04 Novembro 2019
O jesuíta norte-americano é uma das figuras do catolicismo progressista.
A reportagem é de Elisabetta Piqué, publicada por La Nacion, 04-11-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O padre jesuíta norte-americano James Martin, de 58 anos, autor de best-sellers religiosos e estrela midiática, é uma das vozes mais influentes do mundo católico progressista estadunidense. Subdiretor da prestigiosa revista jesuíta America Magazine – equivalente à Civiltá Cattólica -, nos últimos anos se tornou referência do mundo LGBT, que ele acompanha pastoralmente e defende. Por esse motivo, com frequência é atacado ferozmente por setores católicos de direita ultraconservadora. Há um mês foi recebido em audiência pelo papa Francisco na biblioteca do Palácio Apostólico, algo que foi interpretado como um sinal de respaldo ao seu trabalho. “Para mim, foi uma mensagem muito clara de que o Papa se importa e se preocupa com o coletivo de católicos LGBT. O fato de que esteve 30 minutos comigo, em um dia muito ocupado, foi uma mensagem muito forte”, disse Martin. Em uma entrevista ao La Nacion, na qual também assegura que a oposição a Francisco nos Estados Unidos “é muito pequena, porém muito barulhenta, bem organizada e financeiramente forte”.
Por que você é tão atacado nos Estados Unidos?
Sou atacado pelas mesmas razões as quais o Papa é atacado. O povo tem medo de ver as coisas de forma diferente, tem medo de mudar e, nesse assunto em particular, vê o povo LGBT como “o outro”. Penso, ademais, que o povo também tem medo de sua própria sexualidade complexa, e isso assusta muito.
Pensa que o coletivo LGBT está decepcionado com Francisco, que a princípio surpreendeu a todos com o famoso “quem sou eu para julgar”?
Alguns podem estar decepcionados. Porém, pela minha experiência, o Papa, ao trocar de tom e de discurso conseguiu fazer muitíssima gente voltar à Igreja, inclusive LGBTs. Em termo de mudanças, eles sentem que esse homem os entende. E se trata de centenas de pessoas.
Centenas?
Sim, porque veem e sentem a mudança de tom. Inclusive, minha audiência com ele foi vista como um sinal de carinho.
Pensa que em algum momento poder se dar alguma outra mudança? A Igreja segue falando da homossexualidade como “uma desordem intrínseca”...
Primeiro de tudo, não estou desafiando nenhum ensinamento da Igreja sobre homossexualidade, porém penso que a maioria LGBT está mais preocupada em ser bem recebida em suas paróquias do que com o casamento gay.
O que pensa que a Igreja deveria fazer?
Primeiramente, deveria deixar de atacá-los como se fossem os únicos que não estão de acordo com os ensinamentos da Igreja. Nos Estados Unidos, por exemplo, há pessoas LGBT que foram demitidas de seus trabalhos porque estão civilmente casadas. Enquanto outros católicos, que tampouco seguem ensinamentos da Igreja, não são demitidos. Em segundo lugar, há muitos padres que ainda falam deles de forma muito negativa.
Mais além desses temas, quão forte é a resistência ao papa Francisco nos Estados Unidos?
Eu diria que a oposição é muito pequena, porém muito barulhenta. Ela tem muitos recursos econômicos e está muito bem organizada.
Pensa que é possível um cisma na Igreja dos Estados Unidos?
Não creio. Se alguém viaja às paróquias do país e fala com o povo, a maioria não está interessada em romper com a Igreja Católica.
Percebeu no Vaticano um clima de intrigas por um eventual conclave?
Não senti, porém vi gente falando do próximo conclave e da Igreja estadunidense. Muita gente me perguntou o que está se passando. E acredito que a divisão tem a ver com a política, se trata de gente que não quer o Papa porque sua pregação incomoda as suas crenças políticas em temas como o meio ambiente, os pobres e os refugiados. A questão é como responder a essa oposição. Creio que Francisco reagiu muito bem ao dizer que estava honrado pelos ataques que vêm dos Estados Unidos. Isso tudo não o incomoda: como Jesus, segue em frente, e o Evangelho é sua resposta.
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A oposição ao Papa nos EUA é pequena, porém muito barulhenta. Entrevista com James Martin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU