07 Junho 2018
"A descoberta e a publicação da obra de Teilhard preencheram uma lacuna com uma valiosa documentação na história do acadêmico", escreve Edward W. Schmidt, S.J., em artigo publicado por America, 05-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Na edição de junho de 2018 do periódico Zygon, o artigo de David Grumett e Paul Bentley, “Teilhard de Chardin, Original Sin and the Six Propositions” (Teilhard de Chardin: Pecado Original e as Seis Proposições, em tradução livre) analisa profundamente os acontecimentos ocorridos entre 1922 e 1925. No texto de Teilhard referido pelo artigo, o jesuíta francês tenta reconciliar o ensino tradicional de Igreja sobre as origens da raça humana e o conceito de pecado original.
Trabalhando a partir de sua séria formação científica, Pierre Teilhard de Chardin, S.J., não poderia aceitar a versão bíblica da criação e do pecado original como sendo literalmente verdadeira. Teilhard escreveu um artigo de sete páginas em 1922 que discute "como o dogma tradicional da Igreja Católica em relação ao pecado original pode ser entendido à luz da teoria evolutiva moderna."
O trabalho de sete páginas de Teilhard chamou a atenção da Cúria dos jesuítas e do Santo Ofício (antecessor da atual Congregação Para a Doutrina da Fé) em Roma. Foi determinado que Teilhard assinasse seis declarações sobre pontos de seu pensamento que o Santo Ofício entendeu como conflitante com o ensino tradicional de Igreja. Foram citadas referências da doutrina em cinco das seis declarações, desde o Concílio de Trento ao Vaticano I. Contudo, a declaração número quatro não possuía apoio doutrinal. Ela afirmava que "toda a raça humana tem sua origem a partir de um protoparente, Adão". E com este apontamento Teilhard teve dificuldades, uma vez que ele estava sendo convidado a aceitar algo que não tinha sustentação científica ou do dogma oficial. No final das contas, ele assinou "com fé somente".
Estas Seis Proposições estavam escondidas desde aquela época até 2007, quando foram descobertos no arquivo dos jesuítas em Roma.
No final de fevereiro deste ano, a Universidade de Edimburgo sediou um evento para comemorar a descoberta das Seis Proposições de Teilhard de Chardin. O dia constou de palestras e discussões, liderada pelo Grumett. A principal atração era a leitura de uma peça sobre Teilhard chamada "Inquisition", de Paul Bentley. Bentley é um ator que assinou conjuntamente com Grumett o artigo em Zygon. Eles se conheceram através da British Teilhard Association, que patrocinou o evento.
Grumett é professor na Universidade de Edimburgo. Seu interesse em Teilhard remonta a seus estudos de doutoramento na Universidade de Cambridge, onde se especializou na teologia de Teilhard.
Bentley é ator, mais conhecido por seu papel como High Septon (espécie de líder religioso, nde) em "Game of Thrones". Ele atribui seu interesse em Teilhard aos tempos de estudante na escola jesuíta de Wimbledon. Em algum momento ele ficou sabendo deste documento que não era visto desde 1925. Em 2007, seu interesse o levou para Roma, onde o Papa Bento XVI só recentemente tinha concedido acesso a alguns arquivos anteriormente fechados. Ele procurou lá, mas não encontrou o documento de Teilhard. Em seguida visitou os arquivos jesuítas.
Bentley estava com a agenda apertada. Ele tirou apenas um par de dias de folga de seu papel em "Mary Poppins", no teatro West End de Londres. Era sexta-feira de tarde e ele ainda não havia encontrado nada. O tempo ficava curto e ele ficava desesperado. Então, decidiu escrever um e-mail a America, e o anjo da guarda sussurrou "censurado" em sua orelha. Ele foi até a recepção dos arquivos e perguntou se havia algum arquivo intitulado "censurado" entre os de Teilhard. Havia, e lá ele encontrou as Seis Proposições. Também encontrou uma carta de Teilhard para o Superior Geral da época, Wlodimir Ledochowski, na qual o jesuíta francês explicava e defendia seu ensaio sobre o pecado original, "Note sur quelques Représentations historiques possibles du Peche originel" (Nota sobre alguns possíveis conceitos históricos de pecado original, em português). "Eu nunca tinha ouvido falar desta carta" disse Bentley, "e eu não acho que qualquer biógrafo ou estudioso o tinha", considerou.
"Quando voltei para 'Mary Poppins'", disse, "um dos dançarinos me perguntou onde eu estivera por três dias. Então lhe disse que eu tinha ido a Roma, e como tinha encontrado as Seis Proposições. Quando terminei, ele disse, 'Paul, essa é a coisa mais legal que eu já ouvi’."
Bentley manteve sua descoberta em silêncio enquanto trabalhava na peça. Eventualmente, ele e Grumett celebraram as Seis Proposições na School of Divinity da Universidade de Edimburgo. Bentley também tem esperança de que uma produtora se interesse por "Inquisition". A descoberta e a publicação da obra de Teilhard preencheram uma lacuna com uma valiosa documentação na história do acadêmico.
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Como a resposta de Teilhard à censura do Vaticano finalmente veio à tona - Instituto Humanitas Unisinos - IHU