30 Agosto 2017
Depois de ter sido vítima de violência sexual cometida por um motorista da Uber, Clara Averbuck afirma que primeiro passo foi romper silêncio e transformar fato em alguma coisa positiva para encorajar outras mulheres a falarem.
Clara Averbuck fala sobre a violência sofrida em vídeo postado nesta terça-feira (29). | Foto: Reprodução Facebook
A reportagem é de Luiza Sansão e publicada por Ponte Jornalismo, 29-08-2017.
A escritora Clara Averbuck, que denunciou ontem (28/08), em um post no Facebook, ter sido estuprada por um motorista da Uber na noite anterior, afirma que, embora não desencoraje outras mulheres a realizarem denúncias formais em casos de violência sexual, não decidiu ainda se irá prestar queixa na Delegacia da Mulher, como já havia sinalizado no post, que repercutiu o dia todo ontem nas redes sociais e já tem mais de 18 mil reações e 2.740 compartilhamentos.
Em vídeo postado às 12h25 desta terça-feira, é possível ver o hematoma no olho esquerdo de Averbuck, que enfatiza não confiar em delegacia e rebate a cobrança para que ela denuncie formalmente a violência de que foi vítima, afirmando tratar-se de uma decisão sua.
Em entrevista à Ponte, ela explica por que não fez o exame corpo de delito (perícia para apontar a materialidade do crime). “Meu corpo de delito é o quê? Um olho roxo. Eu não tenho como provar, não tenho sêmen, não tenho nada. Por causa do marco civil da internet vou ter que entrar com uma ação para ele me liberar os dados dele, vai dar uma baita trabalheira. Eu acho que posso trabalhar em outra frente. A agressão que aconteceu não vai me desacontecer”, afirma.
Para Averbuck, é injusto colocar sobre a mulher vítima de violência sexual a responsabilidade de ainda ter que tomar esse tipo de providência. “Eu não desencorajo nenhuma mulher a fazer B.O., eu encorajo que elas façam isso com advogado, uma pessoa que manje muito do negócio. Agora, colocar essa responsabilidade nas minhas costas é uma injustiça, porque estou fragilizada, sendo bombardeada nas redes sociais e não quero nem sair da minha casa agora. Que dirá sair da minha casa para ir à polícia”, diz.
“A gente sabe que esse sistema não funciona, o cara sabe onde eu moro. Ele parou na rua do lado, porque já estava mal-intencionado. Mas sabe, é claro que tem que colocar alguma responsabilidade em mim, tem gente que está com pena do motorista do Uber, ‘coitadinho, que perdeu o emprego’, e eu que me foda”, ironiza a escritora, que “jamais esperava que esse caso tivesse essa repercussão toda”.
“Eu não desencorajo que as mulheres vão à delegacia, acho que, especialmente em casos de violência doméstica, tem que ir, tem que se munir de um aparato legal, porque às vezes na própria delegacia eles não conhecem a lei. Várias vezes eu já fui lá e disseram que tal coisa não se enquadrava na Maria da Penha, mas se enquadrava”, critica Averbuck. “Por enquanto, estou tentando transformar isso que me aconteceu em alguma coisa positiva, não só para outras mulheres terem coragem de falar sobre, porque as pessoas acham que hashtag não muda o mundo, mas muda, sim. Muda, sim. Quem fala isso não sabe como nosso silêncio nos mata. Falar já é um primeiro passo. Foi o que eu fiz. Os outros [passos] eu vou pensar mais pra frente”, finalizou, referindo-se à criação da hashtag #MeuMotoristaAbusador, para encorajar outras mulheres a denunciarem abusos.
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“Nosso silêncio nos mata”, diz escritora que denunciou estupro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU