11 Julho 2016
Independentemente de como se quiser julgá-los, os últimos acontecimentos vaticanos (conclusão do Vatileaks 2 e motu proprio do papa sobre os "bens temporais") marcam a parábola descendente do cardeal George Pell: de czar das finanças vaticanas a ministro sem pasta.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada no seu blog Just Out, 10-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No arco exato de dois anos. De 9 de julho de 2014 (o dia em que foi apresentado, junto com o novo presidente do IOR, Jean Baptiste De Franssu, o novo quadro econômico da Santa Sé em que a gestão do imenso patrimônio imobiliário da APSA foi entregue à Secretaria para a Economia) a 8 de julho de 2016 (a data em que o L'Osservatore Romano publicou o novo motu proprio, em que essa gestão foi definitivamente retirada pelo papa das competências de Pell).
Os mais atentos observadores vaticanos notaram que Pell não estava presente na pequena cerimônia na Sala Clementina pelo 65º aniversário da ordenação sacerdotal de Bento XVI e que, embora presente na Basílica de São Pedro no dia da Festa de São Pedro e São Paulo, quando o pontífice impõe o pálio aos novos bispos metropolitanos, ele não tinha concelebrado.
Para além dos sussurros da Cúria e da gradual preparação da nova e estável configuração das finanças vaticanas (não se trata de algo ad experimentum), o fato é que Pell não é mais czar. E não tem capacidade de despesa. Não só a gestão dos imóveis e dos bens imobiliários será competência da APSA, mas também o pagamento de salários, de suprimentos e de contratos. Pell, agora, é um ministro sem pasta.
A Secretaria para a Economia deverá apenas fornecer suporte, sugerir as melhores práticas, fornecer o esquema dos procedimentos. E isso com base no mais absoluto dos princípios anglo-saxões, em muitas ocasiões invocados por Pell, o check and balance. Quem gerencia não controla, e vice-versa. Quanto aos controles, além disso, o Escritório do Revisor Geral vai assumir uma importância cada vez maior. Tudo isso já estava contido em parte nos novos estatutos da Secretaria, do Conselho para a Economia e do Revisor Geral (22 de fevereiro de 2015), mas agora as competências são estabelecidas com o mais forte ato legislativo do papa, justamente o motu proprio.
Nessa reorganização geral, também desempenhou um papel importante o caso do Vatileaks 2, com a publicação dos dois livros best-sellers de Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi. O cardeal Pell, em agosto de 2015, no Meeting de Rímini, ou seja, alguns meses antes do lançamento dos dois livros (5 de novembro de 2015), havia anunciado que "os próximos escândalos" seriam "financeiros". A influência do cardeal australiano foi fortemente limitada, além disso, depois da batalha perdida para impor a sociedade de auditoria estadunidense PriceWaterhouse and Coopers como auditora de fato de todas as finanças do Vaticano (5 de dezembro de 2015), "passando por cima" das competências do Revisor Geral, Libero Milone (cujo computador foi hackeado em setembro de 2015, e as investigações sobre esse fato deram início às investigações sobre Mons. Vallejo, Chaouqui e o vazamento de notícias).
Nos nove meses da investigação e do processo, foram decididas pelo papa modificações de organograma e de estrutura, menos dramáticas, mas nem por isso menos importantes, e que vão na mesma direção do motu proprio "Os bens temporais". Como a promoção como núncio na África do Sul e em outros pequenos países da África austral de Dom Bryan Wells, por nove anos o número 3 da Secretaria de Estado (várias vezes chamado em causa por Francesca Chaouqui como a pessoa que a tinha contatado para o cargo de membro da Cosea), ponto de referência dos chamados "americanos", ou, talvez fosse melhor dizer, anglo-saxões, na Cúria e o rebaixamento geral da presença deles. Diante de uma retomada da influência dos "italianos" (pequeno detalhe: a versão oficial do último motu proprio é em italiano).
Ou a mudança do comandante da Guarda Suíça e do seu capelão: o servidor secreto "paralelo" da Cosea, instalado de acordo com o prefeito da Economia, o cardeal George Pell, tinha sido colocado junto à Guarda Suíça e tinha sido "construído" pelo marido de Chaouqui, Corrado Lanino, que trabalhou também para o IOR e para o primeiro nível informático de segurança de todo o Vaticano.
Em vez disso, foram renovados por cinco anos os cargos do sostituto da Secretaria de Estado, Angelo Becciu (um dos "saco de pancadas" favorito de Chaouqui) e do comandante da Gendarmeria, Domenico Giani, para cujo cargo fontes parlamentares italianas, nas últimas semanas, enfatizavam um forte interesse do general Niccolo Pollari, chefe do serviço secreto militar italiano nos tempos da segunda Guerra do Iraque e durante o governo Berlusconi, de 2001 a 2006.
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Pell, de czar das finanças vaticanas a ministro sem pasta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU