Por: André | 01 Abril 2016
O Vaticano confirma que a magistratura do Estado Pontifício abriu uma investigação sobre a reforma do apartamento vaticano do cardeal Tarcisio Bertone, ex-secretário de Estado, e que inscreveu no registro de indagados dois ex-dirigentes do hospital pediátrico Bambino Gesù da Santa Sé.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 31-03-2016. A tradução é de André Langer.
“São indagados Giuseppe Profiti e Massimo Spina”, afirmou nesta quinta-feira pela manhã o vice-diretor da Sala de Imprensa vaticana, Greg Burke, confirmando desta maneira o que indica um artigo que será publicado nesta sexta-feira no L’Expresso. “O cardeal não é um dos indagados”, precisou.
“O Vaticano – escreveu Emiliano Fittipaldi no artigo que foi antecipado na quinta-feira – abriu uma investigação sobre o ático de Tarcísio Bertone e inscreveu no registro dos indagados duas pessoas: Giuseppe Profiti, ex-presidente do Bambino Gesù e dirigente muito próximo ao cardeal, e o ex-tesoureiro Massimo Spina”. Os juízes vaticanos, escreveu o também autor do livro Avaricia (um dos imputados no processo vaticano sobre a divulgação de documentos reservados, o Vatileaks, que será retomado na semana que vem), “apresentaram delitos muito graves”, como “peculato, apropriação e uso ilícito de dinheiro”, e “já encontraram confirmações em documentos que demonstram que as obras da reforma do apartamento foram pagas pela fundação do hospital pediátrico Bambino Gesù”.
O L’Expresso publica também uma carta de 07 de novembro de 2013 na qual Profiti, ex-presidente do conselho de administração do hospital, propunha a Bertone que abrigasse “na que será a morada de Sua Eminência” uma série de “reuniões e encontros” para “tratar de projetos e instâncias” do hospital. Propunha também que a Fundação Bambino Gesù se ocupasse “tanto dos inconvenientes necessários para realizar de maneira adequada o necessário para abrigar estes encontros, assim como os gastos para a sua realização”.
A revista semanal italiana também publica a resposta de Bertone, na qual precisou: “tenho por bem confirmar que me ocuparei de que a cobertura econômica necessária para a realização das obras propostas na documentação anexa seja posta à disposição da Fundação, em mãos de terceiros, para que nada fique a cargo desta instituição”. Fittipaldi escreveu que as obras custaram 422 mil euros.
O próprio Bertone respondeu em diferentes ocasiões às acusações feitas contra ele sobre o apartamento, primeiro com uma carta de 2014 publicada nas revistas diocesanas de Vercelli e Gênova, das quais foi arcebispo; depois, quando se descobriu que o Bambino Gesù estava envolvido, com uma entrevista ao jornal italiano Il Corriere della Sera, de novembro de 2015. “Eram dois apartamentos detonados e abandonados há anos. O Governadorado comunicou-me um gasto de 300 mil euros: paguei com minhas economias por um apartamento que não é de minha propriedade e que ficará para o Governadorado”, precisou naquela ocasião o religioso salesiano.
“O apartamento tem 296 metros quadrados. E não moro aí sozinho. Moro com uma comunidade de três irmãs que me ajudam, também tem uma secretária que o Santo Padre me concedeu para escrever a memória de três papas (João Paulo II, Bento XVI e Francisco). Tem uma biblioteca, o arquivo, os quartos para todos”. Além disso, “não existe nenhum ático. Eu moro no terceiro andar e o terraço não é meu; foi reestruturado durante as obras, mas é do condomínio, no teto do edifício. É de todos os inquilinos, cardeais e arcebispos que moram ali”.
Em relação aos pagamentos, Bertone disse: “eu me considero uma vítima destes anos. Trabalhei a serviço dos Papas com fidelidade e dedicação, e também a serviço do Hospital Bambino Gesù. Fiz muito e agora me encontro com estas acusações infames. Não sei, resumindo, já estou na mira. O nome Bertone chama a atenção imediatamente”.
Em dezembro do ano passado, depois da nomeação do novo Conselho de Administração do Bambino Gesù a nova presidenta, Mariella Enoc, que substituiu Profiti, anunciou: “O cardeal Bertone não recebeu diretamente o dinheiro, mas reconheceu que tivemos um prejuízo, razão pela qual sai ao nosso encontro com uma doação de 150 mil euros”. Quanto às “outras responsabilidades do passado de tipo administrativo”, explicou Enoc, delas está se ocupando “a justiça vaticana”. O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado que substituiu Bertone, indicou que o caso “está sendo resolvido positivamente e de maneira construtiva”.
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O apartamento de Bertone. O Vaticano confirma: dois ex-dirigentes do Hospital Menino Jesus são indagados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU