15 Novembro 2018
Alguns bispos têm estado mais preocupados com a reputação da Igreja do que com as vítimas de abuso sexual, indicando uma “clara corrupção” e um “ponto cego” que deve ser enfrentado, disse o arcebispo Paul Etienne, de Anchorage, no Alasca.
A reportagem é de National Catholic Reporter, 14-11-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Etienne sugeriu um estudo – semelhante ao estudo do John Jay College de 2011 sobre as “causas e o contexto” dos padres que abusaram de menores – para ajudar a entender “a atitude episcopal que foi capaz de lidar com a situação de abuso de maneira tão inepta ao longo das décadas”.
Ele também criticou os bispos “que se acostumaram demais a ouvir mais os advogados do que as vítimas” e disse que ele e seus coirmãos bispos devem permanecer vigilantes contra “os três Ps” – orgulho [pride] e desejo de privilégio e poder.
“Essa é uma corrupção da nossa vida como pastores que tem que ser chamada pelo nome e à qual temos que dizer: ‘Não mais. Isso não é tolerável’”, disse Etienne ao NCR em uma entrevista após a sessão da manhã do dia 13 de novembro da reunião da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, em Baltimore.
Mais tarde naquele dia, Dom Shawn McKnight, bispo de Jefferson City, Missouri, tomou a palavra e sugeriu um estudo similar sobre “as causas profundas do abuso de poder” na crise.
Etienne também sugeriu que o corpo de bispos compusesse e tornasse pública uma comunicação ao Papa Francisco sobre “quão sérios nós estamos em nossa determinação de lidar concretamente com a crise”.
“Temos que oferecer uma garantia clara às pessoas de que entendemos a mensagem”, disse o bispo de 59 anos.
Etienne disse que continua otimista, vendo a reunião de quatro dias como uma oportunidade para um “momento decisivo” para que as lideranças da Igreja “falem muito claramente sobre o nosso próprio desejo de tomar medidas concretas”.
“Tenho grandes esperanças de que nós, como um corpo, estejamos à altura do desafio que está diante de nós”, disse. “A minha oração é que os bispos estejam prestando atenção à voz de Deus por meio do Espírito Santo.”
Ele disse estar surpreso, mas “não muito alarmado” com o anúncio no início da reunião do dia 12 de novembro de que o Vaticano havia pedido aos bispos dos Estados Unidos que adiassem sua votação planejada sobre os protocolos para enfrentar os abusos sexuais até depois da cúpula vaticana de presidentes das Conferências Episcopais em fevereiro.
Etienne apoia as propostas para um sistema de denúncia de terceiros, um novo código de conduta para os bispos e uma comissão especial para analisar as denúncias contra os bispos – embora ele tenha se sentido frustrado com a falta de consultas mais amplas sobre a sua criação.
Mas ele está esperançoso de que o Papa Francisco – que ele acredita que respeita as Conferências Episcopais – trará normas novas e concretas para consideração, senão até promulgação, em fevereiro. “Acho que ele está apenas nos pedindo para respeitar esse processo, e eu não tenho problemas com isso”, disse.
Etienne também disse que ficou entusiasmado com o anúncio do dia 13 de novembro de que o Papa Francisco havia nomeado o arcebispo Charles Scicluna, de Malta, como secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé. Scicluna é considerado por muitos como o mais respeitado investigador de abusos da Igreja.
Etienne reconheceu que muitos católicos estão frustrados com essa última iteração da crise dos abusos sexuais. “Eles estão prontos para que todas as cartas sejam postas sobre a mesa”, disse. “Eles estão cansados desse ‘gota a gota’, uma bomba caindo depois da outra.”
Mas ele alertou que não há “correções rápidas”.
O desafio para os bispos, hoje, de acordo com Etienne, é “reconhecer onde os nossos próprios corações como pastores, o nosso próprio coração como Conferência precisam ser renovados no coração de Cristo”.
Etienne foi nomeado para liderar a Arquidiocese de Anchorage depois de atuar como bispo de Cheyenne, Wyoming, de 2009 a 2016. Em Cheyenne, Etienne havia proibido um bispo antecessor, Dom Joseph Hart, de celebrar serviços litúrgicos públicos por causa de denúncias de abusos sexuais de menores que remontam ao tempo em que Hart era padre na Diocese de Kansas City-St. Joseph, Missouri.
Embora uma investigação civil de relatos de que Hart abusou de dois meninos em Wyoming não tenha encontrado evidências que apoiassem essas denúncias, novas evidências em meados deste ano levaram o atual bispo de Cheyenne, Dom Steven Biegler, a considerar plausíveis as denúncias e a exigir medidas disciplinares.
Em agosto, depois que o ex-cardeal Theodore McCarrick deixou o Colégio dos Cardeais, Etienne apresentou um plano de sete pontos que incluía um comitê ad hoc de bispos, a criação de um Conselho Nacional de Revisão de bispos e leigos que se reporte diretamente ao Vaticano e um prazo de 60 dias para a transparência em relação à Igreja em geral.
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Bispos precisam abordar ''ponto cego'' dos abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU