21 Outubro 2019
“A região amazônica é um ponto de acesso global para todos aqueles desafios que enfrentamos como Igreja mundial e que a humanidade como um todo está enfrentando”, afirma o teólogo alemão.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 18-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Peter Hünermann, um dos principais teólogos católicos do mundo e especialista no Concílio Vaticano II, diz que o “Sínodo Amazônico” faz parte do processo de reforma da Igreja que o Papa Francisco mapeou ainda no início do seu pontificado há mais de seis anos.
O padre e professor alemão de 90 anos de idade disse recentemente à agência Kathpress, com sede em Viena, que o atual esforço da assembleia sinodal para reorientar a prática pastoral na região amazônica “nada mais é do que a implementação da reforma que Francisco estabeleceu no texto programático Evangelii gaudium” (A alegria do Evangelho).
Essa exortação apostólica, emitida em novembro de 2013, foi o primeiro grande documento do pontificado de Francisco e é considerada como um mapa para a renovação e a reforma da Igreja global.
Hünermann, que coeditou o compêndio de fé Denzinger-Hünermann, de cinco volumes (Enchiridion Symbolorum) e um comentário teológico também de cinco volumes sobre o Vaticano II, disse que a Evangelii gaudium pressionou por um novo conceito de prática pastoral à luz das experiências concretas das Igrejas locais.
“Portanto, eu compartilho totalmente as grandes esperanças que as pessoas têm em relação ao Sínodo. É um evento da Igreja global aprofundado e meticulosamente preparado – simplesmente um grande empreendimento –, e eu sou profundamente grato ao papa por lançá-lo”, disse ele à Kathpress.
O teólogo, que lecionou nas prestigiadas universidades de Münster (1971-1982) e Tübingen (1982-1997), rejeitou as acusações dos críticos do papa de que a atual assembleia sinodal, de alguma forma, faz parte de uma agenda teológica liberal.
Ele disse, ao contrário, que é uma tentativa de moldar completamente o futuro da prática pastoral. Ele observou que as questões ecológicas, sociais e pastorais estão entrelaçadas na extensa Amazônia. E isso, disse ele, significa que elas alcançam muito mais do que os membros de uma Igreja local e têm um “significado para a Igreja mundial”.
“A região amazônica é um ponto de acesso global para todos os desafios que enfrentamos como Igreja mundial e que a humanidade como um todo está enfrentando”, enfatizou.
O professor Hünermann também avaliou o “procedimento sinodal” para a reforma da Igreja que os bispos da Alemanha lançaram junto com o Comitê Central dos Católicos Alemães (leigos). Ele disse que esse seria o teste “para a Igreja como um todo, que luta pela sua relevância na sociedade”.
Ele disse que os críticos do procedimento falharam em reconhecer como a Igreja foi abalada profundamente pela crise dos abusos sexuais clericais.
“Eles não conseguem ver que todos os projetos de reforma em discussão – como ordenar homens casados de virtude comprovada (viri probati), dar mais responsabilidade às mulheres na Igreja, repensar a moral sexual da Igreja e instalar freios e contrapesos – só podem ser entendidos contra o pano de fundo do escândalo dos abusos, que foi verdadeiramente traumático”, insistiu.
Hünermann expressou confiança de que o projeto será bem-sucedido, apesar da oposição interna à Igreja.
“O processo de reforma não deve terminar como o último ‘processo de diálogo’ da Igreja alemã (2010-2015), pois isso significaria que a Igreja alemã está com sérios problemas”, alertou.
O teólogo também disse que é importante distinguir entre as duas cartas diferentes referentes ao “procedimento sinodal” que a Conferência dos Bispos da Alemanha recebeu do Vaticano.
Ele disse que o texto que o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, enviou ao presidente da Conferência, cardeal Reinhard Marx, deve ser visto como “um clássico exemplo de certos membros do pensamento tradicional da Cúria Romana que se apegam estritamente ao Direito Canônico de um modo alarmista”.
Por outro lado, o professor Hünermann disse que a “Carta ao Povo de Deus que está a caminho na Alemanha” [disponível aqui, em espanhol], escrita pelo papa, foi mal interpretada.
“O Papa Francisco queria apenas salientar que as reformas da Igreja não devem significar a adaptação ao zeitgeist (espírito dos tempos) e que um procedimento sinodal sempre deve ter uma âncora espiritual. Ele também advertiu particularmente contra o fato de agir muito precipitadamente, mas ele não advertiu contra a reforma em geral”, enfatizou o professor.
Hünermann fez sua teologia inicial na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma antes de retornar à Alemanha para estudos avançados. Ele lecionou na América do Sul – incluindo a Argentina – por vários anos após o Concílio Vaticano II.
Ele conheceu o padre Jorge Mario Bergoglio em 1969 e permaneceu em contato com o futuro papa. Os dois se encontraram mais recentemente em maio de 2015 em Roma para conversas privadas sobre assuntos da Igreja.
Acredita-se que o ensino do teólogo alemão influenciou a exortação do Papa Francisco sobre o matrimônio e a família Amoris laetitia.
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Críticos não percebem a importância global do Sínodo da Amazônia, afirma Peter Hünermann - Instituto Humanitas Unisinos - IHU