02 Outubro 2019
O relatório encomendado pelo MIT: as máquinas chegam mais lentamente do que o previsto. Porém os salários cada vez mais baixos serão o primeiro efeito negativo.
A reportagem é de Riccardo Luna, publicada por La Repubblica, 30-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 23 de outubro de 2017, o New Yorker publicou uma daquelas capas que marcam uma época: se viam robôs brilhantes e funcionantes numa calçada, enquanto um rapaz de barba desgrenhada, sentado no chão, pedia esmolas. No estilo do semanário, não há título, mas é como se houvesse: os robôs roubam o nosso trabalho. Incomodado com o viés que estava tomando o debate, o presidente do MIT, Rafael Reif, 69 anos, decidiu criar uma força-tarefa para estudar o assunto em profundidade. Pode-se entender: o Instituto de Tecnologia de Massachusetts é a incubadora de um específico tipo de progresso. Aqui foram escritos os primeiros protocolos da Internet, daqui veio quem inventou o e-mail, aqui trabalha o inventor da rede mundial de computadores, aqui os primeiros robôs militares foram feitos já trinta anos atrás. Se a terceira revolução industrial tem um epicentro, esse epicentro está aqui, em Cambridge.
Na primavera de 2018, a "força-tarefa sobre o trabalho de futuro ", formado por cerca de vinte professores renomados, foi criada. Objetivo: encontrar evidências - dados, não palavras - "da retórica alarmista na conversa pública" segundo a qual "estamos indo ao encontro de um desemprego em massa" porque "três quartos do trabalho serão automatizados". A pesquisa ainda está em andamento, mas uma primeira série de respostas já chegou. Em poucas palavras, os robôs não roubam nosso trabalho, mas o modificam com dois efeitos muito precisos: o primeiro é que alguns – aqueles entendidos do mundo digital - ganham muito mais; o segundo é que muitos ganham muito menos. O problema que temos diante de nós não é a quantidade de trabalho, "que aliás aumentará bastante nos próximos vinte anos". O problema é a qualidade do trabalho.
Já agora há cada vez mais empregos menos remunerados e menos gratificantes, que penalizam as mulheres, os imigrantes e em geral as categorias mais fracas. E tem sido assim há cerca de 40 anos, é por isso que estamos com tanta raiva e mostramos um pessimismo exagerado; mas, explica o MIT, não há uma lei inelutável que determine esse resultado. Algo pode ser feito e alguns países estão fazendo isso (Alemanha, Reino Unido, Coreia e Canadá). Afinal, são pelo menos três séculos que as revoluções tecnológicas vem mudando as nossas vidas - e o trabalho - para melhor. Sim, é claro, alguns tipos de trabalhos artesanais desapareceram; fazer velas não tem mais sentido quando há lâmpadas; as orquestras nos teatros não tocam mais desde que os filmes deixaram de ser mudos; existem muitos exemplos e eles nos lembram que sempre há um preço a pagar quando as coisas mudam, e que esse preço cabe à boas políticas administrá-lo e ajudar aqueles que são mais fracos. Isso deve ser feito. Isso está acontecendo?
Enquanto isso, é preciso dizer que a automação de muitos trabalhos não se reflete apenas e sempre em substituição dos seres humanos; há casos em que a tecnologia se une aos seres humanos, permitindo-nos trabalhar melhor; e outros nos quais cria novos ofícios. Por exemplo, o software que os arquitetos usam para projetar edifícios (CAD) permite criar projetos melhores em menos tempo; e, portanto, os arquitetos ganham mais; mas, ao mesmo tempo, eliminam a necessidade de ter tantos assistentes para fazer um projeto. Essas pessoas, portanto, perdem alguma posição social e precisam se arranjar, talvez trabalhando para um aplicativo (novo emprego) que faz projetos low cost (“bicos”). Não tem mais as meias estações, mas também os "trabalhos intermediários".
Depois, há outro fator tecnológico a considerar, as chamadas tecnologias so-so, assim-assim. Nós os vemos em ação quando uma empresa substitui os trabalhadores por software (por exemplo, para comprar passagens aéreas ou fazer o check-in automático) em troca de uma pequena vantagem. Não como a eletricidade nas fábricas, que foi um ponto de virada, porque permitiu turnos noturnos, menos fumaça tóxica, maior precisão. São essas tecnologias que explicam por que a produtividade, por exemplo, na Itália, não cresce.
Será que sempre vai piorar? Sobre isso, o MIT oferece algumas respostas surpreendentes: a primeira é que "os robôs estão chegando, mas mais lentamente que o previsto". Substituir completamente os trabalhadores nas fábricas é muito complexo e não traz vantagens suficientes: "Os robôs são caros, pouco flexíveis e difíceis de integrar em um ambiente de trabalho". Um exemplo vem da necessidade em determinados momentos do ano, como o período do Natal, de aumentar significativamente a produção: "É mais fácil contratar seres humanos do que instalar outros robôs", observa amargamente o relatório. Até a inteligência artificial "está longe de ter criado sistemas em condições de ler as últimas notícias, antecipar eventos e atualizar a produção". Finalmente, os carros que dirigem sozinhos "não terão o impacto previsto" e temido pelos motoristas: surgiram tantos problemas e estamos nos orientando para uma espécie de direção assistida.
O que fazer? Investir em formação, é claro, mas não basta dizer "faça-os estudar que o trabalho virá". Há necessidade de intervenções públicas, diz o MIT, que tornem o trabalho humano mais conveniente, mais interessante e mais importante. Porque "imaginar uma sociedade sem trabalho não é uma meta que devemos almejar".
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Surpresa: os robôs não nos roubarão (todo) o trabalho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU