17 Setembro 2018
O bispo da cidade alemã de Passau, Stefan Oster, exigiu no sábado (15-09-2018) uma autocrítica radical por parte da Igreja em reação aos numerosos casos de abusos sexuais descobertos no país. “Eu sinto raiva, tristeza, consternação, vergonha e perplexidade em tudo o que aconteceu”, disse o bispo em uma mensagem de vídeo emitida dias depois que vieram à tona milhares de casos de abusos perpetrados por padres alemães nas últimas décadas. “Precisamos de uma forma radical de autocrítica”, insistiu.
A reportagem é publicada por Deutsche Welle, 15-09-2018. A tradução é de André Langer.
Para Oster, a culpa por se ter chegado tão longe é do “sistema eclesial”. “Muito do que aconteceu fazia parte de um sistema. Muitas vezes prevaleceu a proteção da Igreja como instituição ou a reputação do sacerdócio”, disse Oster. “Temos a vontade de reconhecer a nossa culpa, também a culpa de todo o sistema do qual fazemos parte?”, perguntou-se ele. “Estamos em condições de mudar o sistema que opta mais pela autoproteção do que pela proteção das vítimas?”, prosseguiu.
Um relatório da Conferência Episcopal da Alemanha sobre casos de abusos sexuais na Igreja alemã trouxe resultados estarrecedores. De acordo com os semanários Der Spiegel e Die Zeit, no período entre 1946 e 2014 houve um total de 3.677 casos de abusos sexuais de crianças e adolescentes por parte de 1.670 clérigos. O relatório será lançado oficialmente no dia 25 de setembro.
“Sabemos muitas coisas, mas certamente não sabemos tudo”, comentou o bispo, convencido de que há mais vítimas do que as detalhadas na investigação. “A situação é pior do que sabemos. E o que sabemos é por si só horroroso”. Oster também se perguntou se a Igreja será capaz de recuperar a confiança dos fiéis.
O criminologista Christian Pfeiffer, que foi originalmente encarregado para coordenar o estudo, mas se retirou por causa de divergências com a Igreja, disse ao Spiegel que o relatório tinha “muitos pontos fracos”. “Neste estudo, nem todas as pessoas possíveis foram interrogadas”, apontou. Pfeiffer criticou a decisão da Igreja de não permitir que os especialistas das universidades de Mannheim, Heidelberg e Giessen examinassem os documentos por conta própria e tivessem que tomar por base os dados proporcionados pela própria instituição.
Foi “um grande erro”, disse Pfeiffer, e exigiu um novo estudo “que jogue luz sobre todo esse campo escuro”. Os casos de abusos sexuais na Igreja alemã somam-se aos casos denunciados em outros países, como Chile, Irlanda, Austrália e Estados Unidos. O Papa Francisco convocou os principais líderes da Igreja católica para uma reunião, no começo do ano que vem, para abordar formas de proteger as crianças e adolescentes dos abusos cometidos por sacerdotes.
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Bispo alemão exige autocrítica radical na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU