05 Junho 2018
De fato o WhatsApp é (foi,será) uma mídia de coordenação para ação política. É herdeiro dos fóruns e comunidades virtuais da internet, cujo objetivo é a resolução de problemas. Será sempre marcado pela coesão e uma identidade (mesmo que seja fluída e dure até amanhã). Na greve dos caminhoneiros, estive em cerca de dez grupos de Whatsapp dos "caminhoneiros". Particularmente achei MUITO estranho euzinho ter conseguido entrar neles com tamanha facilidade. Então a minha hipótese é a seguinte: uma porrada de gente ligada ao campo político de extrema direita criou uma profusão de grupos meio abertos, meio fechados, com o título no estilo "Caminhoneiros - Paralisação Já". E saiu disparando convites de ingresso em grupos maneiros, como aqueles da "Pelada de Quinta". Tentativa tosca de captura do sentido do movimento. E nós caímos, na verdade eu, igual otário. Tudo simulacro. E fácil de medir a partir da seguinte constatação: a alta velocidade de entradas e saídas de pessoas nesses grupos de Zap. Parecia até jogo de futsal. Então vamos cair na real. Nós, para stakear - on ou off - os "caminhoneiros", caímos em grupos de gente transtornada politicamente, o bloco da extrema direita. E só. E fizemos disso uma narrativa tão transtornada quanto (teorias, conceitos, notícias, especulações de todo tipo). Mas há nisso tudo algo importante: os rastros digitais que a extrema direita nos deixou como legado, por exemplo. Agora, os administradores dos "grupos de zap de caminhoneiros" estão defendendo a "intervenção popular", uma derivação da militar, aquela trucidada pelos perfis do Facebook.
Em suma: o Whatsapp segue sendo uma mídia de coordenação, ajuda muito para organizar uma pelada ou um ato político, mas segue horrível para difusão e consumo de notícias, porque qualquer textão (é cortado no meio pela interface) precisa de gente bem alfabetizada (e que leia as letrinhas pequeninas) para entendê-lo, vídeos precisam de internet de alta velocidade para baixá-lo e, por fim, qualquer áudio pode ser o do gemidão. Até agora TODOS conteúdos relevantes que passaram por lá também passaram por cá, até porque há 20 anos existe uma coisa chamada intermedia, crossmedia, transmedia, multimedia, qualquer termo da moda que chega para demonstrar (com pesquisa empírica) que um perfil tá aqui no Face, mas tá ali no Twitter, ali no Insta. E assim seguimos.
Levei uma chamada aqui no Facebook por usar a expressão "opção sexual", em vez de "orientação sexual".
Fiz a correção no texto que tinha postado, ainda que continue a achar que uma pessoa deve ter o direito a uma opção sexual também.
Mas não vou comprar briga à toa. Corrigi.
E não é que em seguida entrou na conversa o Gustavo Gindre, amigão do peito mais versado do que eu nessas modernidades, e me deu outro puxão de orelhas?
Eu o tinha como especialista apenas em telecomunicações. Mas, qual o quê?
O cara é moderno pra cacete.
Ele me ensinou que não se deve mais falar em LGBT. O correto agora é LGBTQI.
Fiquei desconcertado.
Tento me atualizar, mas estou sempre um passo atrás. Assim fica difícil.
Quando acho que estou ficando antenado com a modernidade, vem alguém pra mostrar que não passo de um velho careta e desatualizado.
E olha que eu me esforço...
Confesso que não sei bem o que fazer.
Um dado interessante sobre a compra da Eletropaulo pela italiana ENEL é que o investimento norte-americano não cresce no país depois do golpe.
E quem está fazendo a festa são estatais ou semi-estatais como a própria ENEL, várias chinesas como a State Grid, a norueguesa Statoil e a francesa Total.
De privadas mesmo são poucas, como a canadense Brookfield. Norte-americanas quase nenhuma.
Atos racistas são simplesmente abomináveis, venham de onde vierem. O repúdio é a única atitude pessoal cabível, a devida responsabilização é a única atitude institucional adequada. Quando eventualmente parte de pessoas que compartilham ambientes que integramos, de jovens para cuja formação profissional e cidadã nos dedicamos a contribuir, a aberração racista choca, dói e revolta intensamente.
Ontem à noite, ao saber das cafajestagens provavelmente ocorridas nos jogos jurídicos, pensei antes de mais nada nas pessoas afrobrasileiras que amo e quero bem. Em seguida me veio à mente a severidade inusual de minha doce tia e mãe de letras, primeira professora e alfabetizadora, quando liguei para cumprimenta-la pelo dia das mães em 13 de maio, e a data histórica entrou no assunto ao lhe contar da festa de Pai Cipriano da véspera, na casa de Tia Ira, amada mãe carioca. Emocionada, ela se referiu a "essa nojeira que foi a escravidão no Brasil" e, de modo não menos contundente, falou do racismo que persiste. É mesmo assim: enoja.
Atos desse naipe são a negação da cultura de acolhimento da instituição que integro há 34 anos, 31 dos quais como professor, a negação dos esforços que envidamos para promover práticas de solidariedade, a negação da postura da imensa maioria das alunas e dos alunos com quem convivemos. Por isso não sossegaremos, nem daremos sossego, enquanto tudo isso não for devidamente esclarecido, e as adequadas responsabilizações, quando necessárias, efetivadas. Por todas e todos os afrodescendentes, aí incluídos todas e todos os professores, funcionários e estudantes afrodescendentes da Universidade, todas e todos os parceiros afrodescendentes das comunidades com que trabalhamos. E também pela própria PUC-Rio, que sempre será a PUC-Rio de Lélia Gonzalez e de Marielle Franco, e na qual todo racista será sempre um corpo estranho.
...
Reproduzo a seguir a nota conjunta da Vice-Reitoria Comunitária e do Departamento de Direito:
"Após tomar conhecimento, pelas redes sociais, de informações sobre atos de racismo possivelmente ocorridos durante os jogos jurídicos, a Vice-Reitoria Comunitária e o Departamento de Direito da PUC-Rio decidiram constituir Comissão Disciplinar para averiguação das informações e, caso confirmada a veracidade, a apuração e a individualização das responsabilidades de membros do corpo discente. A Comissão Disciplinar será composta pelos professores Breno Melaragno, professor de Direito Penal, Job Gomes, professor de Direito do Trabalho e de Direito Desportivo, e Thula Pires, coordenadora do NIREMA (Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente) e professora de Direito Constitucional, e terá prazo de quinze dias para elaboração de relatório.
A PUC-Rio permanece fiel a seu pioneirismo na promoção da diversidade e da igualdade racial, pois foi a PUC-Rio o berço dos pré-vestibulares comunitários para negros e carentes, a primeira instituição particular brasileira a instituir política de acesso e permanência de alunos negros e carentes, mediante concessão de bolsas de estudo e auxílio financeiro para custeio de despesas de alunos bolsistas, projeto instituído por meio do FESP (Fundo Emergencial de Solidariedade da PUC-Rio), e a primeira instituição a oferecer disciplina sobre ações afirmativas, no curso de graduação em Direito.
Aproveitamos a oportunidade para reiterar o compromisso da PUC-Rio com os princípios que constituem nossa missão pedagógica e cidadã. Com base nesses princípios, acreditamos que o racismo, violência que ainda corrói a sociedade brasileira, deve ser enfrentado por medidas repressivas e inclusivas. Não tergiversamos em combater qualquer forma de manifestação de racismo por meio de punições disciplinares e preservaremos o esforço de contínua melhoria das políticas de promoção da diversidade e da igualdade racial em nossa universidade."
É claro que a prática racista dos alunos de Direito da PUC - RJ, que jogaram cascas de banana em atletas negros e chamaram uma outra atleta de macaca nos Jogos Jurídicos em Petrópolis, é indignante e tosca. Mas vou dizer a verdade do que penso: me deixa tão indignado quanto, o fato de ninguém ter reagido. Isso é bizarro!!! É um sinal ainda mais grave do buraco em que estamos metidos. Não falo só dos que foram alvo, falo de todos que presenciaram! Tinham que ter expulsado essa corja sob uma vaia ensurdecedora, com direito a socos e chutes colocados, umas pauladas também não seriam exagero. Mermão ou é tolerância zero com os intolerantes ou vamos ser engolidos por eles!
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