11 Abril 2019
O orgulho é “a atitude mais perigosa de qualquer vida cristã”, e “pode contagiar também as pessoas que vivem uma vida religiosa intensa”. A afirmação foi do Papa Francisco, durante a Audiência geral de hoje na Praça São Pedro, durante a qual ele continuou com seu ciclo de catequese sobre o Pai Nosso. Francisco destacou que ao invés de se considerarem “perfeitos”, os cristãos deveriam ser conscientes de que todos são pecadores e “devedores” em relação a Deus.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 10-04-19. A tradução é de Graziela Wolfart.
“Jesus nos ensina a pedir ao Pai: ‘Perdoa nossas ofensas como também nós perdoamos aos que nos ofendem’”, recordou o Pontífice argentino. “Assim como precisamos de pão, também necessitamos perdão. E isto todos os dias. O cristão que reza pede a Deus, antes de qualquer coisa, que perdoe suas dívidas, ou seja, seus pecados, as coisas ruins que faz. Esta é a primeira verdade de toda oração: mesmo que fôssemos pessoas perfeitas, mesmo que fôssemos santos cristalinos que nunca se afastam de uma vida de bem, continuamos sendo filhos que devem tudo ao Pai. A atitude mais perigosa de qualquer vida cristã – continuou o Papa – qual é? Vocês sabem? É o orgulho”.
“É a atitude de quem se põe diante de Deus pensando que sempre tem as contas em dia com Ele, o orgulhoso acredita que tudo está em seu lugar”, continuou Francisco, citando a parábola evangélica do fariseu que “crê que reza, mas na realidade elogia a si mesmo perante Deus”, dizendo “te agradeço Senhor porque eu não sou como os outros”, e, ao contrário, o publicano que “se detém na entrada do templo, não se sente digno de entrar, e se entrega à misericórdia de Deus”.
“Há pecados evidentes que fazem barulho, mas também há pecados escondidos, que se aninham no coração sem que nos demos conta. O pior destes é a soberba…. Orgulho e soberba são mais ou menos a mesma coisa: soberba que pode contagiar também as pessoas que vivem uma vida religiosa intensa. Havia uma vez – acrescentou Francisco – um convento de freiras famosas no século XVIII, na época do jansenismo, eram perfeitas e se dizia que eram puríssimas como anjos, mas soberbas como demônios: é uma coisa muito feia”.
Os seres humanos, pelo contrário, são “devedores”, disse o Papa, “porque, mesmo que consiga amar, ninguém é capaz de fazê-lo somente com suas forças. Podemos amar, mas com a graça de Deus. Ninguém brilha com luz própria. Existe isso que os teólogos antigos chamavam de “mysterium lunae” não só na identidade da Igreja, mas também na história de cada um de nós: a lua reflete a luz do sol e também nós, a luz que temos é um reflexo da graça de Deus. Se amas é porque alguém, fora de ti, te sorriu quando eras criança, ensinando-te a responder com um sorriso. Se amas é porque alguém a teu lado te despertou o amor, fazendo-te compreender que nele está o sentido da existência”.
“Tratemos – pediu o Papa, que na Quinta-feira Santa celebrará a missa in “Coena Domini” no Presídio de Velletri – de escutar a história de qualquer pessoa que tenha errado: um preso, um condenado, um drogado. Conhecemos tanta gente que erra na vida. Deixando de lado a responsabilidade, que sempre é pessoal, pergunte-se algumas vezes quem deve ser culpado por seus erros: se somente a consciência, ou a história de ódio e de abandono que alguns carregam. É este o mistério da lua: amamos antes de tudo porque fomos amados, perdoamos porque fomos perdoados. E se alguém não foi iluminado pela luz do sol, torna-se gélido como o solo durante o inverno. Como não reconhecer, na corrente de amor que nos precede, também a presença providencial do amor de Deus?”.
Francisco, que havia começado a catequese animando os fiéis que o escutavam sob a chuva (“O dia não é tão bonito, mas, bom dia, de qualquer maneira!”), no final da audiência saudou as religiosas que participam do Curso da União de Superioras Maiores da Itália e da Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação “Auxilium”.
Estavam presentes na Praça São Pedro o bispo de Rouen, monsenhor Dominique Lebrun, e um grupo de sua diocese, que visitaram Roma para entregar à Congregação vaticana para as Causas dos Santos os documentos sobre o processo de beatificação do padre Jacques Hamel, idoso sacerdote francês que foi assassinado por jihadistas franceses de origem magrebina, enquanto rezava a missa no dia 26 de julho de 2016. Depois do assassinato, o Papa, falando imediatamente sobre o martírio, decidiu revogar a prática de esperar cinco anos a partir da morte para abrir uma causa de beatificação e canonização. A fase diocesana foi concluída no último dia 9 de março.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“A atitude mais perigosa de qualquer vida cristã é o orgulho”, constata Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU