15 Julho 2017
Por que as Igrejas católicas da África Central estão diretamente ameaçadas por determinados regimes na África?
A entrevista com Lauren Duarte, coordenador do coletivo “Viremos a página” ("Tournons la page") foi publicada por Urbi et Orbi Africa, no dia 11 de julho de 2017. A tradução é de Susana Rocca.
Várias Igrejas católicas da África Central estão diretamente ameaçadas pelo poder político. Entre o silencia e a toma da palavra, a reação dos responsáveis católicos está longe de ser uniforme.
Por que as Igrejas católicas da África Central estão diretamente ameaçadas por determinados regimes na África?
A Igreja é retirado nos países onde os poderes não suportam ser resistidos. Eles percebem toda resistência como uma ameaça. Frequentemente pensou-se que a repressão da Igreja católica pelos poderes de turno estava ligada às eleições. Mas não é assim. Seja perto das eleições ou não, os bispos constituem uma força de pressão, como outras organizações da oposição.
Em alguns países da África, a Igreja não é mais uma instituição intocável como era antigamente. É mais fácil atacar um poder atualmente do que 20 ou 30 anos atrás. A lógica repressiva de alguns governos fragiliza, evidentemente, a possibilidade de avançar.
Considerando a posição do Vaticano, não fica claro que esteja encorajando abertamente os bispos para agir nesse sentido. A Exortação apostólica Africae munus de 2011, que exortou à Igreja africana a agir em prol de uma maior justiça na sociedade, aparece como uma carta de intensões. No entanto, a preocupação com a governança, a participação cidadã e a ideia de dignidade estão cada vez mais apoiadas pelas igrejas locais, principalmente por parte da Rede Justiça e Paz.
As Igrejas africanas são solidárias entre elas para suportar as pressões?
A Igreja é retirada nos países onde os poderes não suportam ser resistidos. Eles percebem toda resistência como uma ameaça. Frequentemente pensou-se que a repressão da Igreja católica pelos poderes de turno estava ligada às eleições. Mas não é assim. Seja perto das eleições ou não, os bispos constituem uma força de pressão, como outras organizações da oposição. As instâncias católicas regionais, como a Associação das Conferências episcopais da região da África central (Acerac), são relativamente frágeis. Assim, os bispos têm frequentemente problema para sair de uma lógica estritamente nacional. Neste momento, muitas conferências episcopais olham para a República Democrática do Congo (RDC), que é considerada um modelo, mas não há nenhuma ação em comum. Os sinais de solidariedade que existem são levados adiante pelas Caritas do continente, que tentam se estruturar para trabalhar de uma melhor maneira estando juntas.
Quais são os principais inimigos da Igreja católica?
O primeiro inimigo da Igreja católica é ela mesma. Se ela não renova a sua abordagem, em um continente onde 78% da população está com menos de 18 anos, ela corre o risco de não ser mais ouvida. É preciso que ela aprenda a dirigir-se aos jovens, caso contrário ela corre o risco de perdê-los. Ela também deve tomar cuidado para não se dividir. Uma conferência episcopal enfraquecida vai ter muita dificuldade de falar.
Além disso, o forte crescimento dos pentecostais, que muitas vezes se dá pela promoção de lógicas muito individualistas, também contribui para enfraquece-la.
Finalmente, ela está diretamente ameaçada pelos regimes ditatoriais. Eles a pressionam através da violência e a obrigam ao silêncio, para que se torne inofensiva. A lógica repressiva está agora presente na África central.
Qual é o papel dos leigos?
Mesmo que constatamos um maior poder dos leigos, a Igreja católica em África é ainda muito clerical. As cargos-chave são mais frequentemente ocupados por padres. Dito isto, as redes acontecem onde se misturam os movimentos de Igreja e a sociedade civil, os leigos e os clérigos como o coletivo 'Viremos a página' (Tournons la Page) que eu coordeno. Cada vez colocamos mais antenas em outros países africanos.
Em que grandes figuras a Igreja da África pode apoiar-se para comprometer-se no campo político?
Além de Dom Luis Portella, bispo de Kinkala (Congo - Brazzaville), podemos citar o Cardeal Laurent Monsengwo, Arcebispo de Kinshasa, mas também o Padre Donatien Nshole, secretário-geral da Conferência Episcopal do Congo (RDC). Eu poderia ainda mencionar o Padre Gustave Sanvee, o secretário-geral da Comissão Justiça e Paz no Togo, assim como Dom Bienvenu Manamika Bafouakouahou, Bispo de Dolisie (Congo Brazzaville).
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“Na África, a Igreja não é mais uma instituição intocável” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU