31 Março 2014
Um tal de Lázaro tinha caído de cama. Ele era natural de Betânia, o povoado de Maria e de sua irmã Marta.
Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume, e que tinha enxugado os pés dele com os cabelos. Lázaro, que estava doente, era irmão dela. Então as irmãs mandaram a Jesus um recado que dizia: «Senhor, aquele a quem amas está doente.»
Ouvindo o recado, Jesus disse: «Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela.» Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro. Quando ouviu que ele estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde estava. Só então disse aos discípulos: «Vamos outra vez à Judéia.» Os discípulos contestaram: «Mestre, agora há pouco os judeus queriam te apedrejar, e vais de novo para lá?»
Jesus respondeu: «Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque nele não há luz.» Disse isso e acrescentou: «O nosso amigo Lázaro adormeceu. Eu vou acordá-lo.»
Os discípulos disseram: «Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar.» Jesus se referia à morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que ele estivesse falando de sono natural. Então Jesus falou claramente para eles: «Lázaro está morto. E eu me alegro por não termos estado lá, para que vocês acreditem. Agora, vamos para a casa dele.» Então Tomé, chamado Gêmeo, disse aos companheiros: «Vamos nós também para morrermos com ele.»
Leitura do texto completo Evangelho de João 11, 1- 45 (Correspondente ao 5º Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O quinto domingo de quaresma é marcado por um dos grandes episódios do evangelho de João: a ressurreição de Lázaro. Com isso, não apenas se narra um dos últimos episódios antes da morte de Jesus (este milagre provoca ainda mais áspero ódio por parte das autoridades judaicas), mas ainda se prefigura a própria ressurreição do Cristo.
O próprio evangelista concebeu a narração deste milagre neste sentido, colocando-o como último maior sinal de Jesus, imediatamente antes da sua morte. No quarto evangelho, o episódio de Lázaro termina com a menção da Páscoa, da morte de Cristo (11,55).
Os primeiros versículos nos ajudam a recriar a cena e conhecer as personagens: Lázaro, Marta e Maria são irmãos. Lázaro é amigo de Jesus, também o são suas irmãs, uma delas foi a que ungiu os pés de Jesus.
Para definir bem a relação que existia entre eles, o evangelista disse: "Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro".
Lázaro, Marta e Maria representam a própria humanidade, a quem Jesus ama de forma singular e original. Que bom que cada um/a de nós possamos nos sentir amados/as por Jesus e nos saber seus amigos/as!
A confiança que brota de essa amizade é a que leva a Marta e Maria a acudir urgentemente a Jesus quando seu irmão fica doente. Por isso podemos perguntarnos se cada dia podemos sentir o sofrimento de nossos irmãos e irmás. Confiamos em Jesus e lhe pedimos seu auxilio?
Jesus chega a Betânia quatro dias após a morte do amigo. Para o povo da Bíblia, o quarto dia após a morte significa a perda total de esperança. No meio dessa desesperança, quando Marta ouviu que Jesus estava chegando saiu ao seu encontro e tomou a iniciativa de dialogar com ele. Enquanto Maria permanece sentada na casa, talvez ainda sem força para reagir diante de tanta dor.
O diálogo de Jesus com Marta manifesta a precariedade da esperança. Primeiro, ela pensa que teria sido necessária a presença física de Jesus para evitar a morte de seu irmão: "Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido".
E depois, de acordo com a crença daquele tempo ela acredita que apenas que seu irmão vai ressuscitar no último dia: "Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia".
Por outro lado, esse diálogo revela também o convite a crescer na fé que Jesus faz a Marta. Ela precisa deixar suas idéias e crenças anteriores sobre a ressurreição para se aderir a novidade que Ele lhe apresenta: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre. Você acredita nisso?».
Jesus se da conhecer de uma maneira nova a sua amiga Marta, Ele é o cumprimento da promessa de Deus. Não é preciso esperar ao fim dos tempos para ressuscitar, Jesus é a Ressurreição! E todo aquele que crê nele também ressuscita.
O novo passo na fé de Marta é aderir plenamente a pessoa de Jesus, e ela o faz: "Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo".
A certeza de sua fé foi tal que logo foi a buscar a sua irmã, para que ela também conhecesse a novidade que Jesus trazia. E agora, sim, Maria saiu de sua dor e foi ao encontro do Mestre.
Maria pensa igual a Marta antes do diálogo com Jesus. Caindo aos pés de Jesus, manifesta sua dor e chora.
Jesus se comove (33.38), seu choro está marcado pela solidariedade com o sofrimento humano. Ele nos revela um Deus que não é imutável, antes bem sensível diante a dor, a injustiça, a morte. Ao ponto dele mesmo vivê-las e sofrê-las para que a Vida tenha sempre a última palavra.
Para alcançar essa Vida, há que se colocar em caminho traz Jesus, e pela fé vencer toda desesperança. Assim nos narra o evangelista Jesus se dirige a onde está Lázaro e suas irmãs vão com ele e o povo também.
Jesus precisa insistir quando Marta reluta na hora de retirar a pedra do túmulo: "Eu não lhe disse que, se você acreditar, verá a glória de Deus?".
E, para deixar claro que é Deus quem obra nele e através dele, Jesus se dirige ao Pai, agradecendo que escutou sua oração pela vida de Lázaro. É Deus quem dá a vida, e a oferece a aqueles e aquelas que acreditam em seu Filho, Jesus Cristo.
Peçamos ajuda a nossa imaginação para contemplar a força libertadora da palavra de Jesus: "’Lázaro, saia para fora!’. O morto saiu. Tinha os braços e as pernas amarrados com panos e o rosto coberto com um sudário".
Com Marta e Maria, agradeçamos a Jesus, e proclamemos nossa fé nele como o Messias, o Libertador, comprometendo-nos a ser instrumentos de sua vida e liberdade, diante dos diferentes túmulos que nos encontramos no dia-a-dia.
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Mario Quintana
Leituras complementares
Cf. entrevista com Enzo Bianchi: Fenômeno cristão
Cf. entrevista com Lucia Weiler: Por uma cristologia em diálogo com a diversidade cultural e religiosa
Cf. entrevista com Evaristo Eduardo de Miranda: As águas e a sede do humano pela sua humanidade e divindade
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5º Domingo de Quaresma - Evangelho de João 11, 1-45 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU