02 Dezembro 2017
Em 1977, o missionário americano Daniel Everett só ficou vivo graças à facilidade em entender línguas. O evangélico catequizava os pirahãs na floresta Amazônica quando percebeu que tramavam a sua morte. Correu para trancar a esposa, os três filhos pequenos e todas as flechas da aldeia em sua barraca. Contornou a situação e, apesar de ter escapado por pouco, resolveu ficar por ali. Tinha se apaixonado pela língua falada pelos nativos.
A reportagem é de Bruno Hoffmann, publicada por Almanaque Brasil, 27-11-2017.
A família Everett viveu 25 anos na selva enquanto o professor da Universidade de Illinois estudava a fala dos pirahãs. O que ela tem de tão incrível? É o idioma mais enxuto e simples já conhecido. Nela não há números nem nomes para as cores, elementos considerados até então fundamentais para qualquer comunicação humana. Como aos pirahãs só importa o presente, eles não usam tempos verbais. Também não formam orações subordinadas.
Em 2008, Everett lançou o livro Don’t Sleep, There Are Snakes: Life and language in the amazonian jungle (“Não Durma, Há Serpentes: Vida e linguagem na selva amazônica”, em tradução livre, editado pela Vintage Books USA), que agitou o mundo dos linguistas e repercutiu em jornais da América Latina à Europa, por ter posto em xeque teorias de grandes linguistas como Noam Chomsky.
Só que a missão inicial de Everett terminou frustada. Além de não ter conseguido traduzir a Bíblia para a língua pirahã, ele é que foi convertido pelos índios. “Fiquei no meio do mato conversando com um grupo de pessoas que nunca manifestaram interesse nesse Deus do qual eu falava. E vi que intelectualmente eu não podia mais sustentar essa crença em mim”.
A resposta dos pirahãs sobre o começo do mundo e a própria origem explica até por que não usam passado ou futuro: “Tudo é o mesmo, as coisas sempre são”.
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Missionário tentou catequizar nativos e acabou catequizado por eles - Instituto Humanitas Unisinos - IHU