O subsídio é elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF:
- Dr. Bruno Glaab
- Me. Carlos Rodrigo Dutra
- Dr. Humberto Maiztegui
- Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: Sf 3,14-18a
Salmo: Is 12,2-3.4bcd.5-6
Segunda Leitura: Fl 4,4-7
Evangelho: Lc 3,10-18
O texto do Evangelho está situado no contexto da missão de João Batista (Lc 3,1-20). É o último degrau do AT (Lc 16,16). João Batista (aqui apenas João) é a culminância da Lei e dos profetas, ou seja, agora, depois dele, algo novo inicia. João é o homem da transição. Deus o chama para iniciar esta passagem que culmina na plenitude da Revelação em Jesus Cristo. Ele, por ser filho de Zacarias, na tradição do AT seria sacerdote, mas não exerce esta função. Ele vai ao deserto, como faziam os profetas, e lá se prepara para a missão. Mesmo sendo a culminância do AT, é ao mesmo tempo a ruptura definitiva. O povo de Deus começou no deserto (Ex 16ss), depois entrou em Israel, formalizou sua prática religiosa no templo. João faz o processo inverso: vem do templo e volta ao deserto. Pode-se ver nisto Israel voltando às suas origens.
João é apresentado à luz de Is 40,3-5, em que se requer o aplainamento dos caminhos do Senhor no deserto, ou seja, a conversão em vista da salvação de Deus (Lc 3,6). Para tanto, como outrora, nos tempos de Isaías, se requer conversão para receber o novo que está para chegar.
O texto se divide em duas partes:
a) Os que procuram o batismo (3,10-14). Lucas fala de três categorias, a saber:
João, como mais tarde Jesus, não exclui ninguém. Dirige a pregação a todos indistintamente. O importante de se notar é que estas três categorias, quando pedem o batismo, não recebem de João nenhuma exigência religiosa, como frequentar o templo, rezar, observar as leis etc., mas tão somente lhes pede justiça: partilhar os bens, não praticar a desonestidade, nem violência. Conversão, para ele, são novas relações e nova mentalidade.
Como dito acima, João é o último degrau do AT, mas é também a ruptura, pois seu método difere completamente, ao menos dos pregadores do seu tempo. Os zelotes, bem como os essênios, entendiam a conversão apenas para seu grupo fechado. Estes últimos praticavam a fuga do mundo. Os fariseus primavam pela observância da Lei. João prega para as multidões, sem exclusão, nem mesmo dos cobradores e soldados. Lucas dá a entender que a novidade que se aproxima é para todos (3,6).
b) Os que procuram o Messias (3,15-18). A esperança de um messias estava arraigada no povo desde muitos séculos (2Sm 7,11bss; Is 11,1ss; Jr 23,5; Ez 34,23). Até já apareceram falsos pretendentes deste papel, como Teudas e Judas, o Galileu (At 5,36ss). Nesta perspectiva, alguns se dirigem a João (Jo 1,19; At 19,1ss; Lc 3,15ss), mas ele não tem esta pretensão. Ele anuncia alguém mais forte, do qual nem se sente digno de ser escravo (desamarrar as sandálias era tarefa de escravos). Ele batiza apenas com água (preparação). O mais forte batizará no Espírito (impele, como impeliu Jesus) e no fogo (depurador que queima a palha), o que em Lucas é também uma referência ao Pentecostes (At 2,1ss). É oportuno lembrar que os discípulos de Cristo também batizavam com água (Jo 3,22ss; At 8,36ss; 10,47). Porém, em João ainda não está o batismo do Espírito e do fogo, que só virá com Cristo; por isto mesmo, mais tarde, Paulo rebatiza os que receberam o batismo de João (At 19,1ss).
A mensagem de João, que aponta para o mais forte (Jesus), é uma alegre notícia. Esta perspectiva está em Sofonias (primeira leitura) e também em Paulo (segunda leitura). Preparar-se para a vinda de Cristo é, acima de tudo, alegrar-se, pois aquilo que se preconiza desde o AT, por Abraão, Moisés e os profetas é agora anunciado por João Batista, como realização iminente. Jesus Cristo é a alegre notícia para todos os homens e mulheres de boa vontade.