09 Abril 2019
O clericalismo dá uma falsa ideia de Deus, mata o Espírito, divide os fiéis, põe em dificuldade os próprios padres e trai a tradição... E talvez, então, não seja responsável apenas pela pedofilia na Igreja, como afirma o Papa Francisco.
O comentário é do jornalista e escritor italiano Roberto Beretta, em artigo publicado por Vino Nuovo, 30-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Clericalismo: uma doença mortal” era o título atribuído a duas conferências, respectivamente do novo bispo de Asti, Marco Prastaro, e do teólogo e liturgista Andrea Grillo, em uma jornada de estudos organizada nos últimos dias na Diocese de Milão pelo grupo de evangelização Decapoli. Quem quiser poderá ouvir aqui as interessantes intervenções, na íntegra [em italiano] [assista abaixo às conferências de Dom Prastaro e do Prof. Grillo]. Vou me limitar a simplesmente relatar algumas definições, do modo como as apontei a partir da boca dos oradores.
- O clericalismo é um vício estrutural da Igreja e ameaça a tradição, porque impede que Cristo “saia” das estruturas que o oprimem.
- O clericalismo nasce do “sobreaquecimento autoritário” do antimodernismo, que é uma forma mentis nascida de um mau impacto com o mundo, entendido como um lugar cheio de armadilhas da qual nos defendemos obedecendo a um “sistema” seguro.
- O clericalismo deriva de uma ideia equivocada de Deus, porque nega a visão de um Pai que já nos precedeu no coração dos homens e das mulheres, até mesmo para além da presença de uma classe sagrada.
- O clericalismo quer constituir uma espécie de “aristocracia” no povo de Deus. Por isso, são necessários para ele elementos que marquem a “diversidade” daqueles que faziam parte dele (por exemplo, um “uniforme”).
- O clericalismo nega o sensus fidei do povo de Deus, porque apela a uma doutrina estabelecida de uma vez por todas.
- O clericalismo nega os sinais dos tempos, porque impede de aprender com a realidade e de mudar. Nesse sentido, imuniza a Igreja da vida.
- O clericalismo não confia no Espírito, que é uma abertura a novas possibilidades. Ele entende a tradição como museu imóvel, não como um jardim em crescimento.
- O clericalismo expõe os próprios padres a riscos, como o de se sentirem “funcionários” ou – pelo contrário – inadequados para as expectativas, além da tentação de abuso de poder.
- O clericalismo nega o primado da consciência.
As definições, espalhadas aqui e ali na exposição dos renomados oradores, postas em fila uma após a outra, constituem uma série indubitavelmente impressionante. Certamente é possível especificar, discordar, discutir; no entanto, não se pode negar que a lista leve a refletir e, talvez, a concluir que “Clericalismo: uma doença mortal” não é uma frase exagerada.
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Clericalismo, uma doença mortal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU