20 Julho 2018
Direto e sem pelos na língua, crítico de seus pares e da questionada Igreja da qual faz parte. Assim é a personalidade de Felipe Berríos, o polêmico padre que há 4 anos se radicou em La Chimba, uma comunidade do norte de Antofagasta e da qual hoje faz parte de maneira ativa, organizando um centro de formação para ajudar os moradores a se inserir no mundo do trabalho.
A reportagem é publicada por CNN Chile, 18-07-2018. A tradução é do Cepat.
Em conversa com Macarena Pizarro, Berríos explicou à CHV Noticias o motivo pelo qual acredita na necessidade de uma Igreja envolvida nas bases sociais e a razão pela qual é contra o modo como esta opera hoje.
“Tem que cair essa Igreja verticalista, prepotente, dona da verdade”, disse Felipe, colocando as pessoas comuns no centro, antes dos padres. “É o momento que os leigos assumam a Igreja”, afirma.
Berríos também critica o excessivo protagonismo dos sacerdotes quando morre uma pessoa. “Por que tem que chamar um padre que irá dizer a você qualquer estupidez sobre o morto que nem conhece? Por que não a própria família que enterre esse morto? Por que não uma cerimônia que a própria família fale, leiam o Evangelho, abençoem a seu morto e o enterrem? Por que tudo tem que estar centrado no padre?”, insiste.
Do mesmo modo, é a favor não só de que os padres se casem, mas também que homens e mulheres casados possam ser ordenados como sacerdotes. “Imagino uma Igreja do futuro onde a mulher tenha um papel preponderante, onde a mulher faça parte da hierarquia, onde a mulher seja ordenada sacerdote”, aponta.
“Quando eu cheguei a esta casa, ela estava cheia de ratos. Eram ratos pesados, eu acendia a luz e o rato não saía. Então, eu ia tomar comprimido para dormir e me jogava na cama. Contei isto a um irmão e me enviou um alto-falante de som potente para espantar ratos. E os ratos não se foram, dançavam, não iam. Depois, consegui um veneno que trazem de contrabando daqui da Bolívia que se chama El Asesino, que era para que os ratos o comessem e não aconteceu nada”.
Felipe Berríos, sentado na mesa de sua meia-água, conta a Macarena Pizarro uma anedota que serve de analogia ao modo como as autoridades não levam em consideração as pessoas comuns, no momento de realizar políticas públicas.
Berríos insistiu com armadilhas, com papéis engomados e com todos os tipos de tramoias para retirar os ratos, mas não conseguia. “Um dia, desesperado, disse a uma vizinha: ‘estou cheio de ratos’, e me disse: ‘mas padre, um gato’. E me presentearam uma gatinha pequenina, que eu acreditava que os ratos a iriam comer. Mas, chegou essa gata e se foram todos os ratos. Nunca mais tive ratos, posso estar com a porta aberta e sem ratos”.
O padre reflete que tudo o que gastou em dinheiro, tempo e energia, teria poupado, caso tivesse perguntado primeiro às pessoas que vivem aqui.
“O que é preciso muitas vezes às políticas públicas é não idealizar uma coisa genial com quatro burocratas em Santiago, mas, sim, ouvir as pessoas que estão nos lugares e que estão vivendo os problemas, para o que necessitam de apoio”, finaliza.
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“Imagino uma Igreja onde a mulher seja ordenada sacerdote e faça parte da hierarquia eclesiástica”, afirma o jesuíta chileno Felipe Berríos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU