Se eu fosse um padre. Mario Quintana na oração inter-religiosa desta semana

Foto: Pixabay

30 Abril 2021

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.

 

Se eu fosse um padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema ainda que de Deus se aparte
um belo poema sempre leva a Deus

 

Fonte: Mário Quintana. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.

 

Mario Quintana (Foto:  Dulce Helfer | Aqruivo pessoal)

 

Mario Quintana (1906-1994): Famoso poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Começou a esboçar seus primeiros versos ainda na sua cidade natal, Alegrete, interior do Rio Grande do Sul. Em 1919 mudou-se para Porto Alegre, onde publicou seus primeiros poemas enquanto ainda estudava no Colégio Militar. Conhecido como o "poeta das coisas simples", seu estilo foi marcado pela profundidade, sátira e primor técnico. Foi agraciado com o Prêmio Jabuti, em 1981, e, em 1983, foi fundada a Casa de Cultura Mario Quintana, no prédio do antigo Hotel Majestic, no centro da capital gaúcha, local que por muitos anos foi a casa do poeta.

Quintana traduziu mais de 130 títulos da literatura universal e é autor de uma vasta obra, com mais de 30 livros publicados. Entre eles, A Rua dos Cataventos (Porto Alegre: Editora do Globo, 1940); Porta Giratória (São Paulo: Editora Globo, 1988); A Cor do Invisível (São Paulo: Editora Globo, 1989); e Velório Sem Defunto (Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990). Apesar de ter se candidatado à Academia Brasileira de Letras por três vezes, nunca tornou-se "imortal".