25 Janeiro 2019
No México continuam as agressões contra sacerdotes, agentes de evangelização e lugares de culto. O ano de 2018 foi um dos mais perigosos para o ministério sacerdotal e as agressões cometidas contra presbíteros tiveram altas incidências, sendo que 26 deles perderam a vida de forma violenta. A reportagem é de Guillermo Gazanini Espinoza, publicada em Religión Digital, 23-01-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
Existem, além disso, outras agressões menos conhecidas e que poderiam ter tido um desenlace fatal. A Unidade de Investigações do Centro Católico Multimedial recebeu a denúncia do padre Raúl Cervera Milán, membro da Companhia de Jesus, que exerce seu ministério no município de Huayacocotla, serra norte de Veracruz, limítrofe com o Estado de Hidalgo.
Essa zona é um lugar acidentado pelas condições geográficas. Ali acontece o Projeto Serra Norte de Veracruz. Jesuítas e jovens leigos – homens e mulheres – compartilham a vida e os conflitos dos povos campesinos e indígenas nahua, otomí e tepehua da serra e huasteca.
Seu trabalho contempla a luta pelos direitos humanos, pela cultura e pela religião indígena, pela organização comunitária, saúde, economia popular e solidária e pela problemática da emigração, vinculando-se com equipes leigas e eclesiásticos das dioceses de Tulancingo, Huejutla e Tuxpan e as redes nacionais de defesa dos direitos indígenas.
Uma ferramenta importante é a rádio comunitária A Voz Campesina, cuja frequência chega a 1.300 povos e comunidades de 140 municípios dos Estados de Hidalgo, Veracruz, Puebla e San Luis Potosí.
Em dezembro último, o padre Raúl Cervera foi agredido violentamente por dois desconhecidos na comunidade de Viborillas. A ação cometida com arma de fogo não causou lesão alguma no sacerdote, que fez as denúncias cabíveis. No entanto, passado um mês desta tentativa, os jesuítas da região tiveram como resposta o silêncio das autoridades.
A falta de coordenação, escassez de peritos e investigadores, desinteresse das autoridades e zero profissionalismo da atividade policial, propiciaram a impunidade do caso. Quem foram os responsáveis pela agressão contra o padre Raúl Cervera?
É incontestável que o trabalho realizado na região do Estado de Veracruz não agrada os poderosos e líderes. Os jesuítas da comunidade não hesitam em salientar que a agressão poderia ter sido cometida como mensagem ao terem mexido com os interesses de grupos ilícitos e criminosos.
O caso teve a recusa da justiça e a impunidade, não encontrando os responsáveis pela agressão. Sem ações contundentes das autoridades, a comunidade toma as medidas de segurança diante do aumento alarmante de assaltos e assassinatos em Veracruz, localidade ferida pelo crime, pela violência e pela corrupção desenfreada.
A denúncia do caso, feita através do Centro Católico Multimedial, é uma ação urgente para impedir outras agressões e atos violentos por causa do trabalho de ministros e agentes evangelizadores da Igreja.
A seguir, o relato dos fatos ocorridos em 13 de dezembro, onde se agrediu Raúl Cervera Milán, sacerdote da Companhia de Jesus.
No dia 13 de dezembro, às 8h30min da noite, o sacerdote Raúl Cervera Milán, da Companhia de Jesus no México, voltava para a casa da comunidade jesuíta depois de terminar seu trabalho na administração [cabecera] municipal de Huayacocotla, na serra norte de Veracruz.
Ia em um Volkswagen sedan branco. Uns metros antes de chegar em sua casa, em Viborillas, comunidade situada a cerca de quatro quilômetros de Huayacocotla, foi interceptado por dois sujeitos que vinham caminhando em sentido contrário.
Um deles se aproximou do lado direito do carro e abriu a porta subitamente, aproveitando a lentidão do carro devido ao caminho irregular. Diante desta situação, o padre Raúl reagiu e acelerou.
Foi nesse momento que a pessoa que ficou ao lado esquerdo disparou uma pistola, estando alguns metros atrás do carro. A bala poderia ter atingido a cabeça do padre Raúl Cervera, e acabou se alojando no ângulo traseiro do carro, próximo da janela.
Depois de escapar desta agressão, o sacerdote voltou à administração de Huayacocotla por outro caminho e pediu ajuda à polícia municipal para ser escoltado de novo até sua casa. Levou-o até lá o comandante Manuel Vite, com mais três policiais municipais.
Na casa da comunidade se encontrava o padre Alfredo Zepeda González, que vive na serra do norte de Veracruz há 38 anos. Trocaram números de telefone com os policiais e saíram para pernoitar na administração municipal como precaução imediata.
Na sexta-feira, dia 14, denunciaram a agressão e tentativa de homicídio para a promotoria local. Os remeteram à Polícia Ministerial depois da declaração do padre Raúl Cervera, mas lhes disseram que não havia perito para a reconstituição dos fatos, nem para examinar a bala que perfurou a lataria e que o policial investigador estava ocupado em outro caso de assassinato.
Acrescentou que não havia coordenação com a polícia municipal. Até que no dia 20, pela manhã, chegou na casa dos padres o chefe do grupo de polícia de segurança estatal, Eulalio Hernández Hernández. Tiraram fotografias do buraco da bala e deram seu número de telefone.
Os padres Alfredo Zepeda e Raúl Cervera pediram que pelo menos fizessem algumas passagens de vigilância na comunidade e que registrassem que as estradas do bairro estão em estado deplorável; isso impede de dirigir a mais de quatro quilômetros por hora. Por isso o assaltante abriu a porta facilmente na passagem do carro.
Em reunião com as autoridades e vizinhos da comunidade de Viborillas se concluiu que não há garantias de segurança na comunidade. Depois do atentado com tentativa de homicídio contra o padre Raúl continua a falta de coordenação entre as polícias de segurança, entre os membros da ministerial, não houve perícia, nem investigação.
No domingo, dia 5 de janeiro, as autoridades de Viborillas e os padres, conseguiram uma entrevista com o Prefeito Municipal de Huayacocotla, Juan Lemus, para exigir a reforma da estrada, iluminação das vias, vigilância e coordenação entre as corporações policiais. Só obtiveram a promessa do conserto da estrada. O prefeito municipal garantiu que a insegurança diminuiu com a contratação do comandante Manuel Vite.
Há mais de um mês da ocorrência na polícia ministerial, dependente da promotoria local, nem sequer foi iniciada uma investigação operacional, à parte de interrogatórios aos padres, contrastando com o apoio próximo da comunidade de Viborillas, que tomou medidas de segurança e vigilância.
A equipe do Projeto Serra Norte de Veracruz a qual pertencem os padres jesuítas Alfredo Zepeda e Raúl Cervera é formada por jovens leigos, homens e mulheres. Compartilham a vida e os conflitos dos povos campesinos e indígenas nahua, otomí e tepehua da serra e na huasteca.
Nesta região marginalizada, o trabalho compreende a luta pelos direitos humanos, pela cultura e pela religião indígena, pela organização comunitária, pela saúde, pela economia popular e solidária e pela problemática da emigração, vinculado com outras equipes leigas e eclesiais das dioceses de Tulancingo, Huejutla e Tuxpan e pelas redes nacionais de defesa dos direitos indígenas.
O projeto foi fundado há quatro décadas e gerencia a rádio comunitária leiga XHFCE, A Voz Campesina, transmitindo nas quatro línguas da região. É ouvida na serra madre oriental e em todo o conjunto da huasteca veracruzana, potosina, hidalguense e poblana. A rádio de Huayacocotla é membro da Associação Latino-americana de Educação e Comunicação Popular (ALER) com status consultivo na UNESCO.
Obviamente este trabalho comprometido toca nos interesses de poderosos e exploradores das comunidades e territórios indígenas. As ameaças veladas e abertas nunca faltaram contra a equipe deste projeto e de outros agentes eclesiais e sociais da região.
Os assaltos e assassinatos aumentaram alarmantemente na região durante o último ano. A impunidade que impera diante da passividade das autoridades judiciais e de segurança foi propícia igualmente para esta recente agressão.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
México: A agressão contra os jesuítas da serra norte de Veracruz permanece impune - Instituto Humanitas Unisinos - IHU