16 Agosto 2018
O meios de comunicação paradoxalmente ajudam a Igreja a esclarecer e enfrentar dolorosos problemas que foram repudiados ou negados.
A reportagem é de Anne Bénédicte Hoffner, publicada por La Croix International, 15-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
O Vatican News publicou um editorial defendendo o papel da mídia em desmascarar o silêncio sobre a crise dos abusos sexuais na Igreja Católica.
Lucetta Scaraffia, editora de Women, Church and World, suplemento feminino do L'Osservatore Romano, escreveu um editorial para o Vatican Daily intitulado “Media and abuse. An aid for clarity” (Mídia e abuso: uma ajuda para esclarecer, em tradução livre).
"Há notícias sobre a Igreja em várias regiões do mundo quase todos os dias", escreveu Scaraffia, consultora editorial do jornal, no dia 9 de agosto.
“Em geral, há poucas notícias sobre as diversas iniciativas de ajuda, assistência [às vítimas] e de apoio ao sistema judiciário, que muitas vezes contrastam flagrantemente com as ações das instituições estatais e até internacionais. Em vez disso, a mídia prefere se concentrar em queixas recentes sobre casos de abuso sexual que foram escandalosamente encobertas pelo silêncio", disse Scaraffia.
A jornalista apelou aos leitores para que não confundam o motivo de sua raiva - que não deveria ser dirigida contra a mídia - mesmo quando investigou o comportamento sexual do clero, contra o problema do abuso sexual e do encobrimento do crime cometido pela hierarquia da Igreja.
"Não devemos olhar para essa onda de interesse da mídia como um ataque malévolo à instituição", escreveu Scaraffia, também conhecida como escritora feminista.
“Há um verdadeiro escândalo envolvido”, disse ela, “que não é tanto uma questão de transgressão sexual como abuso de poder, seguido de silêncio e falta de sanções contra os responsáveis, e silêncio e impunidade que humilha as vítimas”.
“A mídia, com suas pesquisas e entrevistas, impõe suas regras aos que buscam encobrir o assunto e esquecem que as vítimas têm uma dignidade e precisam ser respeitadas e protegidas”, completou Scaraffia.
Na primavera passada, Scaraffia dedicou as páginas do suplemento feminino do L'Osservatore Romano para um inquérito sobre os problemas enfrentados pelas mulheres religiosas, que são frequentemente tratadas como trabalhadoras domésticas por funcionários do alto escalão da Cúria Romana.
Segundo Scaraffia, o número de artigos de imprensa sobre a questão do abuso significou a “decepção em descobrir as áreas obscuras de uma instituição que o mundo continua a considerar uma entidade moral significativa”.
Essa decepção também foi resultado das “intrigas e do poder que impregnam esses episódios”, ou seja, o “clericalismo” que o Papa Francisco condenou insistentemente.
Para aqueles que criticam a mídia por ampliarem a situação das vítimas, Scaraffia observou que algumas delas “tentaram lutar por justiça - sem sucesso - na instituição em que pertencem, ou seja, a Igreja”.
Sem negar a complexidade de alguns assuntos, e particularmente a dificuldade de provar abuso quando adultos estão envolvidos, Scaraffia admitiu a real necessidade em esclarecer as queixas que surgem em grandes quantidades.
"Em última análise, a mídia paradoxalmente ajuda a Igreja a esclarecer e enfrentar problemas complexos e dolorosos que foram repudiados ou negados", disse Scaraffia.
No entanto, as notícias também devem englobar “as contribuições positivas de uma instituição de 2 mil anos que necessitam ser resgatadas”.
“Este editorial representa a linha do Vatican Daily”, confirmou Scaraffia ao La Croix.
"Recebi alguns comentários positivos. Os negativos certamente também irão chegar”, completou a jornalista.
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L'Osservatore Romano elogia a mídia por lançar luz sobre abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU