11 Outubro 2018
Ansgar Wucherpfennig | Foto: KNA
O Pe. Ansgar Wucherpfennig SJ não foi reconfirmado como reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia Sankt Georgen devido às suas opiniões positivas sobre a homossexualidade.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada em La Croix International, 10-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A recusa do Vaticano a permitir que um popular padre jesuíta continue atuando como reitor de uma prestigiada universidade católica na Alemanha causou indignação entre as autoridades da Igreja local, incluindo o bispo da diocese onde o instituto está localizado e o superior provincial da Companhia de Jesus.
Dois jornais alemães desta semana divulgaram, pela primeira vez, que a Congregação para a Educação Católica decidiu não renovar a sua confirmatio (confirmação canonicamente requerida) do Pe. Ansgar Wucherpfennig SJ como reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia Sankt Georgen, administrada pelos jesuítas, em Frankfurt.
O padre de 52 anos ocupava o posto mais alto da Sankt Georgen desde 2014. O corpo docente da faculdade reelegeu-o majoritariamente em fevereiro passado para um terceiro mandato consecutivo de dois anos.
Os jornais Frankfurter Rundschau e Kölner Stadtanzeiger noticiaram a decisão do Vaticano no dia 8 de outubro, embora ela tenha sido tomada há vários meses.
Os dois jornais disseram que a recusa se deveu aos pontos de vista positivos do Pe. Wucherpfennig sobre a homossexualidade e as bênçãos a casais do mesmo sexo, que foram publicados em uma entrevista a um jornal em 2016.
Eles também disseram que o Vaticano está exigindo que o jesuíta se retrate dessas opiniões, assim como do seu apoio à ordenação de diaconisas.
A notícia da decisão do escritório de Roma causou raiva e indignação entre teólogos de língua alemã e outras lideranças da Igreja.
Além disso, o Pe. Johannes Siebner SJ, superior da província jesuíta da Alemanha, e Dom Georg Bätzing, bispo de Limburg, se uniram aos professores da Sankt Georgen em uma forte declaração pública de apoio a Wucherpfennig.
O Pe. Siebner acusou as autoridades vaticanas de agirem como um “tribunal bizantino”. Ao site Katholisch.de, no dia 8 de outubro, ele disse: “É como se eles não tivessem ouvido falar ou não entendessem a discussão em andamento sobre o abuso de poder”.
O superior jesuíta revelou que a Congregação para a Educação o havia informado em junho passado que não confirmaria o Pe. Wucherpfennig unicamente por causa das opiniões sobre a homossexualidade que o reitor havia expressado na entrevista de 2016.
Ao Frankfurter Neue Presse em outubro daquele ano, Wucherpfennig disse que a sua “impressão” era de que a atitude negativa da Igreja em relação à homossexualidade estava relacionada a “frases bíblicas profundamente enraizadas e, em parte, enganosamente redigidas”.
Ele indicou a Carta de São Paulo aos Romanos, que, segundo ele, reflete a visão do mundo antigo de que as relações homossexuais “eram relacionamentos de forte dependência e subserviência”.
O padre concluiu que “o amor deve ser uma relação igualitária, e não assimétrica”, e acrescentou: “A meu ver, é isso que São Paulo realmente queria dizer”.
O Pe. Wucherpfennig disse à televisão estatal alemã, no dia 9 de outubro, que ele não conseguia entender as reservas do Vaticano em relação ao prolongamento do seu mandato como reitor da Sankt Georgen.
Ele disse que a recusa vaticana a reconfirmá-lo seria prejudicial a gays e lésbicas, que só recentemente começaram a perceber que a Igreja está se abrindo mais a eles.
Ele disse que ainda é uma situação muito delicada, mas gays e lésbicas estão começando a encontrar o caminho para a Igreja. “E agora a Igreja desceu sobre eles com um martelo”, disse o padre jesuíta.
Ele disse ter confiado nos comentários comparativamente liberais do Papa Francisco sobre como os homossexuais devem ser tratados.
“Por isso, não consigo entender por que os freios estão sendo acionados especialmente pelos seus empregados mais próximos no Vaticano”, disse o padre.
O superior imediato de Wucherpfennig, Pe. Siebner, disse temer que alguém dos chamados círculos “turbo-católicos” tenha enviado a entrevista de 2016 às autoridades em Roma, onde ela ficou guardada na gaveta por um ano e meio, sendo tirada depois apenas para impedir a renomeação do reitor.
“Naturalmente, isso é pura especulação da minha parte”, admitiu o provincial jesuíta.
“Eu tenho a sensação de que se trata de subterfúgios, já que o que Wucherpfennig expressou como uma possível consideração é perfeitamente plausível. O modo tortuoso como o Vaticano se pronuncia sobre a homossexualidade não funciona mais e também é obsoleto.”
“Nós temos um teólogo aqui que diz: ‘Vamos ver o que São Paulo quis dizer e o que a pesquisa histórico-crítica do Novo Testamento faz com isso’”, disse o Pe. Siebner.
O provincial jesuíta também disse que estava extremamente irritado por não ter havido nenhum diálogo com as autoridades do escritório vaticano para a educação.
Ele disse que o procedimento normal seria pedir que o Pe. Wucherpfennig esclarecesse o que ele havia declarado.
Em vez disso, eles simplesmente declararam que a confirmatio da Congregação havia sido recusada e exigiram que Wucherpfennig declarasse publicamente que reconhece o magistério da Igreja sobre a reserva do sacerdócio aos homens e também sobre “a doutrina referente à avaliação moral dos atos homossexuais”.
O Pe. Siebner disse que havia explicado às autoridades da Congregação vaticana que, se Wucherpfennig fosse forçado a se retratar publicamente, isso provocaria escândalo, já que o padre não havia contradito o magistério fundamental da Igreja.
“Ele não negou a Trindade ou o nascimento virginal, por exemplo”, disse o Pe. Siebner.
O superior provincial reiterou seu total apoio ao Pe. Wucherpfennig e expressou a esperança de que o Vaticano, no fim, confirmará a eleição dele como reitor.
Enquanto isso, Siebner nomeou um pró-reitor temporário para liderar a Sankt Georgen.
Thomas Schüller, professor de Direito Canônico na Universidade de Münster, chamou a recusa do Vaticano a reconfirmar Wucherpfennig de uma óbvia afronta à ordem dos jesuítas, que está tentando levar a Igreja adiante, enfrentando as questões deste tempo.
O canonista de 57 anos disse ao site Domradio.de que, ao mesmo tempo, foi um insulto ao Papa Francisco e ao cardeal Luis Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ambos jesuítas.
Thomas Andonie, presidente da Associação de Jovens Católicos Alemães (BDKJ, na sigla em alemão), disse ao Katholisch.de, no dia 9 de outubro, que a medida vaticana era um “procedimento ultrajante”.
O jovem de 27 anos, que é um dos mais de 30 jovens auditores na assembleia do Sínodo dos bispos deste mês, disse:
“Enquanto nós, no Sínodo dos jovens em Roma, estamos trocando nossos pontos de vista abertamente – de acordo com o desejo expresso do papa –, nós sabemos agora como Roma trata os padres que corajosamente deixam claro o que os jovens desejam da Igreja”.
Adonie defendeu enfaticamente a necessidade de discutir profundamente o abuso sexual clerical no Sínodo e acusou os representantes da Igreja de abusarem do seu poder.
“Eles estão tentando escantear as pessoas, mas isso é algo que a BDKJ rejeita firmemente”, enfatizou.
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Teólogos alemães se irritam com recusa do Vaticano a aprovar reitor jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU