07 Mai 2019
Um amigo libanês, originariamente médico, que depois se tornou um intelectual e finalmente um sacerdote e bispo, um dia estava me falando sobre sua vocação e reconhecia que a principal dificuldade familiar surgia do fato de que ele fosse filho único. Um pouco surpreso, eu respondi: "Outras vezes você me falou sobre suas irmãs". A resposta dele foi espontânea e um pouco inconsciente: "Mas elas são mulheres!" O eixo da família era garantido apenas pela linha masculina, um fato que na verdade não é totalmente alheio a determinados setores da nossa sociedade.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 05-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
E, no entanto, as coisas nem sempre foram assim, tanto que, para provar isso, uma freira da comunidade de Bose, Lisa Cremaschi, embrenhou-se num trajeto até o século IV-VI e dirigiu-se para ao Egito, Palestina, Síria, Capadócia e Constantinopla (sem, no entanto, ignorar Roma e a Gália) em busca do que poderíamos chamar as "Mães da Igreja", em paralelo com os mais famosos e numerosos Padres da Igreja. De fato, além do abbá, o "pai" espiritual do deserto (sobre eles existem muitas coletâneas de ditos e feitos), havia também a ammá, a "mãe", que tinha uma análoga função de guia espiritual.
Assim, seguindo os estudos histórico-críticos dessa freira atual, nasceu uma fascinante coletânea de Detti e fatti dele donne del deserto (Ditos e feitos das mulheres do deserto, em tradução livre) que afloram em textos marcados por diferentes gêneros literários. Eles vão desde antigos relatos de viagens a biografias (a primeira é a de Macrina, a irmã de um importante Padre da Igreja da Capadócia, Gregório de Nissa, que é seu autor) e chega-se a verdadeiras coletâneas de "ditos" dessas figuras espirituais, apotegmas vivos que às vezes desaguam no relato edificante, muitas vezes confiado a protagonistas pecadoras convertidas. Curioso é também o contexto concreto dentro do qual a experiência dessas "Mães" floresce, que, apesar de serem "monjas" (do grego mónos, portanto, solitárias), estão longe de estarem isoladas.
Aliás, se for verdade que a maioria delas aponta para as duras solidões do deserto, às vezes se disfarçando de homem para serem aceitas (e defendidas) em uma cultura dominada por homens, deve-se enfatizar que algumas, ao contrário, encontram suas oásis místicas em plena cidade, às vezes mesmo permanecendo dentro das paredes de sua casa de origem. Também a tipologia de sua formação é variada. Há aquelas que conseguem falar em nível teológico nas questões doutrinais e eclesiais de seu tempo; outras são diaconisas, não apenas no sentido etimológico do termo, isto é, "a serviço" dos pobres na caridade, mas também com funções litúrgicas.
A este respeito, um texto escrito em torno de 250, a Didascália dos Apóstolos, atribui-lhes a tarefa de ungir com o sagrado crisma as mulheres imersas na fonte durante o rito de batismo presidido pelo bispo. Uma diaconisa, uma certa Lampadione, em vez disso dirigia o coro das celebrações litúrgicas. Outras eram eruditas bíblicas, revelando uma competência extraordinária nas Sagradas Escrituras, como as duas discípulas de São Jerônimo, Paula e Eustóquio, mãe e filha, que conheciam hebraico e grego. Muitas eram guias espirituais a quem os homens também se dirigiam para a formação, como aconteceu àquele que será mais tarde um ilustre mestre do ascetismo, Evágrio Pôntico, que se formou na escola de Melânia, a Anciã (para distingui-la de outra "diretora" espiritual, a neta Melânia, a Jovem).
Certamente, ao lado dessas proeminentes figuras femininas, circulava uma multidão de mulheres anônimas, esquecidas em seus nomes para o registro histórico, mas que viveram uma existência de serenidade e amor, deixando um eco na história do monaquismo. Neste ponto, não resta ao leitor que começar - seguindo o mapa desenhado por Lisa Cremaschi - uma espécie de peregrinação. Paisagens inesperadas se abrirão, não apenas geograficamente, mas também humanas e espirituais. Como mencionamos, as áreas selecionadas são cinco: Egito, Síria, Palestina, Ásia Menor e Ocidente. Um perfil biográfico é traçado de cada ammá que é trazida ao palco, ao qual se segue a verdadeira substância do retrato, ou seja, a antologia textual que lhe diz respeito.
As primeiras a aparecer são a irmã do pai do monaquismo egípcio, o famoso Antônio, que toda a Igreja cristã ainda hoje venera (no rito latino, em 17 de janeiro), e Maria, a irmã do fundador da vida monástica comunitária, o igualmente famoso Pacômio, ambos do século IV. O desfile continua com 26 outras mulheres das diferentes regiões indicadas. Há, por exemplo, Sinclética, uma personagem genial e atormentada que conhece a tristeza e a acídia, mas também "a alegria indescritível". Existe até mesmo a concretude da vida cotidiana, por exemplo, com o realismo das latrinas e a história de uma monja que se finge de bêbada, assim como a norma de evitar as fechaduras para permitir a liberdade de abandonar a árdua escolha da vida comum monástica.
Também nos deparamos com a monja vaidosa que ostenta jejuns por duzentas semanas alimentando-se apenas a cada seis dias, como acontece com o asceticismo exasperante das sírias Marana e Cira, que beira o masoquismo, ou nos encontramos com uma mulher de Jerusalém que permaneceu por seis anos reclusa vestida apenas com um saco. Por causa desse excesso, foi negativamente marcada por um dos textos principais para o nosso tema, a História lausíaca de Paládio, uma história de viagens que vai de 419 a 420 e assim chamada porque é dedicada a Lauso, camareiro do imperador de Constantinopla. Extraordinárias pela sua doçura, ao contrário, são as duas Melânias já mencionadas, aristocráticas e cultas, que se tornam pobres para seguir o Cristo pobre, com um amor apaixonado e livre. Análogo será o episódio das já mencionadas discípulas de São Jerônimo, as nobres romanas Paula e Eustóquio, que seguirão seu mestre até Belém para viver sua existência nas fontes da fé cristã.
Poderíamos continuar a lista de figuras que passam diante do leitor em uma maravilhosa galeria de retratos: de Olímpia, que encontra seu deserto no coração da cidade, a Blesila, uma mulher rica e alegre que tem a vida atravessada por um drama destinado a mudar a sua alma; de Marcela, pertencente a uma das mais ilustres famílias romanas, que se tornará teóloga, até sua amiga Leia que "parecia pobre e insignificante", apesar de ter sido no passado muito dotada de bens econômicos, tendo enriquecido internamente. Sem mencionar a desconcertante história de Fabíola, que abandona o marido depravado por outro homem, mas que encontraremos no final a cuidar dos pacientes mais graves de um hospital em Roma. Um famoso Padre da Igreja, João Crisóstomo, não hesitava em reconhecer que "essas mulheres lutaram melhor que os homens e trouxeram os mais esplêndidos troféus" (assim foi dito, em uma homilia sobre o Evangelho de Mateus).
Lisa Cremaschi (ed.) Detti e fatti delle donne del deserto, Qiqajon, Bose (Biella), p. 287, 28 €.
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Santas monjas no deserto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU