03 Agosto 2017
"Uma foto para os futuros livros de história: o único manifestante contra Temer em frente ao Congresso durante a votação de hoje." Maurício Santoro.
(Foto: Tacho)
As malas dos 'malas' golpistas no aeroporto de Brasília
Por Zé Dassilva
(Foto: Zé da Silva)
Há meses atrás, contra a lógica de "ser crítico ao PT, ser a favor da direita tucana", sempre dissemos que essa lógica acabaria por apoio ao Temer para evitar "algo pior". Nessa semana, o PT da Bahia transformou o que era nossa hipérbole em uma realidade, ao afirmar que "antes Temer que Rodrigo Maia" e exonerar secretários para ajudar Temer.
A piada virou realidade e a realidade virou piada.
A tragédia da esquerda desse século são os fantasmas da esquerda do século XX.
81% da população quer que o Temer seja investigado mas para Rodrigo Maia (DEM-RJ) o Congresso Nacional não tem que ouvir o povo. Ora, deve ouvir a quem então? Os empresários?
Pesquisa do Ibope
Boa parte da Câmara dos Deputados hoje dormirá tranquila.
Os 10% da direita ideológica conseguiram manter Temer e garantir as reformas.
O baixo clero (que está se lixando para o que vai votar) conseguiu vender caro seu passe.
Uma parte da esquerda garantiu o quórum, mesmo sabendo que se a votação fosse hoje o "sim" ganharia. Depois correu para a frente das câmeras, ao vivo na Globo, votou "não" e tirou onda de oposição já de olho em 2018.
Tem um vídeo com um cara da JBS levando uma mala de dinheiro para o Temer! Foi filmado! Semanada de 500 mil por 20 anos em troca de uma decisão do Cade! E nossos ilustres deputados - aqueles que aprovaram um impeachment por uma tecnicalidade contábil - estão votando "sim" e sem corar. Só tem canalha.
Pau que bate em Chico bate também em Francisco: se o estelionato eleitoral foi o anticlímax que humilhou o ecossistema governista (e apêndices) à época, hoje foi o enterro da credibilidade dos paneleiros enquanto vanguarda das ruas. Um limite do sistema foi alcançado - mesmo que como todo limite sempre possa ser ultrapassado.
O Facebook é performaticamente contraditório como a teoria universal-pragmática de Habermas. Em que pese a possibilidade de encontros cheios de significados entre pessoas distantes em nosso país e mundo, há de se constatar que o algoritmo usado acaba por moldar e formatar um tipo de modus operandi. Há certas ambientações que talvez condicione o modo de encontro. Em que pese o discurso da neutralidade nessa universalidade-pragmática, não há nem universalidade e nem pragmática em sentido amplo. A pretensa universalidade é a universalidade dos princípios de Zuckerberger e companhia... e a pragmática é a pragmática de nós, que nos submetemos à Rede Social por antonomásia... O FB vibra com seus likes, mas a democracia não cabe nos algoritmos... há sempre um algo a mais e utópico...
Não acompanho de perto o que acontece na Venezuela, mas achava que não podíamos ficar sem discutir o que passa por lá, tanto pelos impactos diretos no Brasil, na política externa, na migração etc. quanto pelo significado do chavismo e de seus desdobramentos para a esquerda contemporânea. Mas eis que o debate chega à esquerda brasileira e é um desastre, assim como foi na Argentina. Nos dividimos ainda mais, não conseguimos sair dos clichês do ditador homicida, de um lado e da heroica luta anti-impreialista de outro e o debate só serve para reforçar as posições que já se tinha. E olha que precisamos muito discutir: precisamos discutir como enfrentar o poder econômico respeitando os direitos civis; precisamos discutir como conciliar formas de democracia participativa, com autonomia da sociedade civil; precisamos discutir o valor da divisão dos poderes; precisamos discutir como a experiência populista do bolivarianismo pode se converter numa experiência divisiva e por que isso aconteceu; precisamos discutir o papel do Estado na economia de mercado; precisamos discutir as estratégias de mudança, se ganhamos mais de maneira conciliatória, como no lulismo ou de maneira mais confrontativa, como nas experiências bolivarianas; precisamos discutir o péssimo desempenho da economia venezuelana e de quem é a responsabilidade. Mas nada disso é possível discutir de maneira ponderada, com dados empíricos e elementos da experiência histórica, mesmo entre cientistas sociais. Tudo se transforma num Fla X Flu burro e as forças da polarização nos seguram para permanecermos onde estamos, como se não houvesse lugar para um debate que pudesse nos fazer caminhar, entender o que se passa e nos movermos para onde fosse mais conveniente. Não vale nem a pena tentar. Quem quer pensar e entender, é melhor o fazer em silêncio, de maneira clandestina.
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