05 Dezembro 2018
Os bispos e os movimentos católicos tentam compreender a contestação social nascida da alta dos preços dos combustíveis, mas os posicionamentos ainda são pouco numerosos.
A reportagem é de Arnaud Bevilacqua e Pierre Sautreuil, publicada por La Croix, 03-12-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
"É um clima deletério, apaixonado, pesado, inimaginável. Nós vemos emergir pessoas que os radares nem tinham reparado até então, uma raiva que se manifesta a respeito de um imposto sobre os combustíveis, mas que faz emergir muito mais que o fato que deu ignição a isso... é um sentimento mais geral de abandono, inexistência, insignificância."
Essas fortes palavras foram ditas por Dom Jacques Benoit-Gonnin, bispo de Beauvais, entrevistado pela Rádio Notre-Dame sobre o movimento dos coletes amarelos. Ele explicou que não pode ficar “indiferente” à raiva das pessoas que se sentem como resíduos.
Se antes de sábado, 01-12-2018, a Igreja da França ficou recuada, a crise tornou-se incontornável e suas vozes se fizeram ouvir. Dom Olivier Ribadeuau Dumas, secretário-geral da Conferência dos Bispos da França (CEF, sigla em francês), destacou “o papel e a responsabilidade” dos católicos para “participar da reconstrução do laço social”. “Nós devemos escutar, dialogar e apaziguar”, insistiu o bispo na entrevista ao La Croix.
Sábado, 01-12, ele reagiu no Twitter, condenando a violência, mas apontando especialmente “a fratura profunda entre as ‘elites’ e aqueles que se sentem mais excluídos”.
“Alguns pedem aos bispos um pronunciamento sobre os coletes amarelos. Porém o que diria de inteligente e inspirador?”, perguntou dom Malle, bispo de Gap et Embrun, na mesma rede social, antes de citar Frédéric Ozanam. No dia 21-11, D. Gilbert Aubry, bispo de Saint-Denis, da ilha de Reunión — onde a contestação está muito viva — escreveu um texto intitulado: “Os ‘coletes amarelos’ e os desordeiros, causas e remédios? ”. “Nós temos 40% de nossa população que vive abaixo da linha da pobreza e sabemos que o desemprego está em 24%”, enfatiza. “Alguns dizem que eles não têm mais o que comer no fim do mês. Essa é a realidade”, afirma o bispo.
No entanto, nenhum movimento da Igreja aparece diretamente engajado no movimento. No Movimento Cristão de Aposentados, o presidente Jérome Deschard destaca uma “preocupação” compartilhada sobre o poder de compra, e vê uma “solidariedade” dos membros. Entretanto, o movimento não prevê uma ação ou uma fala.
Do seu lado, a Ação Católica Operária se expressou por um comunicado datado de 23 de novembro sobre os coletes amarelos. “Eles gritam sua raiva e apoiam reivindicações sociais face a um poder muitas vezes desdenhoso e arrogante com os fracos e favorecendo os mais ricos”, destacam. “Nós convidamos ao engajamento sindical ou político para se trabalhar no cotidiano”, especifica Sylvie Merigard, porta-voz do secretariado nacional da organização, que aponta para o risco de transbordamentos e recuperação política nos movimentos “que não estão estruturados”.
Ausência de estrutura, risco de transbordamento, fenômenos mal identificados; esses são os argumentos mais recorrentes para justificar a atitude cautelosa observada no momento pelos movimentos da Igreja a respeito dos coletes amarelos. “Essa não é uma mobilização clássica, com uma afiliação política ou sindical clara”, afirma a Juventude Operária Cristã, que apesar das simpatias internas, afirma que é “ainda está complexo para expressar uma posição”.
Mesma reação do lado do Movimento Rural da Juventude Cristã. “O movimento dos coletes amarelos é muito diverso, as reivindicações variam de um grupo ao outro, é difícil ou impossível fazer de fato uma análise do que se passa”, afirma Simon Coutand, membro do diretório nacional. Nas dez seções departamentais do Movimento Rural de Jovens Cristãos consultadas por La Croix, nenhum sinalizou aproximação com os coletes amarelos.
“Não vamos entrar em qualquer coisa populista ou revolucionária”, define Philippe Royer, presidente do movimento de Empreendedores e Dirigentes Cristãos, inquieto pela presença de militantes de extrema direita e de extrema esquerda entre os coletes amarelos. “Nosso papel é de segurar um recuo com inteligência para compreender o atual trabalho de mudanças, sem que nós sejamos incapazes de sustentar uma visão”, continua.
Recusando-se a escolher “entre justiça social e preservação da nossa casa comum”, o Secours Catholique (Cáritas Francesa) justamente tenta tomar um recuo. Enquanto apoia com vigor a transição ecológica, a associação, por uma nota de 23-11, constata também que a alta dos preços dos combustíveis ataca os “mais pobres”, aqueles que vêm cada vez mais aos seus atendimentos. “Para eles, um gasto mensal maior de algumas dezenas de euros na bomba é sinônimo de sacrifício em suas despesas essenciais”.
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França. Como a Igreja Católica percebe o movimento dos coletes amarelos? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU