossas escolhas do cotidiano”, diz a pesquisadora.
Apesar das mudanças nos sistemas de coleta de lixo anunciadas em várias cidades para reduzir a exposição dos trabalhadores como forma de combater o COVID-19, ainda existem muitos funcionários de empresas de limpeza e catadores sendo expostos à contaminação por meio do lixo.
“É preciso que governos e indústrias adotem medidas para reduzir o volume de lixo descartado, principalmente de materiais que podem levar a contaminação. Isso protegerá tanto a sociedade do coronavírus quanto os oceanos da poluição que impacta os ecossistemas marinhos”, afirma Lara Iwanicki, engenheira ambiental e cientista marinha da Oceana no Brasil.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Descarte de resíduos e proteção dos oceanos em tempos de pandemia COVID-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU