18 Novembro 2016
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 23,35-43, que corresponde a Solenidade de Cristo Rei ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O relato da crucificação, proclamado na festa do Cristo Rei, recorda aos seguidores de Jesus que seu reino não é um reino de glória e de poder, mas de serviço, amor e entrega total para resgatar o ser humano do mal, do pecado e da morte.
Acostumados a proclamar a «vitória da Cruz», corremos o risco de esquecer que o Crucificado nada tem a ver com um falso triunfalismo que esvazia de conteúdo o gesto mais sublime de serviço humilde de Deus para com suas criaturas. A Cruz não é uma espécie de troféu que mostramos a outros com orgulho, mas o símbolo do Amor crucificado de Deus que nos convida a seguir seu exemplo.
Cantamos, adoramos e beijamos a Cruz de Cristo porque no profundo do nosso ser sentimos a necessidade de dar graças a Deus pelo seu amor insondável, mas sem esquecer que o primeiro que nos pede Jesus de forma insistente não é beijar a Cruz mas sim carregar com ela. E isso consiste simplesmente em seguir seus passos de forma responsável e comprometida, sabendo que esse caminho nos levará mais tarde ou mais cedo a partilhar seu destino doloroso.
Não nos está permitido aproximar-nos do mistério da Cruz de forma passiva, sem intenção alguma de carregar com ela. Por isso, temos que cuidar muito de algumas celebrações que podem criar em torno da Cruz uma atmosfera atrativa mas perigosa, se nos distraem do seguir fielmente o Crucificado fazendo-nos viver a ilusão de um cristianismo sem Cruz. É precisamente ao beijar a Cruz quando temos que escutar a chamada de Jesus: «Se alguém vem detrás de mim... que carregue com a sua cruz e me siga».
Para os seguidores de Jesus, reivindicar a Cruz é aproximar-nos serviçalmente aos crucificados; introduzir justiça onde se abusa dos indefesos; reclamar compaixão onde só há indiferença ante os que sofrem. Isto irá trazer-nos conflitos, rejeição e sofrimento. Será a nossa forma humilde de carregar com a Cruz de Cristo.
O teólogo católico Johann Baptist Metz insistiu no perigo que a imagem do Crucificado nos esteja a ocultar o rosto de quem vive hoje crucificado. No cristianismo dos países do bem-estar está acontecendo, segundo ele, um fenômeno muito grave: «A Cruz já não intranquiliza a ninguém, não tem nenhum aguilhão; perdeu a tensão do seguimento a Jesus, não chama a nenhuma responsabilidade, mas retira-nos dela».
Não teremos todos de rever qual a nossa verdadeira atitude ante o Crucificado? Não teremos de nos aproximarmos Dele de forma mais responsável e comprometida?
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