17 Janeiro 2014
Antes de iniciar a seqüência da leitura de Mateus (no próximo domingo), a liturgia de hoje nos apresenta o testemunho de João sobre o batismo de Jesus e nos convida a confessar Jesus como "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 2º Domingo do Tempo Comum. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.
Eis o texto.
Leituras bíblicas
1ª leitura: Is 49,3.5-6
2ª leitura: 1Co 1,1-3
Evangelho: Jo 1,29-34
"Eis o cordeiro de Deus"
O cordeiro é a imagem daquele que todos tomam como alimento, mas ele mesmo a ninguém devora. Não é apenas inofensivo, é muito mais que isso, pois, nos fornece o sustento para a vida. É por natureza o oposto de seu predador, o lobo. Então, uma vez que o Cristo é «a imagem do Deus invisível», todos estamos convidados a corrigir a imagem deste Deus exigente, ávido por sacrifícios e por obediência cega a ponto de torná-la obsessiva para certos cristãos. Como cordeiro, Deus aparece de fato como quem nos faz existir e que mantém a nossa vida, oferecendo-nos a sua própria substância. Temos que confessar não termos conseguido superar muito bem este caráter empobrecedor da figura do cordeiro. Sempre nos disseram que Deus é Todo Poderoso, mas ao mesmo tempo nos propõem o símbolo de um animal que evoca muito mais a fraqueza. Devemos quem sabe corrigir a ideia que fazemos do poder, passando a admitir que ele pode exceder-se na fraqueza. De fato, foi aceitando ser crucificado que o Cristo suplantou a morte e, ao fazer isto, assumiu e tirou «o pecado do mundo». E é, sem dúvida, porque o poder pode passar pela pobreza que muitos textos - João 10, por exemplo - nos falam do Cristo não mais como cordeiro, aquele que obedece, mas como pastor, aquele que governa. Sim, governa, mas como governa? Não vivendo de seu rebanho, mas dando a sua vida por ele (10,11). Vencido assim este obstáculo da aparente contradição entre poder e fraqueza, podemos compreender melhor a palavra do final: Amor. O amor mais forte que a morte.
Sempre para o outro
Notemos que, nas três leituras, os personagens que falam não buscam fixar a nossa atenção neles próprios ou em sua própria doutrina, como faz a maior parte dos gurus. Na primeira leitura, o profeta faz com que fale um «servo» misterioso que Deus preparou desde sempre. E que, aliás, não existirá para si mesmo, mas para conduzir Israel de volta para o seu Deus e trazer a luz para as nações. Lucas fará o velho Simeão repetir estas mesmas palavras, no momento da apresentação de Jesus no Templo (Lucas 2,32). Na segunda leitura, Paulo declara ter sido escolhido por Deus, assim como o Servo de Isaías, mas que está aí apenas para o serviço de todos os que confessam o Cristo Jesus como «Senhor deles e nosso». Quanto a João Batista, ele é apenas uma palavra que clama no deserto das nossas desesperanças, para anunciar este outro que vem depois dele, mas que passou à sua frente. E este outro, o Cristo, nos orientará também para Outro. Irá repetir que suas palavras e suas ações não são suas, mas daquele que o enviou. E, no final, nos remeterá também ao Espírito. Somos convidados a entrar num universo em que cada um é para o outro. O Pai é para o Filho; o Filho veio para nos dar o Espírito e assim nos levar de volta para o Pai. O Espírito não tem nada de próprio, exceto o que recebeu. Imagens de Deus, nós só existimos pelos laços de amor que criamos entre nós.
É ele o Filho de Deus
Jesus, Filho de Deus: esta é uma linguagem a que estamos acostumados, ainda que a palavra filho, aqui, não tenha o seu sentido habitual. Sendo constitutiva do Deus único, se assim se pode dizer, esta filiação não se encontra no tempo. Não pode ser datada, nem mesmo a partir do nascimento de Jesus, há quase dois mil anos atrás. E a seguir, alguém pode pensar que, se a filiação é eterna, a Encarnação pelo menos aconteceu no tempo. Sim, mas julgo que a vinda do Cristo nos revela claramente uma realidade que nos habita desde sempre. É impossível imaginar Deus sem o homem, e desde que existe o homem existe a imagem e semelhança, ou seja, paternidade e filiação. Não esqueçamos que o Cristo foi declarado por Paulo «imagem do Deus invisível, primogênito de toda a criatura» (Colossenses 1,15). Exatamente por isso o nosso evangelho joga com os tempos dos verbos, fazendo o Batista dizer: «Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim.» O «mistério escondido» desde que o mundo é mundo vai ser agora manifestado. Em 2 Timóteo 1,9-10, lemos: «Essa graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, foi manifestada agora pela Aparição de nosso Salvador, o Cristo Jesus.» Foi preciso que João visse «o Espírito descer do céu como uma pomba» sobre Jesus para que o reconhecesse como aquele que deveria vir. Através destas imagens, descobrimos que, sem o Espírito, o Cristo permanece tão desconhecido para nós quanto antes do nascimento de Jesus.
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É ele o filho de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU