29 Março 2018
Cristo vive para sempre. Neste dia, Aleluias se espalham por toda parte; pois a vida é mais forte do que a morte e o amor, mais forte do que o ódio. Hoje é dia de luz e de alegria, porque mulheres e homens O encontraram Vivo. Cristo ressuscitou! Está vivo, entre nós e para nós.
A reflexão é de Marcel Domergue (+1922-2015), sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do Domingo da Páscoa da Ressurreição - Ano B. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Referências bíblicas
1ª leitura: “Nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressuscitou dos mortos” (Atos 10,34.37-43).
Salmo: Sl. 117(118) - R/ Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!
2ª leitura: “Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo” (Colossenses 3,1-4).
Sequência: Cantai, cristãos, afinal: “Salve, ó vítima Pascal!”
Evangelho: “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” (João 20,1-9)
Eis o texto.
Aqui estamos novamente no centro da nossa fé, diante da sua prova definitiva, do núcleo de onde jorra a única luz capaz de iluminar as trevas que a vida nos dá para atravessar. Deus, fundamento e fonte de tudo o que existe, veio esposar a nossa morte. Ou melhor, veio esposar-nos em nossa morte. Do leito nupcial da Cruz, nasceu uma vida nova. Vida que, primeiro, manifestou-se por uma ausência. Para que tudo se mantivesse em ordem, teria sido preciso que o cadáver de Jesus tivesse permanecido enterrado em seu lugar, num dos túmulos de nossos cemitérios. Mas eis que Maria Madalena, Pedro e João não encontraram senão um túmulo vazio. Vazio e aberto! Como se, daí em diante, a morte se comunicasse com a vida sem mais nenhum obstáculo. A primeira explicação foi de que haviam levado o corpo, para colocá-lo em outro lugar. «Alguém». Mas, quem? Os discípulos, como se mostra em seguida, estavam aterrorizados demais, para terem feito tal proeza (ver João 20,19). Esta remoção haveria de ter sido clandestina. Como, então, na pressa, arrumarem-se meticulosamente as faixas de linho e o pano que lhe envolveu a cabeça? Os detalhes da versão segundo João tendem a colocar-nos em presença de um túmulo que jamais fora usado, como se a Ressurreição tivesse sido contemporânea à morte. De fato, tudo se passara na invisibilidade, num «universo» que escapa à nossa temporalidade. Ninguém viu Jesus levantar-se nem sair do túmulo. Por isso, com exceção deste evangelho que diz ter João «visto e acreditado», os outros textos todos insistem na dificuldade de crer, com referência aos discípulos. E a maior parte de nós segue por este mesmo caminho.
O evangelho não diz o que João viu, nem sequer no que acreditou. De fato, ele não viu nada. Viu que ali onde deveria ver um cadáver não havia nada. «Por que procurais entre os mortos aquele que vive?» (Lucas 24,5). Daí em diante, Jesus vai se encontrar onde se encontram os vivos. Sua visibilidade agora se passou para todos os humanos, e nos tornamos a sua morada, quando unidos pela fé. Com efeito, a fé nos faz ver o que os olhos não podem enxergar. E, todavia, é este invisível que faz existir tudo o que se vê, e o que o salva da insignificância, da sua ausência de sentido. Pois, o que pode significar de fato uma vida que acaba por se dissolver no nada? Não podemos imaginar que, dia após dia, estamos caminhando para a morte. A morte não é um termo; é sim uma via, uma passagem. Para a fé e pela fé, seguimos para a vida. A morte tem somente a antepenúltima palavra. Confessemos que a Ressurreição de Cristo e os relatos que a anunciam são uma verdadeira prova para a fé. De fato, é aí que a fé encontra a sua verdade: o que significaria uma fé que não chegasse até à vitória da vida? O que significaria um poder de Deus que fosse posto em cheque pela morte? O que seria este «Amor», se nos deixasse perecer? Recapitulada e fundada na Ressurreição de Cristo, a nossa ressurreição é necessária para que Deus seja Deus. Este é o fundamento da nossa fé, e também a sua comprovação, através deste «mistério» do qual, no entanto, só podemos tomar conhecimento por meio dela.
A menção ao medo aparece duas vezes no evangelho da Vigília pascal. E de que é preciso não ter medo? Da morte, com certeza, mas o fim do medo da morte só virá mais tarde. Neste texto, para Maria Madalena e Salomé trata-se do medo da vida, desta vida nova, que fez da morte, um segundo parto. Assim como nós, também elas estão habituadas a ver na morte o contrário da vida; e eis que estes dois «adversários» entram agora em conivência. A morte, dali em diante, está condenada a produzir a vida, uma vida para além da nossa experiência. Conforme João, esta Maria, que a Tradição sempre assimilou a Maria Madalena, já havia testemunhado a ressurreição de seu irmão Lázaro, assim, este sinal a encontrara crente. Mas, mesmo que, no texto, a ressurreição de Lázaro não tenha sido da mesma natureza que a de Cristo, manifestou-se Ele como senhor da vida e vitorioso sobre a morte, mantendo-se então fora e acima do combate a que ambas se entregavam. Agora, no entanto, mostra-se como parte interessada, imerso em seu afrontamento. Eis aí, agora, a revelação de um mundo que não se havia suspeitado. As duas mulheres permanecem mudas. Estamos acostumados de tal forma à proclamação da Ressurreição de Cristo que não nos deixamos abalar por ela. Pois acostumemo-nos antes de tudo a buscar e a experimentar o medo e a estupefação das primeiras testemunhas. Para, só em seguida, buscarmos a fé, fonte de uma alegria que está à prova da perspectiva da morte.
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Páscoa da Ressurreição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU