18 Agosto 2018
"Nenhuma cura ou reforma genuína podem começar sem uma demonstração de arrependimento”, dizem em declaração.
A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada por National Catholic Reporter, 17-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Mais de 140 teólogos, educadores e líderes leigos pediram que todos os bispos dos EUA submetessem suas demissões ao Papa Francisco, assim como fizeram os 34 bispos do Chile em maio - depois de revelações de abuso sexual e corrupção -, como um ato público de penitência e uma “abdicação voluntária” de seu status”.
"Hoje, pedimos aos bispos católicos dos Estados Unidos que rezem e genuinamente considerem submeter ao Papa Francisco sua renúncia coletiva como um ato público de arrependimento e lamentação diante de Deus e de seu povo. Só então o processo doloroso de cura começa", disse um comunicado publicado em inglês e espanhol no blog Daily Theology na sexta-feira.
A declaração veio em resposta à publicação de um relatório do grande júri que detalhou sete décadas de abuso sexual por parte do clero e encobrimento por líderes de Igrejas em seis dioceses da Pensilvânia, bem como alegações feitas no início deste verão pelo ex-arcebispo de Washington Theodore McCarrick, que abusou sexualmente de duas crianças e de seminaristas adultos.
"Ficamos envergonhados e sem palavras diante dos terríveis atos que esses padres cometeram contra crianças inocentes”, disse o comunicado.
“Estamos arrasados com a conspiração do silêncio entre os bispos que exploraram as feridas das vítimas como garantia de autoproteção e preservação do poder. É claro que foi a cumplicidade de Deus que permitiu com que esse mal radical surgisse com impunidade.”
Reconhecendo que alguns bispos são servos humildes e pastores bem intencionados’. Os defensores da declaração ainda pediram uma renúncia coletiva de todos os bispos por causa da "natureza sistêmica desse mal", conforme diz o comunicado.
“O pecado sistêmico não pode ser finalizado por boa vontade individual. Suas feridas não são curadas através de declarações, investigações internas ou campanhas de relações públicas, mas sim através de responsabilidade coletiva, transparência e apuração da verdade”, disse o comunicado.
"Somos responsáveis pela casa em que vivemos, mesmo que não a construamos", afirmou o comunicado.
A declaração também expressou apoio a “propostas sólidas”, a exemplo das investigações externas da Pensilvânia, que “passariam a converter essa cultura eclesial de violência, em transparência, responsabilidade, humildade, segurança e confiança conquistada”.
Segundo o comunicado, “a verdade e o arrependimento são pré-requisitos para tal conversão” no nível institucional, bem como individual, observando que “nenhum processo genuíno de cura e reforma pode começar” sem tal demonstração de arrependimento.
“Como um corpo coletivo, os bispos deram aos fiéis uma pequena indicação de que eles reconhecem e assumem a responsabilidade pela magnitude da violência e do engano.”
O Papa aceitou cinco renúncias de bispos chilenos até o momento. A declaração observa que o país tem um índice de bispos ativos semelhante ao dos Estados Unidos, embora a crise nos EUA parece ter um escopo geográfico mais amplo.
“Depois de anos de verdade reprimida, a determinação das renúncias dos bispos chilenos transmitiu aos fiéis uma mensagem que os católicos nos Estados Unidos ainda não ouviram, com uma urgência que ainda temos de testemunhar: causamos essa devastação. Permitimos isso persistir. Nos submetemos ao julgamento em recompensa pelo que fizemos e falhamos em fazer”, convoca a declaração.
Vários dos signatários são estudantes de pós-graduação ou católicos mais jovens que não tinham idade suficiente para compreender plenamente a crise dos abusos sexuais relatada pelo NCR desde os anos 80 e pelo Boston Globe no início dos anos 2000.
A declaração observa que a questão não é liberal ou conservadora. "Não surge de uma facção ou ideologia em particular, mas sim do coração de uma Igreja ferida. É uma expressão de fidelidade às vítimas, a Jesus Cristo e à Igreja, a que dedicamos nossas vidas”, afirmou a declaração.
Nota de IHU On-line: A íntegra de "Declaración de teólogos católicos, educadores, parroquianos y líderes laicos. Sobre el abuso sexual de los clérigos en los Estados Unidos", pode ser lida em espanhol e em inglês clicando aqui.
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EUA. Teólogos e líderes leigos pedem renúncia em massa de bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU