21 Novembro 2017
Mina Welby, depois da morte do marido, Piergiorgio, continuou o seu compromisso com os direitos civis e o fim da vida com o Partido Radical italiano. Ela é copresidente da associação Luca Coscioni. As palavras do papa não a surpreenderam. “Basta olhar para o artigo 2.278 do Catecismo. Lá já está escrito que a interrupção de procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais em relação aos resultados esperados pode ser legítima.”
A reportagem é de Francesco Grignetti, publicada por La Stampa, 17-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Então, nada de novo?
No mérito, não. Mas é claro que são palavras fortes e claras. Estou contente que, também para o papa, quando um doente tem diante de si tratamentos muito pesados, difíceis de suportar, pouco indicados e que não trazem melhorias, ele pode interrompê-los. Não se quer provocar a morte, mas se aceita a morte.
A Igreja, talvez, nunca falou tão claramente.
Repito, não há nada de revolucionário, mas finalmente o papa também falou do fim da vida. O seu discurso não inclui nem jamais incluirá a eutanásia. Mas, agora, no Parlamento, há um projeto de lei que está prestes a ir à votação final no Senado [italiano], e eu tenho esperanças nele. Ele não contém absolutamente nada que leve a pensar na eutanásia. Fala de hidratação e nutrição. Ponto.
E a eutanásia?
Por enquanto, ela não está presente. Mas, na próxima legislatura, vou promover uma lei sobre a eutanásia e vou lutar para que seja votada.
As palavras de Francisco vão abrir caminho para esse projeto de lei?
Não sei. Há quem diga que nutrição e hidratação devem ser mantidas sempre. Negam que seja um tratamento de saúde quando é um médico que decide, que diz o que colocar, quais nutrientes químicos. As sociedades científicas são muito claras ao defini-los como tratamentos de saúde. Eu digo: se uma pessoa não quer e não pode comer, impor-lhe a sonda é uma tortura. A própria pessoa que posiciona a sonda pode ser denunciada por tortura.
O papa também foi severo com a obstinação terapêutica.
Obstinação é uma palavra equivocada. Chamemo-los de tratamentos inúteis e fúteis. Os únicos que os querem são certos médicos, certas clínicas, certas empresas farmacêuticas. Perguntemos-lhes por quê. E perguntemo-nos por que, sete anos depois de uma lei institutiva, os tratamentos paliativos ainda são tão raros. Eu sei de muitas pessoas abandonadas, sozinhas, na periferia, que, por desespero, vêm pedir para ir para a Suíça para acabar com tudo.
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Eutanásia: ''Palavras claras do papa. Mas hidratar à força também é uma forma de tortura''. Entrevista com Mina Welby - Instituto Humanitas Unisinos - IHU