27 Novembro 2019
Não há apenas energia atômica para assustar o Papa, mas também a água, um recurso precioso destinado a se tornar, dentro de algumas décadas, uma arma de guerra. Um alarme que anda de mãos dadas com os relatórios da ONU, do Banco Mundial e até da CIA sobre o fato de 47% da população já viver hoje em forte estresse hídrico e que até 2030 a captação de água - a acumulação desequilibrada de água comum - está destinada a causar novos conflitos, além das 500 disputas já existentes. O argumento não podia ser excluído da conversa privada entre o novo imperador do Japão, Naruhito, ambientalista e pacifista convicto, e o Pontífice que promulgou a primeira encíclica verde, a Laudato Si'.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 26-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O imperador agradeceu ao Papa Bergoglio por ter se reunido, durante a manhã, com as vítimas do desastre de Fukushima, a usina nuclear danificada em 2011 por um terrível terremoto e por um consequente tsunami com ondas de 11 metros de altura. Uma tragédia nuclear cujos efeitos sobre a população permanecem abertos devido às radiações.
Francisco respondeu lembrando que em 1945, quando houve os bombardeios em Hiroshima e Nagasaki, ele tinha nove anos, mas viveu com emoção aquele momento vendo sua mãe e seu pai chorar. Um fato que ficou impresso em sua memória e voltou espontaneamente. Naquele momento, ele enfatizou que é necessário respeitar o meio ambiente, caso contrário "a próxima guerra será pela água". Um alarme que tem bases sólidas, visto a tentativa de controlar a região ártica por parte da Rússia, China e Estados Unidos.
Francisco expressou várias vezes publicamente o medo de uma terceira guerra mundial, uma guerra em pedaços, de baixa intensidade que poderia se intensificar se não houver intervenções internacionais. Às vezes, o Papa parece pessimista e, inclusive em Nagasaki, denunciou a "erosão" do multilateralismo. Ele não acusou ninguém, mesmo que tenha dito que para curar o declínio "precisaríamos de líderes à altura". Aquele da água também é um tema escaldante no Japão devido ao derramamento de água contaminada da planta de Fukushima.
O governo anunciou que aquelas águas são destinadas ao Oceano Pacífico, criando um verdadeiro pandemônio. Os bispos japoneses estão há muito tempo lutando pelo fechamento de usinas nucleares, sobre as quais, ao contrário, a posição do Papa tem sido mais sutil. Com relação ao uso de energia nuclear limpa, de fato, Francisco embora aceite as razões do episcopado, mostrou-se mais cauteloso, talvez aguardando um pronunciamento internacional. A cautela também foi observada em outra frente, a da pena de morte. No Japão, são executadas em média 5 sentenças de morte a cada ano. Ontem, na missa de encerramento no Tokyo Dome, também estava presente um condenado digno do Guinness dos Primados.
Um ex-boxeador no corredor da morte desde o final dos anos 1960 por um assassinato que ele diz nunca ter cometido.
A associação de advogados japoneses pediu a Shinzo Abe que mudasse a ordem, também solicitada pela Igreja, budistas e sociedade civil. Se o Papa evitou o assunto em público, ele o tratou na entrevista a portas fechadas com o primeiro-ministro. O objetivo é chegar a uma moratória olímpica para o próximo ano. Um gesto que talvez beneficiasse a imagem do Japão no exterior.
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Não é apenas a bomba atômica que assusta o Papa. “A próxima guerra será pela água” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU