19 Setembro 2018
Segundo Francisco, o Sínodo dos Bispos deve ser cada vez mais uma estrutura para ouvir os fiéis católicos, demonstrando a preocupação de um bispo local com toda a Igreja a fim de expressar a unidade dos bispos tanto quanto a sua.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por Catholic News Service, 18-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Substituindo o documento de Paulo VI, de 1965, que estabeleceu o Sínodo dos Bispos e se baseou nas mudanças feitas nos sínodos nas últimas cinco décadas, Francisco lançou uma constituição apostólica fornecendo explicação teológica do papel do sínodo na Igreja e atualizando as regras de como um sínodo está preparado para ser conduzido e implementado.
A constituição, "Episcopalis Communio" ("Comunhão Episcopal"), também declara pela primeira vez que os membros votantes do sínodo não necessariamente têm que ser padres. Em preparação para o Sínodo de outubro sobre os jovens e o discernimento vocacional, a União dos Superiores Gerais - organização de líderes de ordens religiosas masculinas de todo o mundo - elegeu dois irmãos religiosos para serem membros do sínodo.
Discutindo sobre os membros votantes normais do sínodo, as novas regras de Francisco, que foram publicadas apenas em italiano no dia 18 de setembro, estabelecem que "de acordo com o tema e as circunstâncias, outros que não são honrados com deveres episcopais podem ser chamados para a assembleia sinodal. Um papel a ser determinado pelo pontífice romano".
Questionado se isso significava que mulheres religiosas poderiam ser membros votantes do sínodo, Dom Fabio Fabene, subsecretário do Sínodo dos Bispos, disse que de acordo com as novas regras, a União dos Superiores Gerais "pode eleger qualquer religioso do sexo masculino - mesmo não sacerdotes -, como o Papa já havia permitido nas duas últimas assembleias sinodais. Quanto às mulheres, elas já estão presentes como observadoras. Participam tanto da assembleia sinodal quanto dos pequenos grupos, com direito à fala".
"Por ora, está estabelecido que a organização superior dos homens elege os membros, mas a União Internacional das Superioras Gerais não. Por enquanto, é assim que é", disse Fabene.
As principais mudanças que Francisco fez no sínodo são menos visíveis e mais profundas.
Paulo VI estabeleceu o sínodo como um instrumento, através do qual "os bispos escolhidos de várias partes do mundo devem oferecer uma assistência mais eficaz ao Papa.
Mas Francisco, quase desde o início do seu papado, pediu que toda a Igreja fosse "sinodal".
Marcando o 50º aniversário do sínodo em 2015, o Papa disse que a Igreja deve ser sinodal em todos os níveis, onde todos ouvem uns aos outros, aprendem uns com os outros e assumem a responsabilidade de proclamar o Evangelho.
Francisco explica que através do batismo e da confirmação, todos os membros da Igreja foram ungidos pelo Espírito Santo. Mas toda a comunidade da Igreja é infalível quando seus membros discernem juntos e falam com uma só voz em questões de fé e moral.
"O 'sensus fidei' torna impossível separar rigidamente a 'ecclesia docens' e a 'ecclesia discens', pois todos têm a capacidade de discernir novos caminhos que o Senhor está abrindo para a Igreja", disse Francisco em 2015.
Na nova Constituição, Francisco disse que cada bispo deve ser "simultaneamente um mestre e um discípulo", proclamando o Evangelho com o poder do Espírito Santo, mas também ouvindo o que o Espírito Santo inspirou os fiéis leigos a lhe contar.
"Enquanto sua composição se configura como um corpo essencialmente episcopal, o sínodo ainda não vive separado do resto dos fiéis. Pelo contrário, é um instrumento adequado para dar voz a todo o povo de Deus, precisamente através dos bispos", disse o Papa.
Obviamente, Francisco afirmou que o sínodo não é um parlamento católico. "Na Igreja, de fato, o objetivo de qualquer órgão colegiado, consultivo ou deliberativo é a busca da verdade ou de seu próprio bem, então o discernimento orante e a abertura ao Espírito Santo são fundamentais em todos os estágios”.
No entanto, o Papa também disse que o documento final adotado por um Sínodo dos Bispos, quando aprovado por ele e ordenado publicamente, se torna parte do "Magistério Ordinário", ou ensinamento, do próprio Papa.
O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos Bispos, disse a jornalistas que é possível que Francisco ou um futuro Papa decidam que o documento final do Sínodo seja suficiente para um assunto específico, e que ele poderia renunciar a uma exortação apostólica pós-sinodal que João Paulo II começou.
Segundo o cardeal, Francisco via a atualização do sínodo como parte essencial da renovação de "todas as estruturas eclesiais" para que fossem "mais missionárias, isto é, mais sensíveis às necessidades das pessoas, mais abertas ao que é novo, mais flexível em uma época de rápida transformação".
Pe. Dario Vitali, consultor do Sínodo e professor de teologia dogmática na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, disse a repórteres que a constituição do Papa pode ser entendida através do que o então Papa Bento XVI descreveu como "a hermenêutica da reforma em continuidade" de acordo com a tradição da Igreja.
Tais reformas, disse ele, permitem que "toda a Igreja permaneça fiel ao Espírito sem ficar em defesa do passado e de suas formas, sem se aventurar em experimentos a-históricos, mas permanecendo firme na viva, e, portanto, dinâmica tradição da Igreja".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Francisco dá nova visão ao Sínodo dos Bispos: Faz parte do 'Magistério Ordinário' do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU