24 Setembro 2018
O Brasil que vai às urnas em 2018 é bem diferente do País de 2014. Indicadores como desemprego e Produto Interno Bruto (PIB) mostram que, há quatro anos, a crise não estava tão presente na vida do brasileiro como está atualmente, às vésperas de um dos pleitos mais conturbados da história do país.
A reportagem é de Fernando Caulyt, publicada por CartaCapital, 23-09-2018.
De acordo com um estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), atualmente, 11,2% da população brasileira, ou seja, 23,3 milhões de pessoas, um número maior do que a população do Chile, por exemplo, vive abaixo da linha de pobreza (232 reais por mês). A miséria subiu 33% entre 2014 e 2017, quando surgiram 6,3 milhões de novos pobres.
"O ano de 2014 era o período pré-crise, e o governo não mediu esforços em termos de gastos para promover um quadro econômico mais atraente do ponto de vista do eleitor", diz o economista Mauro Rochlin, da FGV. "Hoje, o país chega às vésperas da eleição presidencial mais pobre e com mais desempregados após dois anos consecutivos de recessão econômica."
Desde a primeira década de 2000, o mercado de trabalho mostrava uma recuperação na capacidade de geração de empregos, e o País caminhava para o chamado "pleno emprego", acompanhado ainda do crescimento médio da renda dos trabalhadores. Mas, em 2014, chegou o primeiro sinal forte de que as coisas não iam bem: o país abriu apenas 623 mil empregos formais – uma redução de 58% frente ao ano anterior, quando haviam sido criadas 1,49 milhão de vagas. O resultado de 2014 foi o pior desde 1999.
(Foto: Deutsche Welle)
Nos anos seguintes, o desemprego continuou sofrendo os reflexos da crise econômica pela qual o país passava, com a queda de oito trimestres consecutivos do PIB, de dezembro de 2014 até o primeiro trimestre de 2017.
O indicador cresceu 1% no ano passado, mas o mercado de trabalho, por ser o último a reagir aos movimentos de baixa e alta da economia, ainda não sentiu uma retomada mais consistente. Atualmente, o Brasil registra uma taxa de 12,3%, ou seja, 12,9 milhões de desempregados.
Em 2014, a economia já estava em ritmo de desaceleração após as altas de 7,5% (em 2010), 4% (2011), 1,9% (2012) e 3% (2013). Segundo analistas, a origem da crise se deu pelo fato de, no primeiro mandato de Dilma Rousseff, o governo aumentar excessivamente os gastos, gerando o aumento da dívida pública. Por outro lado, incentivou-se o consumo das famílias e, em 2014, elas já estavam endividadas e freando o consumo. Mesmo assim, a economia registrou uma alta de 0,5%.
(Foto: Deutsche Welle)
A partir de 2015, governo e famílias reduziram seus gastos. Isso se deu não só devido ao endividamento, mas também por causa das altas taxas de juros que, em 2015, alcançaram 14,25%. Após dois anos de retração, a economia voltou a crescer em 2017.
O ano de 2018 mostra famílias brasileiras sendo ainda pressionadas pela elevada taxa de desemprego, e empresas investindo de forma limitada devido à incerteza eleitoral, prejudicando uma retomada mais consistente da economia. Já o governo, com a dívida pública no vermelho, não tem margem de manobra para realizar investimentos.
Em 2014, a inflação de 6,41% foi levemente mais alta em comparação aos 5,91% do ano anterior por causa do aumento dos preços de alimentos e da habitação. Já em 2015, o índice chegou a 10,67%, bem acima da meta do governo de 6,5%.
Entre os vilões da grande alta estavam os chamados "preços administrados" (como energia elétrica e combustíveis), que o governo segurou artificialmente nos anos anteriores e que tiveram seus valores reajustados por Dilma Rousseff após vencer a reeleição.
(Foto: Deutsche Welle)
Após a readequação, as tarifas controladas não subiram tão rápido em 2016 e, consequentemente, não pesaram tanto na inflação. Entre 2016 e 2017, a inflação registrou uma rápida queda devido à crise econômica. Sem dinheiro e emprego, os brasileiros consumiram menos e, devido a uma menor demanda, as empresas tiveram mais dificuldades de aumentar os preços dos produtos. A inflação de 2,95% em 2017 foi a menor desde 1998, quando os preços subiram apenas 1,65%.
Em 2018, o Brasil vê uma pequena elevação do índice devido à alta de custos como dólar, combustíveis e energia elétrica. De acordo com previsões do Relatório Focus de 14 de setembro, do Banco Central, a inflação deverá fechar o ano em 4,09%.
A cotação da moeda americana subiu 12,78% ao longo de 2014, fechando em R$ 2,659. Os principais motivos eram as preocupações e incertezas agravadas pelo cenário eleitoral e pela indefinição do panorama político, o que deixou na época os investidores inseguros. Após a reeleição de Dilma Rousseff, os investidores se voltaram para a nova equipe econômica anunciada pela presidente no final de novembro e para quais seriam as medidas que seriam adotadas no segundo mandato.
(Foto: Deutsche Welle)
Nos anos seguintes, o movimento de valorização do dólar em relação ao real se manteve. Entre os principais motivos estava a elevada dívida pública brasileira, que é considerada por especialistas como o calcanhar de Aquiles do País.
Em 2018, o dólar continuou a escalada de alta devido aos cenários externo – taxa de juros americana e a guerra comercial entre China e EUA – e interno – incertezas sobre o cenário eleitoral, dúvidas do mercado sobre o compromisso dos candidatos com o ajuste fiscal e investidores buscando proteção cambial.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Um Brasil mais pobre vai às urnas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU