04 Junho 2019
"Ou a curva de crescimento demoeconômico sofre uma inflexão urgente, ou a humanidade terá que enfrentar um colapso ambiental de grandes proporções, só comparável com aquele momento em que a Terra foi atingida por um grande meteoro que provocou uma extinção em massa da vida no Planeta e o desaparecimento dos dinossauros", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 03-06-2019.
O crescimento da população e da economia nos últimos dois mil anos foi algo impressionante. Do ano 1 da Era Cristã até o ano 2000, a população mundial passou de cerca de 225 milhões de habitantes para 6 bilhões de habitantes e a renda per capita global passou de $ 467 para $ 6.055 (dólares internacionais em poder de paridade de compra – ppp, na sigla em inglês). Isto quer dizer que o PIB global era de $ 106 bilhões no ano 1 e passou para $ 36,3 trilhões no ano 2000.
O crescimento da população foi de 26,5 vezes em dois mil anos, enquanto o crescimento da economia foi de 342,7 vezes. Isto quer dizer que a renda per capital mundial cresceu 13 vezes no período.
Mas o crescimento demoeconômico não foi uniforme ao longo dos dois milênios. Entre o ano 1 e o ano de 1500, a população passou de 226 milhões de habitantes para 438,4 milhões (um aumento de 1,93 vezes), enquanto a renda per capita passou de $ 467 para $ 566 (uma aumento de 1,2 vezes). Ou seja, a população cresceu menos de 2 vezes e a renda per capita cresceu apenas 20% em um milênio e meio.
Entre 1500 e cerca de 1800 a população mundial passou de 438,4 milhões de habitantes para 1 bilhão de habitantes (um crescimento de 2,28 vezes). No mesmo período a renda per capita global passou de $ 566 para $ 667 (um crescimento de 1,2 vezes). Portanto, houve uma aceleração da população neste período, mas a renda per capita continuou praticamente estagnada.
Todavia, tudo mudou com o desenvolvimento da Revolução Industrial e Energética que começou nas últimas décadas do século XVIII. Houve uma grande aceleração do ritmo do crescimento demoeconômico. Nos cerca de 200 anos, entre o início do século XIX e o final do século XX, a população mundial passou de 1 bilhão de habitantes para 6 bilhões (um crescimento de 6 vezes). Já a renda per capita passou de $ 667 por volta de 1800 para $ 6.055 no ano 2000 (um aumento de 9,1 vezes em dois séculos).
O que os dados do gráfico acima mostram é que a Revolução Industrial, que iniciou por meio de avanços tecnológico e o uso em larga escala de energia extrassomática (combustíveis fósseis), acelerou o ritmo de crescimento da população e da economia. A despeito das desigualdades sociais, o avanço no padrão de vida da humanidade foi muito significativo. A esperança de vida ao nascer da população mundial que estava em torno de 25 anos em 1800, ultrapassou os 70 anos no início dos anos 2000. Cerca de 94% da população mundial vivia abaixo da linha de extrema pobreza no início do século XIX e esta percentagem caiu para 10% em 2015.
O gráfico abaixo mostra, de forma esquemática, como se dá o processo de transição demográfica (TD). Primeiro caem as taxas de mortalidade e só depois de um certo tempo cai a taxa de natalidade. Em decorrência, há uma aceleração do crescimento populacional e depois uma desaceleração. A TD provoca também uma mudança na estrutura etária.
Indubitavelmente, houve um aumento significativo do padrão de vida dos seres humanos nos últimos 200 anos. Mas todo o enriquecimento da humanidade ocorreu às custas do empobrecimento da natureza e do holocausto biológico dos demais seres vivos do Planeta.
O crescimento demoeconômico foi tão grande que o volume de atividades produzidos pela civilização ultrapassou os limites da resiliência do Planeta.
O caminho adotado desde a Revolução Industrial e Energética chegou numa encruzilhada, pois não dá mais para continuar a insana marcha forçada de crescimento e acumulação de capital, pois, ecologicamente, é insustentável manter o grau de exploração dos recursos naturais e muito menos manter elevado nível de descarte de resíduos sólidos, poluição em geral e aumento das emissões de gases de efeito estufa.
Não há muitas alternativas para o terceiro milênio. Ou a curva de crescimento demoeconômico sofre uma inflexão urgente, ou a humanidade terá que enfrentar um colapso ambiental de grandes proporções, só comparável com aquele momento em que a Terra foi atingida por um grande meteoro que provocou uma extinção em massa da vida no Planeta e o desaparecimento dos dinossauros.
O “meteoro” que está provocando uma grande extinção de espécies no Antropoceno e gerando mudanças climáticas catastróficas se chama ser humano, mas que ter o mesmo destino dos dinossauros.
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Dois mil anos de crescimento demoeconômico global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU