07 Outubro 2019
Véspera vigilante e amarga para Bergoglio que, com o caminho positivo adotado sobre a ecologia, enfrenta o enésimo e imprevisto escândalo por dinheiro no Vaticano.
A reportagem é de Carlo Di Cicco, publicada por Tiscali News, 03-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Chegou a hora do sínodo sobre a Amazônia, uma maneira inédita para ficar do lado daqueles que no mundo - começando pelos excluídos - lutam para deter o aquecimento climático que ameaça seriamente comprometer o futuro da humanidade. Mas essa véspera que poderia ser feliz e esperançosa é parcialmente obscurecida pelo novo escândalo ligado à má gestão do dinheiro no Vaticano. Cinco funcionários, alguns dos quais importantes, são processados pela autoridade jurídica do Vaticano para responder por um crime que se pensava não prosperasse mais dentro dos Muros Leoninos.
De fato, há mais de 30 anos, desde o triste episódio de Calvi e do arcebispo Marcinkus, a Santa Sé colocou sua vassoura para limpar a casa das bagunças e tráficos ilícitos de dinheiro. Os últimos papas deram a máxima atenção para colocar a questão financeira de volta a limites lícitos e transparentes, de acordo com o serviço às diferentes necessidades dos pobres e do funcionamento da Cúria.
Mas, apesar das boas intenções, tanto sob o mandato de João Paulo II quanto de Bento e agora de Francisco, algo não funcionou. Certamente não são os papas nem a grande maioria dos funcionários do Vaticano. Apesar dos cuidados tomados na tentativa de sanar, limpar, atualizar, colocando à frente dos órgãos econômicos pessoas estimadas e qualificadas (ou que assim se acreditava serem). Mas então essas pessoas escolhidas não deram prova de desinteresse e serviço. De uma maneira ou de outra, obrigaram os papas e os secretários de Estado a se arrependerem de tê-los escolhido.
Obviamente, enormes progressos estruturais foram realizados, mas esse novo escândalo atesta que algo não funciona da maneira correta. Talvez seja um sinal para sugerir que a questão capital é o próprio dinheiro e a maneira de não se deixar gerir pela corrupção que o dinheiro muitas vezes comporta. No Evangelho, a incompatibilidade entre Deus e o dinheiro é teorizada. Mas sem dinheiro, é muito difícil manter as estruturas institucionais complexas, como no passar do tempo se tornaram as do Vaticano e de muitas dioceses.
De meio para fazer o bem, o dinheiro escorrega facilmente ao fim, fazendo esquecer a própria alma do cristianismo. Não está mais apenas em jogo uma moderna e adequada engenharia econômica. Parece inacreditável encontrar gestores honestos e íntegros do dinheiro. Mas a amarga realidade confirma isso. À espera do processo que estabelecerá as responsabilidades precisas de cada um dos acusados e a natureza das acusações atribuídas a eles, ninguém na Igreja, mas especialmente as autoridades do Vaticano, pode permanecer insensível a esse enésimo fracasso de credibilidade e transparência no âmbito econômico.
Se, por um lado, esse feio sinal de alerta ameaça envolver na caligem o límpido pontificado de Bergoglio, pelo outro, atesta sua visão de longo prazo que nunca se cansa de chamar a Igreja - o clero acima de tudo - para se converter e ficar de forma. cada vez mais decidida a serviço dos homens, sem distinção de fé e cultura, e colocar a Igreja, considerada sentinela da humanidade, dentro das emergências mais graves do mundo.
A mais grave agora é o aquecimento climático. A resposta de Francisco não é uma queixa, mas uma proposta traçada pelo Sínodo sobre a Amazônia, que será consolidada durante os trabalhos que começam no domingo 6 e terminam em 27 de outubro. O sínodo será em parte semelhante aos sínodos ordinários e extraordinários anteriores. Em parte, apresenta atenções típicas porque aborda a questão ecológica.
De fato, haverá "atenção especial em limitar ao máximo o uso de plástico". O cardeal Lorenzo Baldisseri garantiu isso, junto com o cardeal brasileiro Claudio Hummes, relator do sínodo, e dom Fabio Fabene, apresentando as características do grande encontro a mais de 100 jornalistas credenciados. Participarão 184 padres sinodais.
136 deles participam ex-ofício: 113 (a grande maioria) provêm de várias circunscrições eclesiásticas pan-amazônicas, cujo território inclui nove nações (Guiana Francesa, República Cooperativa da Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Brasil, Bolívia, Peru) e tem 7 conferências episcopais. Ex-ofício também estarão presentes 13 chefes de dicastérios da Cúria Romana, 15 religiosos eleitos pela União dos Superiores Gerais e 33 membros de nomeação pontifícia.
Entre esses 33 indicados por Francisco, muitos vêm de países e áreas geográficas como a bacia do rio Congo, "que apresentam as mesmas problemáticas ecológicas que constituem um dos dois grandes âmbitos mencionados no título do Sínodo". O título resume os objetivos: Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. Um aspecto interessa mais a Igreja, enquanto o outro - a ecologia integral - diz respeito ao mundo inteiro.
Além dos bispos, participam do sínodo 6 delegados fraternos representando outras Igrejas e Comunidades presentes no território amazônico; 12 convidados especiais de competência científica específica sobre o tema ecológico; 25 especialistas. Existem 55 ouvintes, incluindo 10 religiosas representadas pela União Internacional das Superioras Gerais. Existem 17 representantes de diferentes povos originários de etnias indígenas, entre os quais 9 mulheres.
O número de mulheres participantes é de 35. Todas essas pessoas terão que se ater a um uso limitado de plástico e, portanto, os copos usados serão feitos de material biodegradável, a sacola com o material dos trabalhos que será entregue aos participantes é de fibra natural, o papel usado para documentos distribuídos tem o maior número de certificações de origem e de cadeia produtiva.
O foco dessa Assembleia - disse o cardeal Baldisseri, secretário do Sínodo - foi indicado com precisão pelo Papa Francisco no momento de sua convocação. Trata-se de identificar “novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta Amazônica, pulmão de importância capital para o nosso planeta".
Alguém poderia se perguntar se seja legítimo vincular o sínodo aos relatos das denúncias sobre os investigados por crimes econômicos no Vaticano. Uma resposta, quando a denúncia ainda não era pública, encontra-se na última edição da Civiltà Cattolica, que dedica um amplo artigo ao Sínodo. "O próximo Sínodo sobre a Amazônia – consta no texto - é o chamado para ser uma oportunidade de ‘conversão’. É necessário refletir e fazer uma leitura histórica dos eventos eclesiais, percebendo como Deus entra na história também em condições contraditórias, e experimentar com força essa ação no atual momento eclesial. Uma leitura sábia dos sinais dos tempos confirma que o chamado à conversão muitas vezes vem das ‘periferias’, inclusive geográficas. Nesse caso, pode vir dos povos amazônicos". Qual maior contradição entre um sínodo e um fato escandaloso de natureza econômica que, envolve sim poucos sujeitos, mas continua sendo o indicador de um profundo desconforto na relação das instituições eclesiásticas com o dinheiro?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Papa Francisco entre o Sínodo sobre a Amazônia e o escândalo dos fundos do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU