08 Junho 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 3, 20-35 que corresponde ao 10° Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
A cultura moderna exalta o valor da saúde física e mental, e dedica todo um conjunto de esforços para prevenir e combater as doenças. Mas, ao mesmo tempo, estamos construindo, entre todos, uma sociedade onde não é fácil viver de forma sã.
Nunca esteve a vida tão ameaçada pelo desequilíbrio ecológico, a contaminação, o estresse ou a depressão. Por outra parte, temos fomentado um estilo de vida onde a falta de sentido, a carência de valores, certo tipo de consumismo, a banalização do sexo, a falta de comunicação e tantas outras frustrações impedem as pessoas de crescer de forma sã.
Já S. Freud, na sua obra O mal-estar na civilização, considerou a possibilidade de que uma sociedade esteja doente no seu conjunto e possa padecer de neuroses coletivas das quais talvez poucos indivíduos estejam conscientes. Pode inclusive acontecer que dentro de uma sociedade doente se considerem precisamente doentes aqueles que estão mais sãos.
Algo disso acontece com Jesus, cujos familiares pensam que «não está no seu juízo», enquanto os letrados vindos de Jerusalém consideram que ele «tem dentro Belzebu».
Em qualquer caso, temos de afirmar que uma sociedade é sã na medida em que favorece o desenvolvimento são das pessoas. Quando, pelo contrário, as conduz ao seu esvaziamento interior, à fragmentação, à dissolução como seres humanos, deve-se dizer que essa sociedade é, pelo menos em parte, patogênica.
Por isso devemos ser suficientemente lúcidos para nos perguntarmos se não estamos caindo em neuroses coletivas e condutas pouco sãs sem estarmos conscientes disso.
O que é mais são, deixar-nos arrastar por uma vida de conforto, comodidade e excesso que provoca letargia no espírito e diminui a criatividade das pessoas ou viver de modo sóbrio e moderado, sem cair na «patologia da abundância»?
O que é mais são, continuar a funcionar como «objetos» que giram pela vida sem sentido, reduzindo-a a um «sistema de desejos e satisfações», ou construir a existência dia a dia, dando-lhe um sentido último a partir da fé? Não esqueçamos que Carl G. Jung ousou considerar a neurose como «o sofrimento da alma que não encontrou o seu sentido».
O que é mais são, encher a vida de coisas, produtos da moda, vestidos, bebidas, revistas e televisão ou cuidar das necessidades mais profundas e cativantes do ser humano na relação do casal, no lar e na convivência social?
O que é mais são, reprimir a dimensão religiosa esvaziando de transcendência a nossa vida ou viver a partir de uma atitude de confiança nesse Deus «amigo da vida» que só quer e busca a plenitude do ser humano?
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