28 Julho 2017
Com forte viés midiático, movimento, que passou anos sem promover grandes ações coordenadas, tenta se reposicionar com invasões em terras de "vilões" do poder brasileiro.
A reportagem é de Jean-Philip Struck e publicada por Deutsche Welle, 27-07-2017.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganhou o noticiário internacional nesta semana ao lançar uma série de ações coordenadas de invasões de fazendas e terrenos de "vilões" do poder brasileiro. Entre os alvos estão propriedades do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), do senador e presidente do PP, Ciro Nogueira, e do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.
Também foram alvo uma fazenda de uma das empresas do ex-bilionário caído em desgraça Eike Batista e uma propriedade de João Baptista, o coronel Lima, um amigo pessoal do presidente Michel Temer, além de um terreno do ex-ministro Henrique Eduardo Alves, um aliado do governo que hoje está preso.
Com forte viés midiático, as invasões foram feitas sob o lema de uma campanha com o título "Corruptos, devolvam nossas terras!". Os canais em redes sociais do movimento chegaram a publicar a ficha dos alvos, com fotos dos personagens atingidos acompanhadas com um selo que dizia "corrupto".
Segundo João Pedro Stédile, líder nacional do MST, a ações querem chamar a atenção para o fato de que corruptos canalizam dinheiro de desvios para a compra de terras. "Tomamos essa decisão para chamar a atenção da opinião pública e internacional", disse "Essa burguesia corrupta é tão 'desvergonzada', como dizem os espanhóis, que eles roubam dinheiro público e compram terras."
Gilmar Mauro, da coordenação nacional do movimento, também descreveu a tática do grupo. "Queremos mostrar que muitas terras no Brasil adquiridas no Brasil foram fruto do roubo e da corrupção - algo que, afinal de contas, todo o povo brasileiro paga", disse. "Nós queremos produzir nas terras dos corruptos alimentos saudáveis e gerar empregos", disse. "Iremos ocupar muitas outras fazendas e queremos o apoio e participação de todo o povo brasileiro."
Mesmo antes do início do governo Temer, fazendas ligadas a políticos foram alvo de ações do MST – uma propriedade do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), por exemplo, foi invadida em 2015, uma fazenda do filho da ex-ministra Kátia Abreu (PMDB-TO) foi alvo em 2013. Mas essa é a primeira vez em anos que o movimento lança uma iniciativa tão ampla e coordenada.
A ação ocorre também em um momento delicado para o governo, que batalha para conseguir votos necessários para derrubar a denúncia criminal contra Temer, que pode ser votada pela Câmara na semana que vem. Suspeito de corrupção, o governo Temer é reprovado por 70% dos brasileiros, segundo a última pesquisa Ibope.
Para Xico Graziano, ex-presidente do Incra no governo FHC e ex-deputado pelo PSDB e autor de diversos livros sobre a questão agrária, as ações do MST em fazendas de figuras de figuras associadas ao governo Temer e de outras figuras execradas pela opinião pública tenta pegar carona nessa rejeição para receber aplausos da sociedade. Extremamente crítico do movimento, ele classifica o MST como organização "quase-militarista".
"O MST sempre se moveu estrategicamente, com ações táticas coordenadas, desde quando se tornou uma organização quase-militarista, disfarçada em nome da justiça social", disse. Ele também afirmou que a ações são uma forma de Justiça com as próprias mãos. "Acho condenável, um absurdo tipo medieval, querer fazer Justiça com as próprias mãos. Assim vingam os justiceiros, o crime organizado como PCC. No fundo, mostra a falência do Estado brasileiro, destruído pela corrupção e pela irresponsabilidade fiscal", disse.
Com a mudança de governo em 2016, o MST, que sempre foi próximo do PT, perdeu um importante canal de comunicação em Brasília. Há duas semanas, foi aprovada uma lei que prevê mudanças na reforma agrária, como a exigência de que os assentados tenham um perfil técnico de agricultor e promover uma "emancipação" dos assentamentos após 15 anos, cortando a ligação deles com eventuais convênios do Incra. A lei deve afetar movimentos como MST, que algumas vezes recrutam parte dos seus seguidores em áreas urbanas.
Para Ariovaldo Umbelino de Oliveira, geógrafo e professor da USP, as ações recentes do MST servem para mostrar que o movimento ainda está de certa forma ativo após passar anos sem organizar grandes invasões.
"Em 2007 e 2008 o MST deixou de fazer ocupações tão amplas, houve uma queda. Mas agora o movimento avaliou que precisava dar uma reposta política, se posicionar. Eles mostram que estão vivos, que estão aqui e que podem voltar a atuar. Existem conflitos internos dentro do MST sobre a tomada de posições mais incisivas de ocupação de terras. Durante o governo do PT, eles podiam contar com um canal confortável com o governo, mas agora isso não existe mais, e eles precisam se adaptar. Ainda não é um retorno ao sistema anterior a 2007 e 2008, mas mostra que o MST volta para a oposição, fazendo ocupações políticas, que servem como chamariz".
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O MST de volta à oposição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU