25 Julho 2017
O excesso de sobressaltos da política brasileira nos últimos 30 anos tem se tornado um obstáculo para quem se lança a abordagens aprofundadas de episódios relevantes do período. Resta pouco tempo para recontar o passado, e refletir sobre ele, quando o fato novo se impõe. E, não raro, a notícia de hoje nos leva a reinterpretar a notícia de ontem.
A reportagem é de Naieff Haddad, publicada por Folha de S. Paulo, 23-07-2017.
Talvez essa dinâmica frenética tenha contribuído para um tratamento insuficiente da Constituinte em livros jornalísticos. Sobre esse tema, há um sem-número de obras de caráter jurídico, mas faltam narrativas que se destinem a um público mais abrangente.
Nesse sentido, o lançamento de "1988: Segredos da Constituinte", de Luiz Maklouf Carvalho, merece celebração. Não é o livro definitivo sobre a "Constituição Cidadã", como a batizou Ulysses Guimarães, o grande artífice do texto constitucional. Esta obra ainda está por vir.
Mas o trabalho de Maklouf joga luz sobre erros e acertos construídos ao longo de 20 meses de Assembleia Constituinte por meio de 43 entrevistas exclusivas com a maior parte dos protagonistas do processo.
A Constituição, aliás, é tema atualíssimo. O Ministério Público, que hoje alcança máxima visibilidade com a Operação Lava Jato, só ganhou poder, de fato, em 1988.
Outro mérito do livro é reavaliar a efetividade das ações dos parlamentares envolvidos. Alguns personagens chegam engrandecidos ao fim da leitura de mais de 500 páginas –Ulysses é o principal exemplo. Outros saem menores, por razões distintas.
Um deles é José Sarney, que herdou a Presidência da República após a morte de Tancredo Neves. Há abundância de relatos a respeito do modus operandi do maranhense. Para que a Constituinte aprovasse os cinco anos de mandato para o chefe do governo, as concessões de rádios país afora foram usadas largamente como moeda de troca. Sarney é criticado, inclusive, pelos ministros que integraram seu governo, como Bresser-Pereira.
Mário Covas (1930-2001), então líder do PMDB, também é alvo de diversas ressalvas. O comportamento irascível surge como o menor dos problemas. Entrevistados que eram próximos de Covas atribuem a ele o veto a uma proposta que poderia viabilizar a implantação do regime parlamentarista.
As referências a Lula tampouco são elogiosas, independentemente do matiz ideológico de quem fala a Maklouf. Somam-se a atuação acanhada –o líder petista nunca se entusiasmou pela atividade parlamentar– e a inflexibilidade programática. Lula, aliás, se recusou a conceder entrevista ao autor.
A sucessão de entrevistas consolida sínteses, mas também evidencia contradições. Elas formam uma grande narrativa, mas são instigantes ainda que vistas isoladamente.
A variedade e o peso dos entrevistados –do general Leônidas Pires Gonçalves ao sindicalista Jair Meneghelli, de Fernando Henrique Cardoso a Delfim Neto– pouco valeriam não fosse o preparo e a sagacidade do entrevistador. Maklouf nos ajuda a entender o Brasil de ontem e de hoje.
1988: Segredos da Constituinte
Autor: Luiz Maklouf Carvalho
Editora: Record (504 págs.)
Quanto: R$ 64,90
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Livro joga luz sobre personagens da Constituinte de 1988 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU